Lockdown de araque “Estamos no mato sem cachorro”. Esse ditado rural define bem nossa dificuldade
“Estamos no mato sem cachorro”. Esse ditado rural que sugere uma situação extrema de não ter a quem recorrer, define bem nossa dificuldade diante da pandemia descontrolada da Covid-19. Se o tal comitê de gerenciamento da crise sanitária, gestado no começo da semana e aceito sem nenhum entusiasmo pelo Presidente, não for implantado imediatamente e funcionar como precisa, “a vaca vai pro brejo”, ou melhor, não a salvaremos, por que atolada ela já está.
Esse comitê, se instalado com pessoas que tenham o compromisso de cuidar da pandemia sem viés político, isto é esquecendo-se das desavenças de Bolsonaro com Lula, Dória com Caiado, Mauro com Emanuel etc, tem a possibilidade de dar um rumo para o combate da doença nesse momento dramático.
Mesmo sendo verdade que não devemos esperar muito dos políticos, pois eles histórica e culturalmente sempre priorizam os interesses pessoais, resta-nos, ainda sonhar com uma solução que nos livre de nos tornarmos o campeão mundial de mortes por covid.
Qual seria essa solução? Não precisa ser um sanitarista para ter uma ideia do que deve ser feito, basta observar os exemplos bons e maus. O Brasil não aprendeu com o exemplo doméstico do Amazonas e está indo pro mesmo caminho. A lição dos Estados Unidos é contundente: foi só tirar o Trump que tudo se arranjou. O Biden, que havia prometido aplicar 100.000 doses da vacina em 100 dias, o fez em 58. Diante do sucesso, dobrou a meta.
“Estamos no mato sem cachorro”. Esse ditado rural que sugere uma situação extrema de não ter a quem recorrer, define bem nossa dificuldade
A vacina – todos sabem – é o que realmente funciona e ao fim e ao cabo ela se imporá. Mas é um remédio, cujo resultado demanda tempo e não consegue estancar de imediato o número de mortes. Primeiro pela escassez, no caso do Brasil definitivamente causada pela omissão do Presidente, que preferiu ficar ridicularizando a vachina do Dória e recusando ofertas de compra das farmacêuticas, quando havia possibilidade de fazê-la.
Como a vacina não tem o poder de reduzir imediatamente o contágio geral, precisamos dar as condições possíveis para que a pessoas permaneçam vivas, enquanto aguardam sua dose e que, aplicada, produza a imunização.
Como isso se faz? Sabendo que o contágio desta doença se dá principalmente durante reuniões sociais, o caminho é evitar, por algum tempo, que as pessoas se encontrem.
Sei que é muito mais fácil de escrever isso, do que fazer. Basta ver que aqui em Mato Grosso o governador tentou antecipar os feriados, medida que achei interessante, mas a Assembleia não permitiu. Depois sugeriu um Lockdown, que também não prosperou porque, conforme ele informou, a maioria da população o rejeita. No fim contentou-se com medidas paliativas, possivelmente insuficientes.
Os cidadãos recusam porque desde o princípio da pandemia as administrações federal, estaduais e municipais não se entenderam e eles não sabem a quem seguir.
Os bolsonaristas, que são maioria em Mato Grosso, seguem a linha do Presidente e não concordam com o distanciamento. Assim é possível que convençam os empresários a desrespeitarem medidas eventualmente tomadas aqui no Estado, mesmo as judiciais.
Se o comitê nacional aprovado pelos três poderes não funcionar para tomar as medidas amargas, vamos sofrer ainda algum tempo com as mortes aumentando, até que a vacina comece a agir.
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.
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