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Opinião
Sábado - 15 de Maio de 2021 às 06:54

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A Câmara aprovou uma moção de aplauso à operação policial no Rio de Janeiro, na favela de Jacarezinho, na qual foram mortas 28 pessoas, sendo um policial.


O argumento do vereador que apresentou a moção de aplauso foi que essa operação teria sido um ato heróico em defesa da sociedade.

Outro vereador manifestou que estava ali defendendo os policiais. E outro, disse que já teve a experiência de, na Prefeitura de sua cidade, pedir a policia que deixasse que a população fizesse o linchamento de um homem que havia cometido um delito.

Outro vereador religioso, me disse que ficou chateada comigo por ter tachado a todos os que votaram como defensores da morte. Ele acredita que 28 pessoas mortas não é suficiente para colocar sob suspeita uma operação e, prevalece para ele a tese da legitima defesa do policial que primeiro foi alvejado e morto.

A polícia seria o corpo de reage em sua própria defesa.


Fiquei profundamente estarrecida que pessoas eleitas para elaborar leis tenham a coragem de usar o expediente da Casa Legislativa para aplaudir a morte, a chacina, sob pretexto de homenagear policias.


Vejo homens brancos, acostumados a todo tipo de privilégios, alguns nos mandatos há mais de uma década, sem qualquer preocupação em debater com argumento e qualidade o que essa moção de aplauso significa.

Fiquei estarrecida que eleitos para criar leis tenham a coragem de aplaudir a morte


Fui silenciada todo tempo, enquanto os que defendiam a abjeta moção de aplauso tinham suas falas garantidas.


Hoje eu vivi um horror. E minha indignação não coube em mim.


Estamos com duas CPI´s tratamitando na Câmara e, vejo que quem tanto defende a legalidade quando se aplica à figura do Prefeito de Cuiabá e da Prefeitura, defende a ilegalidade quando se trata de matar gente pobre, preta.

Uma visão de legalidade e moralidade tão seletiva que me embrulha o estômago.


O pensamento da extrema direita é imoral, é anti-racional. É violento e busca a guerra e o inimigo em toda parte. É uma paixão pela barbárie, pelo sadismo mortífero que expressa na necrofilia do culto à morte o reconhecimento do triunfo, do prazer quase sexual.

A psicologia deve explicar as razões dessa projeção. Mas, aos olhos leigos é possível observar o sadismo travestido de austeridade. Não há honra na corrupção, seja quando afeta a materialidde dos bens públicos e, mais ainda, quando perverter o próprio sentido do que é público. Matar, é crime e não importa as razões ou circunstância e, tampouco quem o faça. Ninguém tem autorização para matar.

Não, não estão advogando a pena de morte. Mesmo nos países onde a pena de morte existe, há um processo legal que deve ser cumprido. Não existe pena de morte sumária, sem um devido processo legal em lugar algum.

Mas, 12 vereadores votaram por aplaudir uma operação policial que ceifou a vida de 28 pessoas, inclusive de um policial.

Esses senhores desconhecem a realidade para além de suas próprias experiências individuais. Não conseguem ver o mundo como ele é. Apenas enxergam suas próprias salas e quintais.


Querem, nessa simplificação absurda, desonesta e ilegal, defender que policiais, que são trabalhadores, pais, mães, filhos...se tornem assassinos de seus iguais: gente preta e pobre.

Quando uma pessoa presta concurso para policia, não planeja ser um matador. Não acha que seu papel seja torturar e matar os cidadãos, ainda que tenham cometido delito. Mas, se parlamentares, a quem cabe a produção de leis, pensam que o grande prêmio dado aos pobres é incentivar que eles se matem, aplaudir chacinas é a forma oferecer a morte aos pobres, quando as suas vidas não valem nada.


Não, não é uma homenagem aos policias.

O que a Câmara fez foi apologia ao crime, foi um aceno e incentivo ao desvio de conduta das forças policiais. O que querem esses homens do poder é transformar policiais nos novos capitães do mato da modernidade: caçar, capturar e matar negros fujões, transgressores de uma ordem onde só merece viver os que assaltam os cofres públicos e continuam gozando dos privilégios da riqueza que acumulam às custas do povo trabalhador.

Eles não respeitam os policiais. Eles querem usar a política como cães do sistema de hierarquia de humanos. Esses homens jamais serão vítimas da ação desviada da policia. As vitimas estarão sempre nas favelas e serão pretas. A cor da maioria dos policiais que estão na rua.


O que ocorreu hoje na Câmara tem uma gravidade sem precedente. Demonstra o quanto a sociedade precisa rever seus conceitos e pensar nas conseqüências desses comportamentos. Porque a vítima de policia assassina não é e nunca será o corrupto de colarinho branco. Porque o Estado que nega direitos aos mais pobres é o mesmo que quer a polícia para matá-los.

No dia 13 de maio, dia da “libertação dos escravos”. E a Câmara de Cuiabá reconhece como legítima a morte de gente preta. Seguimos em navios negreiros numa história de racismo que parece não ter fim.


Resistiremos!

Edna Sampaio é vereadora pelo Partido dos Trabalhadores.



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