O menino Henry Ponto sensível da discussão não é apenas as políticas de proteção aos vulneráveis
A morte do menino Henry de apenas 4 anos, no Rio de Janeiro, não será o último nem é o primeiro caso de pais, sejam eles padrastos ou madrastas, acompanhando os pais naturais na provocação da morte de seus próprios filhos, nos relembrando de casos como o da pequena Isabella Nardoni jogada de um edifício pelo próprio pai.
Casos chocantes como esses, sem nos esquecermos de Suzana Von Richthofen que matou a pauladas seus pais quando dormiam, surgem no noticiário em meio a noticias como a pandemia e outros crimes como os de corrupção que de certa forma não nos comove tanto como a morte do inocente Henry.
Crimes cometidos no seio familiar nos chocam mais, pois de certa forma nos projetamos naquelas realidades horríveis de cenas, damos vereditos e resoluções imediatas. Poderia ser um filho, um irmão ou uma pessoa próxima e nos indignamos como uma mãe pode cometer ou pactuar com a morte do próprio filho, talvez a psicanálise nos ajude a entender.
O ponto sensível da discussão não é a criação apenas de políticas públicas de proteção aos vulneráveis
Portanto, surge em nós como indivíduos uma irresignação quanto à crimes violentos ocorridos entre pessoas “iguais a gente” e resulta em uma necessidade de proteção de forma coletiva.
A violência doméstica que não se resume tão somente na violência contra a mulher, que alarmantemente aumentaram os casos desse tipo de violência por conta do convívio e os desgastes psicológicos havidos por conta da pandemia, não que isso seja justificativa para a violência, mas é um fator a ser observado; também a violência contra idosos e crianças é um problema a ser tratado.
O ponto sensível da discussão não é a criação apenas de políticas públicas de proteção aos vulneráveis e sua efetividade, pois como imaginar que uma mãe, um pai, um filho ou um neto verteria sangue do seu consanguíneo (Caim e Abel já nos alertava, mas não ouvimos), o Estado está a postos na defesa entre indivíduos estranhos uns aos outros. Entretanto, como intervir em uma agressão intima, doméstica e familiar.
Talvez a resolução passe por uma necessidade de aguçar a audição e sermos mais sensíveis a relatos, reclamações, obviedades trazidas por aqueles que muitas vezes são silenciados por uma comodidade, seja lá qual for a qualidade dessa comodidade.
Politicas de proteção são prementes, contudo, proatividade individual inserida em um coletivo de deveres de identificar violências e coibi-las, vai além da simples criação de leis (que na sua maioria são ineficazes) e sim uma atuação multiforme de todos os setores da sociedade civil organizada.
Jonatas Peixoto é advogado criminalista.
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