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Opinião
Segunda - 19 de Julho de 2021 às 09:52
Por: José Pedro Gonçalves

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As palavras têm poder, então use-as como um band-aid, não como uma faca. (Domínio público).

A palavra, qualquer que seja ela, produz sentidos diversos dependendo do seu lugar na frase, do contexto e da entonação como ela é pronunciada. Embora possa ter sentidos diversos, há um sentido que permanece sempre, a intenção pela qual ela foi proferida. Essa intencionalidade proporciona aos que ouvem o discurso a garantia de que o conteúdo da frase traz uma verdade implícita, mesmo que temporária. E essa verdade, mesmo que fugaz, deve ter como consequência uma resposta, tanto no sentido da aceitação, como da negação do que foi enunciado.

Assim, a palavra é a forma de comunicação mais evidente daquilo que se deseja transmitir a alguém, por essa razão, em tempos de grave crise universal, como neste caso de pandemia, cada palavra a ser dita ao público em geral, deve ser medida, pensada e dita de forma clara

Assim, a palavra é a forma de comunicação mais evidente daquilo que se deseja transmitir a alguém, por essa razão, em tempos de grave crise universal, como neste caso de pandemia, cada palavra a ser dita ao público em geral, deve ser medida, pensada e dita de forma clara, limpa e inteligível. E quem deve dizer estas palavras que comunicam uma mensagem com tanta importância e que podem significar, se bem entendidas ou não, em proteção da vida ou uma possibilidade de morte, precisa ter com clareza em sua consciência que é portador de uma responsabilidade impostergável.

Essa deve ser a concepção que os governantes obrigatoriamente devem ter, se não por uma exigência moral, mas e principalmente por uma condição legal e sócio histórica, por se tratar mensagens à cidadãos em condições de vulnerabilidades de alta gravidade – uma pandemia.

A história do Brasil tem sido marcada por governantes de vários matizes ideológicos, entretanto, nenhum deles foi tão desvinculado das responsabilidades, que são obrigações de todo mandatário, como o atual governante. Primeiro pela incapacidade de mostrar um juízo crítico coerente com a própria função que exerce, dando mostras constantes de um deslocamento perigoso entre o que deve ser feito por prescrições constitucionais e litúrgica, e as atitudes assumidas publicamente. Algo inédito na história brasileira.

Só este fato em si, já pressupõe a existência de uma permanente dúvida de como as coisas da res pública serão resolvidas, pois o que se espera, por conta dessas práticas idiossincrásicas, é o inesperado, o singular aquilo que pode causar mais transtornos e problemas do que soluções objetivas e normais.

Outros exemplos se somam à esse anterior; por exemplo: as verborrágicas agressões desprovidas de razão e de sentido, diante de um questionamento qualquer que não seja do agrado dos ouvidos presidenciais, o que é seguido de impropérios, especialmente quando os interlocutores são mulheres jornalistas, ferindo não só bom senso, mas a moralidade pública, algo nunca visto em qualquer presidente que governou este País.

Outro exemplo considerado catastrófico é a assunção de medidas sanitárias criminosas, como a prescrição pública, em rede nacional de rádio e televisão, de medicamentos absolutamente não indicados para o tratamento da Covid 19, o que configura infração do artigo 282 do Código Penal, ao exercer a medicina sem jamais ter passado por uma escola médica. Isso sob os olhares complacentes e bajulatórios do Conselho Federal de Medicina.

As palavras, neste caso, configuram crime, como em muitos outros, quando ofende altas autoridades ou produz acusações sem nenhuma prova, como no caso das urnas eletrônicas.

Os defensores do suserano torcem o nariz, embora desejando torcer o meu pescoço, diante das palavras que escrevo, mas minhas palavras são pensadas, analisadas e criteriosas de modo a atingir um objetivo, esclarecer a sociedade sobre o que está acontecendo no Brasil. Para esclarecer melhor ainda, o porquê do adjetivo ‘suserano’. Está no dicionário: “durante o feudalismo, dizia-se de ou aquele que tinha domínio sobre um feudo de que dependiam outros feudos; senhor, senhor feudal”. Mais do que isso, esses suseranos sentiam-se proprietários de tudo e de todos, incluindo aí a virgindade das donzelas na noite de núpcias. O que é próximo do já tradicional “quem manda sou eu”.

A Constituição Federal diz com todas as letras que não existe um senhor absoluto com todos os poderes, pois o Poder real, está constituído por três poderes harmônicos e independentes, logo para existir a harmonia é essencial que haja respeito, tema já abordado em artigo anterior. Entretanto, o que se percebe é que essa palavra não existe no léxico do suserano, mas afeito a opróbrios do que a polidez.

Por causa de palavras sem sentido e desconforme com a real necessidade do momento crítico, milhares de pessoas se descuidaram, deixaram de usar máscaras, de manter uma distância segura de outras pessoas, fizeram o tal “tratamento precoce” com cloroquina e acabaram contaminadas. Mesmo se não tivessem morrido, acabaram distribuindo o coronavírus por onde passaram, principalmente a seus familiares mais próximos.

A palavra saída da boca de um mandatário ganha fé pública, ou seja, passa a ser aceita por uma boa parte da população como uma regra a ser seguida. Além do mais, a palavra que difunde o ódio incentiva mais ódio e ódio é tudo o que nenhum povo deseja para si nem para outros povos. O que tem sido observado é que da boca do suseranos o ódio tem saído com tanta frequência que não se sabe ao certo qual a linha político-ideológica que ele segue, porque o ódio não costuma fazer parte de nenhuma doutrina política no Brasil.

Por último quero propor aos brasileiros que, em vez de ódio, vamos difundir o respeito, o reconhecimento do outro, das diferenças e da diversidade como modelo de vida nacional. Para isto basta querer. E se quisermos, todos, poderemos acabar com a violência do ódio com as nossas práticas de amor no sentido dado por Humberto Maturana – amor é o sentimento do domínio das emoções que permite reconhecer o outro como legítimo outro na convivência. E conviver é viver com, ou seja, aceitar o outro como ele é. Que assim seja!

JOSÉ PEDRO RODRIGUES GONÇALVES é doutor em Ciências Humanas..



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