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Opinião
Terça - 18 de Maio de 2021 às 06:29
Por: Francisney Liberato Batista Siqueira

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Lembro-me de um momento da minha infância em que juntava alumínios e garrafas de vidro no intuito de trocar pelos filhotinhos de galinha, os pintinhos eram bem amarelinhos.

Há época, passavam alguns caminhões em determinados períodos no bairro para fazer essa troca. A minha expectativa sempre era juntar bastante objetos para obter uma quantidade expressiva de pintinhos.

Como apreciava cuidar dos pintinhos! Eu tinha um excesso de zelo por aqueles animaizinhos. Em certa ocasião eu tive uma grande sacada, que era dar um banho nos bichinhos, já que o cheiro não estava tão agradável.

Coloquei todos os animaizinhos juntos e daí comecei a dar banho neles, com o maior cuidado e zelo, já que a minha intenção era fazer o meu melhor por aqueles bichinhos.

Ao terminar o banho, deixei eles para secar no sol e fui fazer outras atividades dentro da minha casa.

Ao retornar, para minha surpresa e desespero, aquele banho não foi a melhor decisão que tomei, pois percebi que todos os pintinhos estavam duros que nem um pau, e ao mesmo tempo mortos.

A tristeza invadiu o meu ser, uma vez que o meu excesso de cuidado, zelo e amor por aqueles bichinhos foi despedaçado com o falecimento deles. Uma atitude impensada da minha parte e também pela ausência de conhecimento sobre o assunto.

Por que estou relatando essa história? Porque quero chamar a sua atenção, pois somos seres humanos fracos, frágeis e imprudentes ao cuidar do próximo e de outros indivíduos. Temos que reconhecer a nossa pequenez quando adentramos nessa seara.

Temos desejos e vontades de ajudar o outro, mas muitas vezes não sabemos nem tratar de nós mesmos. Creio que o nosso autocuidado é base para cuidar de terceiros.

Desejamos introduzir todo o nosso conhecimento, competência e capacidade para fazer o melhor pelo outro, mas infelizmente jamais entenderemos as perspectivas e cenários da pessoa ajudada.

Não basta ação, devemos também ter intenções pensadas, equilibradas e com muita empatia.

Saber cuidar, na minha percepção, é para poucos, às vezes até pensamos que somos doutores neste assunto, porém, nem sempre isso é uma verdade absoluta.

A nossa ajuda deve ser com base no conhecimento e perspectivas do outro e não da nossa intenção e ação.

A minha intenção era dar banho nos pintinhos para que eles ficassem limpos e cheirosos, não obstante não era disso que eles precisavam e nem poderiam receber. O desastre foi consumado por eu achar que entendia de animais.

Ledo engano; quem somos nós para saber de tudo? Quem somos nós para entender a singularidade e as características ímpares de cada ser humano criado por Deus? Creio que seja muito difícil e complicado.

Não podemos deixar de ajudar e colaborar com o próximo, mesmo reconhecendo a nossa mente e capacidade limitadas. É bom fazer o bem. Faça a sua parte, mas lembre-se de ser mais empático e aprenda a olhar o que o outro efetivamente precisa e não aquilo que você entende que seja melhor para ele ou para ela.

Creio que uma boa solução para isso é trocar ideias e dialogar antes de tomar qualquer atitude ou ação, para depois não se arrepender, assim como a falha que cometi com os bichinhos.

A falta de zelo e atenção pelo nosso irmão, colega, amigo ou parente não é salutar para demonstrar a nossa solidariedade pelo próximo, por outro lado, o excesso de cuidado e esmero também poderá ser prejudicial para dirimir os problemas, conflitos e dificuldades que a pessoa a ser ajudada esteja vivenciando.

Antes de ajudar e agir, veja se, verdadeiramente, é disso que o outro quer e precisa!

Francisney Liberato é auditor público externo do Tribunal de Contas de Mato Grosso.



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