Quando o passado não espelha mais o futuro
Para compreender seu futuro é preciso olhar para o passado. Esses velhos dizeres são um conhecimento popular e, praticamente, um dogma nos planejamentos empresariais.
Todo início de ano repetimos o mesmo ritual criado na era paleolítica das corporações. Criamos os relatórios de resultado dos últimos dois anos que basicamente servem para dizer: tivemos prejuízo? Teremos bônus?
Aos que conhecem estes rituais, já conseguiram presenciar um raro momento de vislumbre onde a pergunta não era “e quanto vamos crescer neste ano?”
Bom, particularmente não me recordo de já ter presenciado tal cena. E se ela aconteceu, foi um momento tão assustador para meu cérebro que ele bloqueou para proteger tal choque de realidade, ou melhor, de futurismo.
Em uma parcela considerável de corporações os números são triturados, ou torturados, todos os dias para gerar indicadores e mais indicadores que desenham valores positivos e sempre em escalas exponenciais. As outras não servem.
O que percebemos é o quanto estas empresas estão olhando apenas para um pequeno punhado de características do seu negócio e estão projetando todo seu futuro neste mesmo pequeno universo. Mas quem garante que, em cinco anos, ainda será o mesmo cenário de mercado? Nossos pilares e modelos de comercialização tem mudado em velocidades para as quais nós não fomos preparados. Quando nos damos conta, já é o terceiro trem passando e ele está lotado igual metrô na Estação da Sé em São Paulo às 18h30.
É aqui, onde olhar para o futuro como um enorme exercício de desconstrução do passado ganha força. Seu futuro não é baseado no que você construiu, como empresa, nos últimos 20 anos. Esse tempo te trouxe aqui, mas ele não garante que você continuará aí pelos próximos 50 anos (diferente do moço em pé esperando o metrô na Sé).
O futuro é a ambidestria dos negócios
Na onda da inovação, as empresas que compreendem esse mecanismo de mudança começam a se caracterizar pela ambidestria nos negócios. Isso é, a ousadia de entender o jogo atual, mas criar áreas e estratégias que permitam construir o futuro, seja com produtos novos, serviços novos, marcas novas, novos mercados. Não apenas pela força de expansão do seu modelo atual, mas entendendo que elas, sozinhas, encolherão, perderão espaço e até, desaparecerão. Que novas necessidades surgirão e que é hoje que temos a chance de construir o que vai saciar essa demanda futura, que talvez ainda nem exista.
Empresas ambidestras conseguem unir o que há de melhor em investimento de inovação em novos negócios e na manutenção e maximização dos resultados atuais.
Para isso, indicadores comuns na construção de um projeto como o clássico ROI (Retorno de Investimento), perdem espaço para o ROX (Retorno da Experiência), ROE (Retorno sobre Engajamento) e o ROM - meu favorito - (Retorno sobre a Magia). Sim! A gente quer medir aquele momento “Uauuu”. Afinal, venhamos e convenhamos, não é sempre que ele aparece e se seu produto ou serviço conseguiu isso, prepare o bolso, teremos novas receitas chegando.
Precisamos lembrar que o consumidor pagará mais e escolherá outros produtos ou serviços pela experiência que lhe for proporcionada. Nós fazemos isso no nosso dia a dia, somos impactados e compramos coisas, desde os tempos primordiais, baseados em experiência e hábitos. Mas quando desenhamos estratégias de produtos e serviços nas nossas maravilhosas reuniões, esquecemos completamente disso e trabalhamos sob outra ótica, seja qual for.
Mas é carregado nesse grande movimento do mercado que virão amarradas novas formas de pensar, de interpretar dados, de desenvolver soluções, de entregar novos sabores de desejo aos consumidores. Mas se você está lendo isso e pensando “eu não vendo caixas de chocolate, isso não me afeta”, isso é engano seu. Tudo é consumo. Não importa o tamanho da cadeia, no final do dia, existe um indivíduo consumindo seu produto ou seu serviço. Se ele não tiver desejo e interesse em usar o que você construiu, todos seus esforços foram em vão.
E como chegar nesse ponto? Bom, essa talvez seja a fórmula mais difícil de ser escrita, mas não faltam ferramentas para ajudar essa jornada do empresário. Cada empresa terá de abrir sua própria trilha e um aviso pra quem tá chegando: isso tudo ainda é mato!
A única certeza para o futuro das coisas é que viver preso aos modelos que deram certo até aqui, não garantem seus próximos anos. Diferente da máxima do futebol em que time que está ganhando não se mexe, aqui, se não mudar, perde jogo.
* Vander Muniz é curioso, Executivo de Tecnologia, Empresário e Estudante. Por acidente foi trabalhar na área da Computação se especializando em Inteligência de Negócios baseado em Dados e em tecnologias como Inteligência Artificial e Big Data. Formado em Ciência da Computação, especializado em Neurociência, Bioinformática e Inovação. Hoje atua na área de desenvolvimento de soluções com tecnologias disruptivas em diversas empresas.
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