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Opinião
Quarta - 14 de Julho de 2021 às 10:51
Por: Gonçalo Antunes de Barros Neto

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Em seu mais famoso trabalho, Suma teológica, parte 1, Tomás de Aquino (1225-1274) estabelece as “cinco vias” e nelas as provas da existência de Deus.

Após discorrer sobre a afirmação de que a Filosofia pode apoiar a Teologia sobre o conhecimento do Criador, tenta responder às seguintes perguntas: A existência de Deus é autoevidente? A existência de Deus pode ser demonstrada? Deus existe? (Paul Kleinman, Filosofia).

A primeira das “cinco vias”, se refere ao argumento do motor imóvel. Neste, explica o pensador italiano, podemos ver que existem coisas que estão em movimento no mundo. Ora, foi posto em movimento por outro que estava em movimento, que também foi posto em movimento por outro e, assim, sucessivamente.

Contudo, como isso retrocede ao infinito, obstando a um motor original, primeiro, já que teria que ter um outro a movimentá-lo, Tomás de Aquino afirma haver um motor imóvel no início, o qual seria Deus.

Há quem sustente a desnecessidade da análise sobre a existência ou não de Deus

O argumento da primeira causa é a segunda das “cinco vias”. Tudo é causado por algo e nada pode causar a si mesmo. Toda causa tem uma causa anterior, o que não seria possível, sob pena de se retroceder infinitamente, se não houvesse uma causa primeira, uma causa não causada por outra. Esta causa inicial é entendida como Deus.

A Contingência é a terceira das “vias”. Ao observar a natureza, temos que as coisas passam a existir e, depois, deixam de existir. Tudo o que existe deriva de algo que já existia. Da mesma forma para as coisas que não deveriam existir, pois, assim, isso não existiria antes e não existiria agora. Em consequência, deve existir um ser cuja existência não dependa da existência de outros, sendo este ser Deus.

Tem-se, ainda, o argumento do grau e, por fim, o teleológico. No primeiro, tem de haver uma causa para a perfeição que encontramos nos seres, que, no grau máximo, deve ser entendida como Deus.

No argumento teleológico, percebe-se a existência de seres inanimados na natureza e que agem na direção de um propósito, ainda que não tenham consciência disso. Então, deve haver um ser que os guia e que tenha conhecimento para direcioná-los para seus propósitos, sendo este ser entendido como Deus.

Essas “cinco vias” estão a demonstrar a necessidade de uma causa ter a sua correlata anterior, tanto em extensão e movimento quanto temporal, e, no que é mais importante, que não retroaja ao infinito, pois devem ter um fundamento, único, primeiro. Essa origem é o motor imóvel, ou seja, Deus.

Aristóteles já havia afirmado a existência de um motor imóvel que seria a causa primária ou motor de todo o movimento no universo. O motor imóvel move outras coisas, mas não é movido por nenhuma outra ação.

Vê-se que as três perguntas iniciais de Tomás de Aquino têm como respostas a afirmação: Deus existe e a sua existência pode ser comprovada por princípios científicos, como o da causalidade. Contudo, pode-se observar que o fundamento, primeiro e último, é a metafísica.

O pensamento científico não pode se contentar com um raciocínio circular, posto contraditório, ou mesmo que leve ao infinito, sem origem estabelecida. E a partir daí nasce a necessidade de se socorrer da metafísica para dar sentido a essa engrenagem que é a natureza de todas as coisas. A existência de Deus é objeto de reflexão metafísica, vale lembrar.

Há quem sustente a desnecessidade da análise sobre a existência ou não de Deus. Bem, aqui o campo é propício para a crença e desejo.

Gabriel Tarde concebe a crença e o desejo como razão e não consequência da organização psíquica como um todo. Para a crença, graus diferenciados de afirmação ou negação. Para o desejo, graus diferenciados de adesão ou repulsa.

De toda sorte, que o desejo leve ao caminho da razão e não só do prazer, e que toda crença faça da alteridade seu motor mais precioso.

Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia e Direito.



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