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Opinião
Segunda - 09 de Agosto de 2021 às 11:00
Por: Gonçalo Antunes de Barros Neto

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A intencionalidade no domínio prático abarca o desejo, aspiração, vontade. A partir dessa intencionalidade, a ação das pessoas é julgada em termos da direção que elas imprimem a essa ação, e não pela eficiência em produzir o bem-estar, a felicidade.

Para Tomás de Aquino, a intencionalidade é o ato da vontade, aquilo que se move para um fim (Filosofia, Abbagnano, Dic.), diferentemente de Aristóteles em que a análise do ato moral é feita com base na ética da eficácia em produzir felicidade etc. (ética do móbil).

Em Weber, deve-se saber se a intencionalidade (a vontade pura) basta para a justificação ética, segundo a máxima cristã: o cristão age bem e deixa por conta de Deus as consequências de sua ação; ou a responsabilidade pelas consequências previsíveis da ação deve ser tomada em consideração (idem).

As instituições costumam primar por códigos éticos, instituindo normativas que sustentam um não agir por parte de seus membros. Nem sempre, contudo, possíveis de revelarem intencionalidades fundamentadas em posições conservadoras e até aristocráticas, sem se descuidar das religiosas, que ficam quase sempre veladas e pouco debatidas, se perdendo nos emaranhados formais e interpretativos.

A intencionalidade no domínio prático abarca o desejo, aspiração, vontade

Os rituais se sucedem e com eles a pouco reflexão sobre a dimensão e o verdadeiro alcance de seus termos. São códigos para neutralizar qualquer “rebeldia” e enquadrar a quem se dirigem numa quadra preestabelecida de modelos comportamentais.

Um juiz “só fala nos autos”, “o que não está no processo, não está no mundo”, “cidadão de bem”, “família estruturada”, “cidadão médio”, “bom pai de família”, e assim por diante, criando estruturas socias com a intenção de universalidade e generalidade.

Palácio do Planalto, palácio da Justiça, palácio Guanabara, Laranjeiras, vestes talares, aventais, mantos, jalecos, batinas ou sotaina, divisas e estrelas, das mais variadas pompas e cores a ensejar hierarquia ou diferenciação; talvez, e muito provavelmente, até distanciamento da realidade dos que estão na planície.

Mas qual a intencionalidade (desejo, aspiração, vontade) disso tudo? Qual o fim perseguido? De Gaulle disse não haver autoridade sem prestígio e nem prestígio sem distanciamento. Será isso o fim buscado, a intencionalidade de seus devotos?

A natureza é indiferente aos homens, que, ressentidos, dão sentidos às coisas e acreditam estar no centro das atenções do mundo; de um mundo que está inserido numa galáxia, que é somente mais uma entre bilhões de outras. O universo é incompatível com o tempo dos homens, que insistem em acreditar que o sol ali está para lhes aquecer e a lua para ornar seus pesadelos ou mesmo brilhar nos seus versos.

Desde que Jung, baseado nas teorias do pensador medieval Eckhart, distinguiu o “ego da Self” o homem tenta o retorno a si mesmo, à totalidade, à individuação. Mas o ego, cristalizado, já repousa sob as feridas da personalidade. É uma batalha que poucos conseguem superar e não retornam a si mesmos, transcendem e acreditam, alguns, em ser depositários de antídotos salvacionistas a emprestar as próprias habilidades e inteligências aos da planície; plateias, estes, à espera de consolo, do messias que resguardará a todos da miséria moral da humanidade. O inferno são os outros (Sartre).

As intencionalidades, se não forem justificadas por si, não costumam transparecer para qualquer um; antes, gostam da escuridão, da sombra e da cortina. Casam com as formalidades, ilusões, gestos e rituais. Somente o processo reflexivo, aferindo os reais desejos, pode levar alguém a enxergar as consequências.

É por aí...

Gonçalo Antunes de Barros Neto é magistrado, formado em Filosofia, mestrando em Sociologia pela UFMT.



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