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Opinião
Segunda - 24 de Outubro de 2011 às 00:26
Por: Bruno Peron

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A coadunação de opiniões é uma tarefa árdua nos mecanismos de integração e foros de debate. A dificuldade é diretamente proporcional ao número de participantes. Alguns governantes exprimem a preocupação de que estes processos não passem de acordos econômicos, enquanto outros almejam uma troca muito mais dinâmica que a de mercadorias na fronteira e sugerem que circulem trabalhos científicos e artísticos, tecnologias e turistas.

Pouco do que fazíamos na América Latina alcançava os centros irradiadores de poder mundial, a menos que a economia de alguns de nossos países mostrasse o seu vigor. É nesta esteira de Sul a Norte que correram Argentina, Brasil e México para aderir-se ao Grupo dos vinte países mais industrializados do mundo, que se abriu aos chamados "emergentes" e se criou em junho de 1999 em Colônia, na Alemanha, com base em temas financeiros.

A insatisfação de alguns países africanos, asiáticos e latino-americanos com a clausura do prévio Grupo dos 7 ensejou a ampliação de membros e a conformação de um número de participantes menos "elitizados" a despeito de que esta coletividade não alcance a representatividade mundial da Organização das Nações Unidas (ONU). O pretexto é o de que o "G20" originou-se de um foro de presidentes de bancos centrais que visavam trazer as dificuldades do sistema financeiro internacional à ordem do dia.

Houve um debate, na terça-feira de 18 de outubro de 2011, sobre o papel que a América Latina deverá assumir na próxima reunião do Grupo dos vinte países economicamente mais ricos do mundo que se realizará em Cannes, sul da França, em início de novembro. O debate ocorreu na sede da Associação Latino-americana de Integração (ALADI) em Montevidéu, Uruguai, sob coordenação de Carlos Álvarez ("Chacho"), secretário-geral do organismo, e Emilio Izquierdo, presidente do Comitê de Representantes e Embaixador do Equador.

O tema do encontro em Montevidéu foi "América Latina e o Grupo dos 20: construindo um espaço para o diálogo". A discussão se deu no âmbito da ALADI, que se criou em agosto de 1980 com a finalidade de aproximar os países latino-americanos e caribenhos através de preferências econômicas que não culminem necessariamente numa zona de livre comércio. A reunião na ALADI compõe, desta maneira, o contexto pré-G20 em que nossos países afinam os discursos para canalizar nossas demandas em foros de importância global.

Embora somente Argentina, Brasil e México nos representem no G20, que não se deve confundir com o grupo dos vinte países "emergentes" que surgiu no México em 2003, o convite ao debate na ALADI se fez a todos os doze Estados-membros desta instituição latino-americana de sede uruguaia (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela).

A Argentina enviou o chanceler Héctor Timerman; o Brasil disponibilizou Valdemar Carneiro Leão, representante da presidente Dilma Rousseff ante o G20; e o México contou com José Antonio Meade, ministro da Fazenda. Na reunião da ALADI, houve também representantes da Comunidade Andina de Nações (CAN), Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).

A tônica do encontro no Uruguai foi a de conjugar as vozes a fim de reforçar posições e aumentar a influência latino-americana no G20 e em temas de interesse mundial. Os participantes tocaram no tema da crise que debilita as nações norte-americanas e europeias, para a qual ainda não se encontra solução, e a reconfiguração da ordem internacional.

Não se trata da pretensão de que ofereceremos à Europa a solução aos problemas que aumentam o desemprego, quebra empresas, deprecia salários, e gera protestos nos Estados Unidos (na zona financeira de Nova Iorque), Grécia, Portugal, Espanha. A América Latina reivindica um espaço nos diálogos internacionais onde se reconheça uma importância maior que a de meras nações marginais no sistema financeiro internacional.

A Grécia assiste estarrecida a especulações absurdas sobre sua economia e seu papel na União Europeia. Cogitou-se excluí-la da zona do Euro a fim de ressuscitar a moeda anterior e trazer estabilidade financeira. Outros analistas especulam que o vento quente da Grécia siga sua rota mediterrânica e afete a península ibérica.

Veremos que os discursos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Carlos Kirchner abriram nichos sem precedentes nos até então impenetráveis foros entre as nações mais industrializadas. Estas propuseram, por fim, convites aos "emergentes".

Como alertei no início deste texto, não se espera a homogeneidade de posturas latino-americanas sobre o comércio e as finanças mundiais senão o bom senso de que os representantes de nossos países juntem palavras e profiram frases que resultem, cedo ou tarde, nalgum acréscimo na qualidade de vida dos habitantes deste planeta.

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