ICV 30 anos. E o futuro? Uma reflexão sobre as três décadas de criação do Instituto Centro de Vida
Pois é, amigos, o ICV – Instituto Centro de Vida (www.icv.org.br) está inteirando 30 anos neste 14 de abril. Trinta anos em que um pequeno grupo de pessoas, depois de vivenciarem alguns anos de experiências em ações em defesa de interesses da sociedade, foram ao cartório para registrarem uma nova organização e institucionalizarem seus propósitos. A proteção do meio ambiente, o uso sustentável dos recursos naturais e a melhoria da qualidade de vida para as atuais e futuras gerações.
Surgimos e trabalhamos movidos por um sentido de urgência dos problemas que estavam diante de nós: o desmatamento e queimadas em larga escala; a contaminação e destruição de rios, da Chapada dos Guimarães, do Pantanal; a ameaça de grandes projetos de infraestrutura, como a hidrovia Paraguai-Paraná. Além dos grandes desafios globais vocalizados na Rio-92, como a destruição da biodiversidade, os problemas das cidades e a crise climática. Sempre entendendo a organização da sociedade como um caminho necessário para encontrar respostas a todos eles.
Problemas que, na maioria das vezes, grande parte da sociedade e os poderes públicos não enxergavam ou davam (nem continuam dando) valor e atenção. O que ao longo do tempo nos colocou um desafio triplo: de buscar soluções para os problemas, na contramão de uma visão hegemônica e dos interesses imediatos, de visão curta; de nos comunicar para sensibilizar a sociedade com novos conceitos como a sustentabilidade; e de nos articular e buscar alianças e recursos para interagir e modificar a realidade.
Nessa trajetória, muito trabalho, desesperanças, esperanças, fracassos, alegrias, derrotas e vitórias. Ataques sofridos por incompreensões e interesses contrariados
Nessa trajetória, muito trabalho, desesperanças, esperanças, fracassos, alegrias, derrotas e vitórias. Ataques sofridos por incompreensões e interesses contrariados. Mas, principalmente, muitos amigos e aliados, muito acolhimento por parte de diversos setores da sociedade, entre eles os veículos de comunicação, além de muita dedicação dos colaboradores, o que nos ajuda a nunca esmorecer, nem deixar de aprender. Ou seja, muito mais a agradecer que a reivindicar. Sempre nos renovando, agregando novos parceiros, novas ideias e clareando nossa visão de mundo para melhor contribuir com uma sociedade mais justa e sustentável.
E o futuro? Podemos desenhar alguns cenários e sempre temos, enquanto sociedade, algumas alternativas. Mas vamos construí-lo, sem perder nosso olhar de longo prazo, no enfrentamento dos desafios que se colocarem na nossa frente; que, a rigor, não são muito diferentes dos anteriores, como o desmatamento indiscriminado, as queimadas e a erosão da biodiversidade. Hoje agravados pelo desmonte da legislação ambiental e crise climática que está batendo na porta, cobrando um preço cada vez maior.
Neste momento, acrescidos pelo desafio da manutenção da nossa democracia e ao qual precisamos estar atentos, priorizar, não subestimar, nem colocar em segundo plano. É preciso unir forças para defender nosso bem maior, pois é no campo da democracia que a sociedade enfrenta suas contradições e encontra soluções para seus problemas, inclusive para a pandemia da covid-19. O ICV, assim como os movimentos sociais e as organizações da sociedade, são fruto da democracia, nela nasceram, nela se movimentam e dela se alimentam para continuarem existindo e cumprindo sua missão.
Nessa data, votos de muitos anos de vida, com prosperidade, sem se afastar de seus propósitos iniciais e inseparáveis, a proteção do meio ambiente e o fortalecimento da cidadania. Mas um voto especial para o ICV e todos nós é que façamos nossas as palavras do poeta pantaneiro Manoel de Barros em “Retrato do artista enquanto coisa”:
A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitem como sou – eu não aceito... Perdoai, mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas.
Olhar para si e aprender sempre!
Sérgio Guimarães é fundador e foi Coordenador Executivo e Presidente do Conselho do ICV
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