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Opinião
Sábado - 27 de Março de 2021 às 07:00
Por: Luiz Henrique Lima

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Para qualquer observador imparcial, a gestão do enfrentamento da pandemia da Covid-19 no Brasil é, no mínimo, desastrosa. O número de vítimas fatais fala por si. Depois de um ano em estado de calamidade pública, vivemos o pior momento de todos.

A ausência de uma coordenação nacional, impulsionada pelo negacionismo de importantes autoridades, desorientou e atrapalhou governadores e prefeitos que tentaram implementar medidas de prevenção, mas com limitações e às vezes de forma desarticulada e conflituosa.

Foram flexibilizadas regras fiscais e jurídicas visando agilizar o processo de contratação de insumos, obras e equipamentos, mas isso não foi suficiente, como revelou a ausência de oxigênio hospitalar em Manaus e o desabastecimento de unidades de terapia intensiva Brasil afora.

Assistiu-se de tudo. Todos os erros possíveis foram praticados, alguns de forma insistente. Vimos kits de testagem perdendo o prazo de validade em depósitos. Vimos vacinas sendo enviadas para o endereço errado. Vimos o mau exemplo de dirigentes provocando aglomerações sem o uso de máscaras.

Vimos o vexame na aquisição das vacinas. Em dezembro, quando outros países iniciaram a vacinação, o então ministro declarou que só compraria vacinas “se houvesse demanda”. Em seguida indagou o porquê da pressa e da angústia em vacinar. Pouco antes de ser exonerado, apresentou um cronograma de vacinação fantasioso, que precisou ser corrigido para menos diversas vezes numa semana.

Para qualquer observador imparcial, a gestão do enfrentamento da pandemia da Covid-19 no Brasil é, no mínimo, desastrosa

Dois erros capitais foram cometidos. Primeiro na adesão ao Covax, iniciativa de vacinação global da OMS, quando poderia ter sido reservada uma cota correspondente a 50% da população e optou-se pela cota mínima de 10%. As remessas da Covax já estão ocorrendo, mas o Brasil poderia estar recebendo cinco vezes mais doses se tivesse feito a opção correta.

Segundo: ao recusar a oferta feita pela Pfizer em agosto do ano passado e que poderia nos ter garantido vacinas desde dezembro. A negociação voltou a ser feita agora em março, mas as vacinas da Pfizer só chegarão a partir de junho. Quantos dos brasileiros que morreram e morrerão até lá poderiam ter sido salvos se a vacinação tivesse começado antes e de forma mais ampla?

Tanto sofrimento deve nos conduzir a coletivamente aprender algumas lições. Empatia, solidariedade, respeito à ciência, espírito público, por exemplo. Creio que a maior parte dos brasileiros tem demonstrado grandeza d’alma nas difíceis circunstâncias que enfrentamos.

Um resultado importante, necessário e urgente para todos seria a descoberta de uma vacina contra os maus gestores. Refiro-me àqueles que você, leitor, está pensando. Eles mesmos. Os autoritários, os corruptos, os incompetentes. Os que têm medo de decidir, preguiça de estudar, incapacidade de ouvir.

Aqueles cuja soberba os impede de reconhecer erros e corrigir rumos. Aqueles que são incansáveis na mentira e insuperáveis no insulto e no deboche. E aqueles que combinam todas essas características e mais um pouco.

Essa vacina existe, mas ainda não foi suficientemente testada e aplicada em grande escala no Brasil. Na realidade, essa vacina só funciona se for usada simultânea e permanentemente por dezenas de milhões de cidadãos. Essa vacina é a democracia e deve ser praticada em doses diárias.

Como em toda vacina, há alguns efeitos colaterais adversos. Parcela da população é alérgica a práticas democráticas e em alguns segmentos gera irritações na pele e desconforto mental.

Além disso, a vacina não produz efeitos imediatos. Ao contrário, demanda tempo, paciência e determinação para resistir a retrocessos parciais. Como outros medicamentos, essa vacina só funciona bem se acompanhada de mais cuidados, como o fortalecimento e a independência dos órgãos de controle e a punição aos responsáveis pela má gestão.

Mesmo assim, a democracia é a vacina que temos.

Então, leitor amigo, vamos vacinar o Brasil contra os maus gestores?

Luiz Henrique Lima é auditor substituto de conselheiro do TCE-MT.



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