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Opinião
Segunda - 16 de Agosto de 2021 às 09:23
Por: Maria Ida Ferreira Pires de Camargo

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A prescrição de psicofármacos para crianças e adolescentes teve forte crescimento nos últimos anos. Os motivos são diversos, dentre os quais podemos destacar dificuldade de concentração, oscilação de humor, inquietação e rebeldia. Mas será que esses comportamentos podem ser tratados como sintomas ou apenas como frutos da manifestação da pluralidade do indivíduo?

Pensando a medicalização no contexto infantil, o ambiente escolar torna-se campo propício para a produção desse tema, pois é o insucesso escolar que justifica os processos medicalizadores e os diagnósticos precipitados. Para Brzozowski e Caponi (2013), se uma criança não aprende a ler com determinada idade ou se tem dificuldade em prestar atenção na sala de aula, isso pode ser considerado um desvio e o jovem é encaminhado para um profissional de saúde.

Os desvios da infância são aqueles relacionados com a quebra de normas e de regras socialmente impostas, como por exemplo a falta de atenção e a agitação em sala de aula. Importante considerar que essas imposições de atenção e calmaria dizem mais das necessidades do adulto do que da própria criança.

Os “diagnósticos” rápidos que emergem no âmbito escolar, regra geral, são precipitados e irresponsáveis. O questionamento a se fazer é: o que traz mais preocupação, uma criança ativa, que não consegue ficar quieta em sua cadeira por 4 horas seguidas ou aquela que não se incomoda com isso? Qual o tamanho da pretensão daquele que supõe diagnósticos, acreditando saber o que convém ao outro, o que convém a uma criança, como tentativa arrogante de implementar um padrão?

Ademais, a infância tem sido alvo da cultura do consumo e os remédios não ficam de fora. A indústria farmacêutica, ao conceber a criança como um potencial consumidor de fármacos, busca elevar seus medicamentos a um patamar de produto a ser consumido, oferecendo soluções médicas para suprimir os indesejáveis efeitos da individualidade.

E essa busca pela solução dessas “dificuldades”, nos remete a uma reflexão: quais efeitos são produzidos na vida dessa família que recebe a queixa escolar e como isso é repercutido no modo com que lidam e encaram este “novo estranho familiar” que até então não se tinha notícia.

É nesse sentido que a medicalização e a farmacologização ganham força, em decorrência do desespero e/ou da falta de conhecimento, já que “normalizar” seria a resposta. A recuperação de um filho idealizado que se perde na queixa escolar, abre espaço para a resistência, propondo novas subjetividades para além desses ideais, papel este que o psicólogo pode fazer independentemente do campo de atuação em que está inserido.

Estabelecer um padrão, rotulando uma característica peculiar de uma criança e identificando como aspecto negativo, faz com que ela se reconheça a partir dessa perspectiva, o que não será benéfico para a construção saudável da personalidade.

Diante do exposto, é pertinente que se faça o seguinte questionamento: estamos dispostos a entender que não existe apenas o caminho da dualidade normalidade versus anormalidade? A sociedade e as famílias estão preparadas para entender que o comportamento idealizado de uma criança pode seguir a trilha da diversidade?

Maria Ida Ferreira Pires de Camargo

Psicóloga



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