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Opinião
Segunda - 07 de Outubro de 2013 às 23:46
Por: Gabriel Novis Neves

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Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo e professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, concedeu à jornalista Stela Maris uma polêmica entrevista em que demonstra toda a sua desilusão com a noção ultrapassada de progresso adotada pelo Brasil.

Diz ele que a sociedade brasileira está profundamente dividida quanto a sua visão do país e do futuro.

Teme que a maioria da sociedade brasileira goste e fique muito satisfeita sob um regime autoritário.

Fala que o Brasil permanece uma sociedade visceralmente escravocrata, racista e covarde.

Para mudar esse quadro só existe uma via, que é a educação - hoje uma terra devastada, um deserto.

Universidades sem a mínima estrutura física, um ensino médio e fundamental inadequados, professores recebendo uma miséria, as greves de docentes sendo reprimidas, como se eles fossem bandidos.

A “sociedade brasileira” está possuída por um orgulho besta, como se o mundo se curvasse ao Brasil.

O Estado se aliou ao mercado contra a natureza e a cultura.

Enquanto acharmos que melhorar a vida das pessoas é dar-lhes mais dinheiro para comprar uma televisão em vez de melhorar o saneamento, o abastecimento de água, a saúde, a educação fundamental, nada vai mudar.

Um governo que não se cansa de arrotar grandeza sobre a quantidade de veículos produzidos por ano como indicador de prosperidade econômica, é um governo podre, com visão tacanha, um projeto burro para um país capitalista periférico.

Temos um governo comandado por uma pessoa perseguida e torturada pela ditadura realizando um projeto de sociedade encarregado e implementado por essa mesma ditadura: destruição da Amazônia, mecanização, transgenização e agrotoxificação da “lavoura”, migração induzida para as cidades.

Na década de 60 a juventude tinha ideias confusas, mas ideais claros: acreditava e sabia o que queria para o mundo. No geral, os horizontes utópicos se retraíram enormemente.

No Brasil atual apenas dois movimentos chamam atenção. A aceleração da cultura agro-sulista pelo interior do país e a consolidação de uma cultura popular ligada ao movimento evangélico.

A grande novidade na sociedade brasileira foi o surgimento das redes sociais, produzindo o enfraquecimento das mídias por cinco ou seis grupos.

Se alguma grande mudança no cenário político vier a acontecer, creio que vai passar por essa mobilização das redes.

Com relação a um novo modelo político no Brasil, o entrevistado acha indesculpável a falta de inventividade da sociedade brasileira, pelo menos das elites políticas e intelectuais, que perderam várias ocasiões de se inspirarem nas soluções socioculturais que os povos brasileiros historicamente ofereceram e, assim, articular as condições de uma civilização brasileira minimamente diferente dos comerciais de TV.

Está na hora de iniciarmos uma relação nova com o consumo, menos ansiosa e mais realista diante da situação de crise atual.

A felicidade tem muitos caminhos.

 




Autor

Gabriel Novis Neves

foi o primeiro reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é médico gineco (ginecologista e obstetra)

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