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Opinião
Quarta - 31 de Março de 2021 às 04:47
Por: Clailton Cavalcante

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Quando grandes almas morrem, depois de um período a paz floresce. Nossos sentidos, restaurados, nunca mais serão os mesmos, pois elas existiram e nos tornaram melhores, assim afirmou a estadunidense Maya Angelou.

Há pouco mais de um ano, o mundo e em especial nosso país tem vivido dias fúnebres em razão de mais uma pandemia que assola o planeta. Embora esse tipo de flagelo não seja coisa nova para a humanidade, visto que já tivemos a praga de Justiniano, passamos pela peste bubônica (talvez a maior da história), pelo HIV (que ainda persiste) e agora a covid-19.

Fato é que, independentemente da época em que ocorreram as pandemias, centenas de milhares de vidas foram ceifadas, levando indiretamente outras milhares de vidas ao sofrimento em decorrência da “partida” de entes ou amigos queridos.

A força interior de Maya Angelou que durante muitos anos permaneceu muda por ter sido estuprada pelo marido de sua mãe, faz nos remeter as palavras de Santo Agostinho ao dizer que a morte não é nada, especialmente, para aqueles que possuem e emanam paz interior.

Fato é que, independentemente da época em que ocorreram as pandemias, centenas de milhares de vidas foram ceifadas, levando indiretamente outras milhares de vidas ao sofrimento em decorrência da “partida” de entes ou amigos queridos

Nas linhas que seguem, nas palavras do filósofo autor de “A Cidade de Deus”, prestemos nossa reverência a todos nossos entes e amigos que nos deixaram, seja agora ou em um passado distante, pois certamente eles estão a nos vigiar constantemente.

A tão temida morte não é nada. Disseram que eu morri mas eu apenas passei para o outro lado, continuo sendo eu e vocês são vocês o que nós fomos uns para os outros ainda continuamos a ser. Sempre me chamem pelo mesmo nome que vocês me chamaram, falem comigo do jeito que sempre falaram.

Não mudem o tom da voz não viu! Nada de tom solene ou triste, continue rindo com aquilo que juntos achávamos graça, orem isso é bom, sorriam, pense em mim, rezem comigo e que meu nome seja pronunciado em casa ou em qualquer lugar do mundo do mesmo jeito como sempre foi sem nenhuma ênfase, sem gosto de uma sombra.

Pois, a vida continua significando o que sempre significou. Continua sendo o que era, saiba que o cordão da união que liga todos nós não se quebrou e por que eu estaria fora do pensamento de vocês só por que agora estou fora das suas vistas?

Não. Eu sou real, eu continuo existindo, eu não estou longe. Estou bem perto de vocês, somente estou ali do outro lado do caminho. Vocês vão me ver e comprovarão que tudo está muito bem.

Vocês redescobrirão o meu coração e nele redescobrirão também a ternura mais pura ainda. Enxuguem suas lágrimas e se me amam de verdade não chorem mais porque se chorarem eu vou ficar muito triste.

Pois bem, a pandemia da Covid-19 tem nos trazido momentos de dor, mas também de reflexão. Pois tanto aqueles que perderam pessoas queridas, quanto os acometidos pela doença e que se recuperaram, assim como eu, estão reescrevendo suas histórias seja pelo modo de como enxerga o próximo ou a sim mesmo.

A covid-19 não para de vitimar pessoas – enquanto escrevo, dezenas de pessoas estão morrendo – já perdi familiares, amigos de longa data e outros que convivi por pouco tempo, porém, não menos importantes que os primeiros.

Dentre as pessoas que convivi por diminuto tempo, mas que muito me ajudou, destaco a psicóloga Dulce Figueiredo, especialista em psicoterapia (psicologia clínica), sendo para mim a cuiabana mais carioca que conheci, visto que iniciou sua graduação na cidade maravilhosa.

Dulce exalava positividade, em suas sessões exagerava no emprego de advérbios seja de modo ou de afirmação. Esse exagero tinha objetivo específico, pois são os advérbios que asseguram maior riqueza de detalhes nas informações por ela repassadas a cada um de seus pacientes.

Minha identificação com ela foi quase que instantânea, pois Dulce era mãe, e assim como eu, era defensora da causa da adoção seja de criança ou adolescente.

Meu último contato com ela ocorreu dia 24 de fevereiro passado, quando a parabenizei pelo artigo de opinião intitulado “Do que é feito o amor?”, publicado em vários meios de comunicação.

E após um mês de intensa luta contra a covid-19, na última sexta-feira (26), Dulce foi vencida pelo Sars-CoV-2.

Ela deixa esposo e três filhos, que certamente estão tristes e abalados, mas carregam consigo a certeza de que quando a psicóloga por aqui passou, fez através de sua profissão muitas pessoas voltarem a sentir o gosto de sorrir.

E por ter sido exímia profissional que tratava das “mentes”, deixo aqui reflexão de, Wilhelm Wundt, considerado um dos fundadores da psicologia ao dizer que as características distintivas da mente são meramente subjetivas; nós os conhecemos apenas através do conteúdo de nossa própria consciência. E Dulce sabia respeitar a subjetividade (particular) de cada um de seus pacientes.

Enfim, que as palavras de Santo Agostinho seja bálsamo para todos aqueles que perderam seus entes queridos.

Ah! O emprego dos advérbios de modo e afirmação (...mente) foi proposital pois Ela empregava frequentemente em suas sessões.

CLAITON CAVALCANTE é contador.



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