Reprimir ou conscientizar Para conter a doença até que a vacina atue, só nos resta a repressão
Em São Paulo, torcedores de futebol promoveram grandes aglomerações na vitória do Palmeiras na Taça Libertadores da América. As autoridades, mesmo sabendo desses planos com antecedência, nada fizeram para dispersar multidões sem máscaras, que aos gritos histéricos, esparramavam a covid pelas ruas da cidade.
Dois dias depois, outra cena de ajuntamento irresponsável aconteceu. Agora, um grupo de mais de 300 pessoas, também comemorando uma vitória, aglomerou-se em Brasília. Eram os deputados federais festejando a eleição do Presidente da Câmara, Arthur Lira.
Havia uma grande diferença entre os dois grupos: o primeiro era formado por jovens, a maioria pobres e de baixa escolaridade, vestindo bermudas e camisetas de times. O outro grupo – o dos 300 de Brasília, que deveriam ser exemplo para o País – em nada parecia com o primeiro. A maioria tinha mais de 50 anos, vestia ternos bem cortados e gravatas caras, tinha boa escolaridade e grande projeção social.
Antes de nos reunirmos sem perigo, temos ainda um longo trecho a percorrer
Daqui a 10 ou 15 dias veremos o resultado da imprudência dos jovens torcedores do Palmeiras e dos austeros Deputados Federais. Além dos riscos de contraírem a doença a que se expuseram, podem colaborar com a disseminação do vírus no País.
Antes de nos reunirmos sem perigo, temos ainda um longo trecho a percorrer. Primeiro vamos enfrentar a falta de vacinas, depois a lentidão na aplicação, em seguida aguardar a ação dela no corpo humano.
Enquanto isso, no meu entender, não adianta insistirmos na conscientização. Estas ações já estão exauridas e não fazem mais nenhum efeito. Depois de quase um ano de pandemia ninguém precisa ser lembrado do que deve fazer.
Para conter a doença até que a vacina atue, só nos resta a repressão. O poder público não pode se omitir. Há necessidade de pôr as forças policiais nas ruas para cumprir os decretos. Muitos prefeitos assinam esses documentos para se eximirem de responsabilidades formais, mas não fiscalizam sua aplicação para não contrariar parte da população.
Dizem que pessoas normais aprendem com a própria experiência; os inteligentes com a experiência alheia e os tolos não aprendem nunca.
Experiências alheias não nos faltam. O mais recente é o episódio de aglomeração que aconteceu em Manaus. Lá as autoridades decretaram o fechamento do comercio em final de dezembro, o povo não aceitou e fez o maior protesto nas tuas. Quinze dias depois estavam – e estamos porque o vírus se espalhou pelo País - pagando o preço da irresponsabilidade.
Também não aprendemos com o exemplo negativo da Europa, que nos antecedeu na doença e no repique dela. Ignoramos ainda as ações bem sucedidas da China no controle da pandemia. Assim, imitamos o procedimento errado da Europa e desmerecemos a ação acertada da China.
Sobre as experiências particulares é bom dizer que estamos entre os três estados com maior número de mortos por 100 mil habitantes, só perdemos para o Amazonas e o Rio de Janeiro.Será que somos tolos a ponto de não aprendermos nem com a própria desdita?
Não há mais chance de conscientizar os negacionistas incivis. O que não entenderam em um ano de pandemia, nunca assimilarão. Se as autoridades não acabarem com as aglomerações, vamos repetir a tragédia de Manaus.
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor
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