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Opinião
Quinta - 26 de Agosto de 2021 às 06:21
Por: Keka Werneck

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Meu filho mais novo, o João, completa 4 anos neste sábado, 28 de agosto. Desses, três foram sob meus cuidados e do meu marido, o pai dele. João é o que chamam de filho adotivo.

Chegou na nossa vida uma semana após o primeiro aninho. É o amorzinho da minha vida, das nossas vidas, do pai e da irmã, principalmente.


Para falar desse sentimento, palavras não dão conta. Sua existência vai fundo na minha alma, oh meu Deus, como sou grata pela vida dele. Aloja-se no quentinho do meu coração, onde foi gerado. Estamos conectados por um fio de luz invisível aos olhos – mãe e filho. Não se trata do bem que fiz a ele, nem do bem que ele me faz. Mas do grande encontro que tivemos.


Queria aproveitar esta data para tentar desmistificar alguns aspectos da adoção.


Uma pergunta que sempre me fazem e que inclusive eu me fazia, antes de adotar, é se o amor é o mesmo.


Um filho parido do próprio útero tem com a mãe um elo fortíssimo, coisa de pele, cheiro e conexão. Como alcançar tamanho envolvimento com alguém que veio de outras paragens? Simples, o sentimento surge, cresce, flui, transborda.

Não façam bicho de sete cabeças. Adotar é incrível. Me sinto uma privilegiada


Diferentes são somente as histórias de como nasceram, como era o dia, quem estava por perto e participou da emoção do momento, detalhes que ficam na história. Só isso ou tudo isso.


Outro ponto de tensão é acreditar que filhos adotivos são problemáticos. Dão mais dor de cabeça que os biológicos. Não é verdade, gente, e – para os incrédulos - há pesquisas comprovando isso.


A grande verdade é que filhos dão trabalho, exigem atenção e precisam de afeto.


Essas crianças, desligadas das famílias biológicas, são pessoas, ok? Não bonecos ao bel prazer de quem quer ser pai e mãe. Se passaram por situações desagradáveis, violentas, arriscadas, de abandono, não haveriam de reagir? De demonstrar carência? De sentir insegurança? De também responder com alguma violência? E o medo da rejeição? E o medo do adulto desqualificado para maternidade, para a paternidade? Então, apontar o dedo e condená-las como problemáticas é uma crueldade.


Por fim, não é difícil contar ao filho que ele foi adotado. Eu não acho. Por acaso, você sentiria dificuldade em relatar uma cesariana, um parto normal? Claro que não. Então, é só contar a verdade desde cedo, relatar esse nascimento na família que o acolheu. Não como demérito, mas, muito pelo contrário, como algo maravilhoso, do qual podemos nos orgulhar e agradecer inclusive.


Se por acaso, surgir o interesse pela história pregressa, é só ajudá-lo a compreendê-la. Pelo menos eu penso, assim, todos temos o direito de saber da nossa origem.


Não façam bicho de sete cabeças. Adotar é incrível. Me sinto uma privilegiada. Te amo João, amor da minha vida, nunca me agradeça por te acolher, eu que agradeço a você, obrigada, meu filho, por me escolher como mãe e me adotar e me dar tantos motivos para sorrir.

Keka Werneck é jornalista.



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