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Opinião
Segunda - 26 de Abril de 2021 às 05:39
Por: Enildes Corrêa

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Dentre as várias medidas de prevenção recomendadas à população a partir do início da pandemia, o uso de máscaras apresentou-se como um dos mais eficazes meios para evitar o contágio pelo novo coronavírus. Desde então, quando preciso sair à rua (devidamente mascarada), sinto receio dos transeuntes não mascarados, que, apesar das mais de 380 mil vidas ceifadas pela covid-19 no Brasil e mais de 3 milhões no mundo, insistem em desrespeitar essa e outras recomendações da ciência e da OMS.

É inevitável emergirem alguns pensamentos de análise e reflexão diante de certas cenas que ocorrem no cotidiano pandêmico. Vem a minha mente um pouco da história do uso de máscaras desde tempos antigos da humanidade, em diferentes culturas e tradições com finalidades distintas: cerimônias de cunho religioso, rituais espirituais, área de saúde, artes cênicas, festas de fantasia e folclóricas, brinquedos.

Abro-me para viajar pelo tempo passado e lembranças começam a me visitar. Particularmente, lembro-me da minha infância e do período de Carnaval, quando mamãe e a tia de uma amiga levavam a criançada da vizinhança para assistir ao desfile de rua, que, em Cuiabá, acontecia na Av. Getúlio Vargas, nas imediações da Praça Alencastro.

Era bem pequena e a principal atração para aquela criança, de menos de 7 anos de idade, era ver os mascarados. Mas, quando um deles chegava perto, agarrava-me à minha mãe, com receios imaginários, dos quais já não me lembro exatamente. Ficou na memória apenas uma menina que se assustava com a aproximação de pessoas mascaradas. Mascarados, só de longe – aí sim, a menininha esticava o pescoço no meio da aglomeração de gente grande para ver o bloco mais esperado por ela – o dos mascarados!

A menina cresceu e perdeu o medo dos mascarados de carnaval. Enquanto isso, Cuiabá, antes tão pacata, numa época em que a população sentia-se segura em qualquer parte da cidade, a ponto de sequer trancar a porta da casa no recolhimento noturno, transformou-se e igualou-se, em termos de violência, a tantas outras capitais brasileiras da atualidade.

Em meio ao aumento do índice de violência urbana, em que há incontáveis registros de roubos por ladrões que fazem uso de diversos tipos de máscaras para esconderem sua identidade, a população de modo geral passou a temer a presença de mascarados em qualquer lugar e situação que não estejam vinculados a manifestações culturais. Uma das reflexões que faço quanto ao momento no qual vivemos é sobre o movimento de mudanças que acontecem na vida e no mundo. Quantas mudanças marcantes e impensáveis aconteceram à humanidade em tão pouco tempo!

Atualmente, por exemplo, pessoas de bom senso, cientes dos perigos do coronavírus e suas novas variantes altamente transmissíveis, prezam o uso de máscaras ao saírem de suas casas. E, agora, quem diria, temem encontrar os desmascarados, negacionistas que infringem os protocolos de biossegurança e revelam em suas faces friamente descobertas: desrespeito à vida (deles mesmos, da família e do coletivo), egoísmo, ignorância, desinformação e alienação da trágica situação brasileira que ora vivenciamos, mesmo decorrido mais de um ano de pandemia.

No desenrolar da rotina dos dias atuais e da mudança de hábitos que a prevenção contra a covid-19 nos obrigou a realizar, além de me cuidar adequadamente ao cobrir o rosto, descubro como é confortável e libertador ir a qualquer lugar sem nenhuma ou pouca preocupação com a aparência! Afinal, só os olhos ficam mais à mostra – rosto nu debaixo da máscara! Até os cabelos podem estar um pouco desalinhados, desde que os olhos reflitam luz...

No dia a dia do cenário pandêmico, encontrar alguém sem máscara em locais públicos gera, instintivamente, a desconfiança – nessa situação sinto-me insegura e procuro aumentar a distância entre mim e o desmascarado. Ironicamente, ao contrário do que acontecia na minha infância, agora, dos desmascarados, quero guardar distância! E, quando me deparo com os corretamente mascarados, que sossego eles me proporcionam, ainda assim, preferencialmente à distância de 2 metros recomendada pela ciência!

Enildes Corrêa é administradora, terapeuta corporal, professora de Yoga e orientadora de meditação com formação na Índia.



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