Os modelos mentais Os modelos mentais
O pensamento mais vivo é sempre inferior à mais remota sensação. Esta sentença resume em boa parte o pensamento de David Hume (Investigação Sobre o Entendimento Humano), pensador britânico (nascido na Escócia), que se tornou célebre pelo seu empirismo radical e ceticismo filosófico.
Prossegue Hume afirmando que, embora nosso pensamento pareça ser imensamente livre, verifica-se que ele está preso a limites bastante reduzidos e que todo poder criador da mente não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais fornecidos a cada um pelos sentidos e pela experiência.
Contudo, é necessário frisar que a mistura e composição (unidade, sentido, conexão) dos elementos do pensamento dependem da mente e da vontade.
“Todas as nossas ideias ou percepções mais fracas são imitações de nossas mais vivas impressões ou percepções” (idem).
O pensamento mais vivo é sempre inferior à mais remota sensação
Há, então, um princípio de conexão entre os diferentes pensamentos ou ideias da mente humana que, ao se apresentarem à memória ou à imaginação, se inserem mutuamente com certo método e regularidade.
Conclui o citado pensador afirmando haver somente três princípios de conexão entre a ideias, a saber: o de semelhança, de contiguidade (no tempo e espaço) e de causa e efeito. Esta última é a que mais se materializa nesta reflexão.
Sendo as pessoas racionais, buscam sempre um propósito ou intenção, como a paz, a felicidade ou ainda o conflito, se este estiver introjetado no seu modus de vida, considerando aqui aspectos oriundos das sensações externas e internas (impressões e percepções) que passou ao longo da própria existência.
É possível mudar a trajetória de uma pessoa beligerante, hostil, que vive na defensiva e faz da conflituosidade um campo particular de tentativa de solução das próprias divagações existenciais?
Os modelos mentais que fundamentam uma opção pessoal são dos mais variados, obrigando a Filosofia (Psicologia, Psiquiatria, Sociologia e Ciência política) desde Platão e Aristóteles até os dias atuais a debruçar sobre o SER, ENTE etc., corpo, alma, mente, desejo, vontade e paixão.
A tarefa não é fácil, antes, da mais complexa e árdua. Não é só o ambiente e os conflitos experimentados pelo indivíduo ao longo da sua trajetória de vida, mas as percepções sobre eles, impressões, sentimentos, desejos e vontade, esta última já na condição de resultado, diria, no caso, até vítima, já que, apesar de atuar no campo da racionalidade e da consciência, a sua origem é influenciada pelos demais.
Como trabalhar uma existência assim “formatada”? Se se começar pelas causas, o tempo e as variantes desencorajariam qualquer tentativa. Pelo resultado (efeito), ter-se-ia que passar pelo convencimento, primeiro, minimizando e “repaginando” a cada instante a vontade do “indócil” vivente.
Quem se aventura?
A partir daqui nascem as soluções de matizes extremas. Começam as tentativas de fazer do complexo, panaceias de retórica matemática, como a política de aviltamento de honras e instituições, prisões e fuzilamentos, que desaguam em fundamentalismo e terrorismo.
Meus caros, quando a maré sobe os peixes mais inteligentes e preparados acabam por confundir necessidade com protagonismo suicida, e, por incolumidade e sobrevivência moral, fogem do terreno pantanoso, de “corixos” sempre habitados por cobras venenosas.
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto é magistrado e tem formação em Filosofia pela UFMT.
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