Um golpista à solta Está na hora dos demais poderes colocarem limites aos estragos presidenciais
O bravateiro do nosso presidente está ameaçando o STF com um golpe; quer obrigar ao tribunal a aprovar o pedido escandaloso de intervenção que quer realizar sobre os Estados. Ao invés de se unir aos esforços dos governadores e prefeitos, ou tomar a liderança no combate à doença que aflige a nação, ataca e gasta tempo e dinheiro tentando desestabilizar a república e a federação, tentando sobrepor sua autoridade a autoridade dos governadores.
Seu discurso aos correligionários e apoiadores de que terá que tomar “medidas duras” é mais uma bravata e ameaça ao STF, à sociedade e até mesmo ao legislativo, caso não se aprove seu recurso. Torce secretamente para que haja alguma convulsão social para poder utilizar dos recursos extraordinários de que dispõe a constituição para essas ocorrências. De fato, está incitando as pessoas a invadirem e saquearem supermercados e demais estabelecimentos comerciais.
Enquanto a sociedade civil, a comunidade científica e as autoridades estaduais e municipais, cientes dos sérios problemas que estamos enfrentando na saúde pública, tentam mitigar o colapso à vista, caso não se faça nada e as pessoas continuem circulando, o presidente fica incitando a desobediência civil, o desrespeito as leis e as políticas de saúde pública. Com mentiras que propaga pela internet, faz seus seguidores acharem que os números escandalosos da doença pareçam notícias falsas propagadas pelos governadores, fake news.
O presidente fica tirando sua responsabilidade sobre os eventos, e buscando culpar os estados e municípios
Estamos quase sem remédios nas UTIs para poder entubar as pessoas, estamos quase sem oxigênio nos hospitais, estamos com os hospitais, tanto nas enfermarias como nas UTIs quase lotadas, e se continuar nesse ritmo de contágio em breve não haverá mais leitos aos doentes, e Bolsonaro negando estes fatos e estimulando que as pessoas saiam às ruas, voltem às atividades normais, como se estivéssemos em condições normais e não vivermos numa pandemia que está escapando ao controle das autoridades públicas municipais e estaduais, por incitamento federal.
Enquanto aumenta o contágio nacional, transcendendo aos instrumentos sanitários disponíveis e nos transformando no país com mais problemas de saúde no mundo e com a pior política pública para a pandemia, o presidente fica tirando sua responsabilidade sobre os eventos, e buscando culpar os estados e municípios. Está mais preocupado com sua eleição e salvar sua família dos crimes que cometem do que em salvar a população. Para ele é mais importante fazer sua campanha política do que enfrentar os problemas do país, fazendo mais políticas populistas, do que políticas sanitárias ou econômicas. Não é apenas a saúde que está um desastre, mas a economia, a questão do meio ambiente, dos direitos humanos, a
educação, a dívida pública além do fato de usar e abusar de uma lei da ditadura de segurança nacional, constantemente utilizada para ameaçar todos que realizem críticas ao seu governo.
Não suporta críticas, não quer debater, e apenas ofende todos que o indagam de suas políticas e práticas pouco republicanas. Bolsonaro é uma ameaça a sociedade civil e trama um golpe de estado, para poder utilizar da tirania para impor suas ideias atrasadas e retrógradas. O fato é que mais uma vez veio ameaçar o STF, para que se curve à sua vontade, caso contrário tomará “medidas duras”, com o que ele afirma ser “seu” exército. Até onde sei, o exército está a serviço da nação, não para uso privado de governantes.
Está na hora dos demais poderes, tanto o STF como o congresso, e também o exército, colocarem limites aos estragos presidenciais. Bolsonaro continua agindo contra a nação, contra todos e contra as instituições republicanas, e se o judiciário e o legislativo não colocarem um ponto final no abuso de poder presidencial, permitirão que o golpe de Estado se concretize rapidamente. Tenham certeza, que se as urnas não o reelegerem, com certeza Bolsonaro dará um golpe e com apoio das forças armadas, que também deveriam estar colocando limites a fala presidencial, principalmente quando as chama de “meu exército”; até quando serão propriedade dele? Quando se colocarão como instrumento de Estado e não do governante?
Como nos Estados Unidos, devem dizer ao presidente que não estão lá para servi-lo, como queria o antigo e felizmente defenestrado presidente Trump, que recebeu um rotundo não do exército quando solicitado que intercedesse a seu favor.
ROBERTO DE BARROS FREIRE é professor do Departamento de Filosofia da UFMT.
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