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Opinião
Sexta - 12 de Fevereiro de 2021 às 11:24
Por: José Pedro Rodrigues Gonçalves

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Esta é, certamente, a palavra mais adequada para o contexto histórico e socio sanitário que estamos vivenciando no Brasil. Indignação geral, especialmente para aqueles que são dotados de um sentimento de empatia e de respeito ao ser humano que sofre. E como sofrem, muitos brasileiros!


A mortandade continua sua marcha acelerada; mais de mil brasileiros morrem todos os dias, mas não morrem simplesmente, padecem muito, antes, algo só comparável às torturas da idade média quando os condenados eram esfolados vivos em praça pública.


No Brasil do Século XXI são torturados pela falta de ar, pela asfixia lenta e progressiva, algo que já comparei com o garrote vil. Além da falta de ar, algo indescritível com palavras, mas terrivelmente concreto para quem padece. Ainda tem a família que assiste a este drama cruel sem condições de fazer qualquer coisa, pois a grande maioria do povo passa também por extremas dificuldades financeiras, muitos por ter perdido o emprego, não ter acesso a nenhuma fonte de renda e vive da ajuda de alguns abnegados.

Na Nova Zelândia o vírus também atacou, mas foi confrontado por uma mulher determinada, séria, humana, desprovida de interesses egoísticos e dotada de uma espírito humanitário


Por que isso aconteceu? Por favor, não coloquem a exclusiva culpa no vírus. Na Nova Zelândia o vírus também atacou, mas foi confrontado por uma mulher determinada, séria, humana, desprovida de interesses egoísticos e dotada de uma espírito humanitário e de uma dignidade inquestionável.


No Brasil, o vírus encontrou um grande aliado para desempenhar magnificamente o seu mister, matar pessoas, o Governo Federal. Antes de qualquer coisa, uma aviso aos soldados do suserano – olhem no espelho, façam uma pequena e sincera reflexão mirando os próprios olhos, perguntem à própria consciência – o Governo agiu corretamente? O Ministério da Saúde assumiu sua missão?


Se tiverem um mínimo de humanidade perceberão que a mortandade poderia (e deveria) ser evitada se tivessem obedecido a Constituição Federal que diz com todas as letras que a “saúde é um direito do povo e um dever do Estado”. Qualquer leigo sabe o que é dever, cujo sinônimo principal é obrigação. Então por que o Ministro não assumiu o seu dever e providenciou vacinas como todas as outras nações fizeram? Em agosto do ano passado recebeu uma proposta da Pfizer para adquirir vacinas, mas o senhor ministro com sua sabedoria de saúde pública entendeu que não precisava disso e ainda questionou as exigências da farmacêutica.


Ora bolas! Para que precisarei de vacinas se tenho milhões de comprimidos de cloroquina? Deve ter imaginado o futuro prêmio Nobel de medicina, especialista em logística (ou seria guerra da selva?). Agora, que as vacinas chegam a conta-gotas, ainda tem outro problema. Por falta de um planejamento centralizado, que definisse a distribuição dessas gotinhas esparsas de modo adequado e atendendo as prioridades dos grupos prioritários, fez a zona, e a zona foi feita.


Cada prefeitura adequa suas regras aos seus interesses, criando situações em que balconista de farmácia vira profissional de saúde da linha de frente da Covid 19. Com todo respeito a esses profissionais, mas sou um exemplo concreto disso. Tenho mais de 75 anos, sou profissional de saúde e aguardo em meu confinamento, na minha prisão domiciliar sem tornozeleira eletrônica, a minha vez de ter acesso à vacina, respeitando as regras morais que deveriam ser estabelecidas pelo Ministério da Saúde, por ser sua obrigação constitucional. A partir dessa omissão criminosa, o caos (ou seria a barbárie?) foi instalado nesta Pátria desalmada e muito armada pelos criminosos do Poder desprovido de pudor.


Só nos resta a indignação!

José Pedro Rodrigues Gonçalves é médico



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