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Opinião
Terça - 29 de Junho de 2021 às 15:40
Por: Bruna Uriarte

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Em busca de soluções mais saudáveis e menos nocivas ao meio-ambiente, milhões de pessoas têm mudado seus hábitos de consumo pelo mundo. Da redução no consumo de carne ao uso de cosméticos não testados em animais, o mercado da sustentabilidade apresenta inúmeras possibilidades à lógica de oferta/demanda. O movimento, formado por um público mais atento e exigente, fica explícito pela proliferação de produtos veganos nos mercados. Mas, será que as iniciativas adotadas por corporações com histórico de degradação do planeta são, de fato, válidas?

De olho nesta fatia de mercado, as grandes empresas têm lançado produtos que nos induzem a ideia de uma produção limpa e livre de exploração animal e humana. Com embalagens verdes e certificações espalhadas pelo corpo dos encartes, o marketing sustenta esta estratégia, batizada como greenwashing, que tem como único objetivo o aumento da margem de lucro das fabricantes.

O maior exemplo desta prática vem das multinacionais. Líderes no abate de bovinos, suínos e aves para venda de derivados, hoje elas assumem uma fachada “sustentável” ao incluírem produtos vegetarianos e veganos aos seus catálogos. Não raramente encontramos pelos freezers dos supermercados hambúrgueres, almôndegas e quibes vegetais, saídos das mesmas indústrias que produzem em larguíssima escala centenas de versões destes mesmos produtos, só que, feitos a partir da carne.

Passando pelas prateleiras o caso se repete ao chegarmos aos cosméticos e às opções para a higiene bucal. Quase a totalidade delas carrega em seu histórico de produção toneladas de plástico que resultam em embalagens que, em muitos casos, oferecem uso único, impossíveis de serem reutilizadas. Contudo, para fisgar os compradores, algumas marcas vêm apostando na venda de escovas de bambu, sem abrir mão, é claro, das tradicionais. Chega a ser cômico.

Frente a isso você pode se perguntar: a despeito do lucro, iniciativas do tipo têm algum resultado? Se avaliarmos a questão superficialmente, podemos concluir que, a curto prazo, há alguns benefícios, uma vez que, se mais pessoas buscam por produtos sem carne e derivados, vidas animais podem ser poupadas. Estes números, contudo, se tornam irrelevantes diante da matança industrial e reforçam que a sustentabilidade não é prioridade para maioria esmagadora das fabricantes.

Uma pesquisa da Market Analysis mostra que o Greenwashing afeta oito em cada dez produtos vendidos no Brasil e que o uso de apelos ambientais pelas empresas tem se tornado cada vez mais estratégico e menos óbvio. De acordo com este estudo, entre 2010 e 2015 a quantidade de produtos que se autodeclaram “verdes” cresceu quase cinco vezes (478%) e o número total de embalagens com sinais e mensagens indicando posturas simpáticas com o meio ambiente cresceu três vezes (296%)

Ou seja, esta tática de mercado, a longo prazo, tem impacto muito mais negativo do que positivo, contrariando a essência do veganismo, que prega a abolição de qualquer tipo de crueldade animal e humana. Neste contexto, promover uma opção sustentável em meio a outras 99 opções que contribuem para a destruição do planeta não ajuda muito. A situação piora ao considerarmos que o propósito deste tipo de ação é puramente estratégico e tem por objetivo o aumento da lucratividade.

Diante deste cenário, nossa melhor resposta enquanto consumidores é deixar de contribuir com o faturamento de corporações multimilionárias e apoiar cada vez mais os empreendimentos locais. Especialmente em cidades maiores, algumas alternativas voltadas à alimentação, cosméticos e autocuidado começam a aparecer. Informe-se sobre elas. E, se essa realidade ainda não é possível para você, vale a pena optar por empresas cujo foco seja, de fato, a preservação ambiental.

Outra forma de fugir do greenwashing é analisar se suas marcas preferidas se posicionam sobre temas relacionados à preservação ambiental e ao combate à crueldade animal, para além de oferecer produtos “verdes”. Isso pode indicar se medidas efetivas estão sendo adotadas ou se há apenas uma falsa preocupação.

Além disso, é importante ter em mente que informação é a principal ferramenta para qualquer tipo de transformação. Pesquisar não é difícil e a oferta de soluções ecologicamente adequadas tem crescido. Na página da Afetolab, no Instagram, por exemplo, reunimos diversas dicas relacionadas ao assunto. Acreditamos em nossa essência que, com um pouquinho de boa fé e vontade de melhorar o mundo, fica fácil mudar alguns hábitos.

Assim, rumo a um objetivo muito maior, você pode começar essa jornada com passos pequenos. Procure por perfis responsáveis para se inspirar, repense seus padrões de consumo, estabeleça contato com outras pessoas que tenham interesse pelo tema e boa sorte nesta caminhada!

Bruna Uriarte é estudante de Direito e co-fundadora da Afetolab, empresa cuiabana que oferece produtos 100% veganos, artesanais e naturais



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