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Opinião
Domingo - 29 de Agosto de 2021 às 07:10
Por: Renato de Paiva Pereira

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215 milhões de pessoas, entre elas eu e você, embora nem sempre nos lembremos disso, temos partes iguais na fazenda chamada Brasil, cuja administração sempre terceirizamos para algum (ir)responsável, por tempo determinado. Há alguns anos – só pra rememorar - colocamos lá um gerente, cuja principal virtude, apresentada no currículo, era a honestidade.

Vencido o contrato de trabalho, o esperto gerente, convenceu-nos a colocar em seu lugar uma antiga amiga dele, que sempre o ajudara durante o tempo que (des)cuidou da fazenda.

Assim que deixou o cargo, começaram a aparecer coisas estranhas e mal explicadas, com as contas do empreendimento. Descobriu-se, por exemplo, que vários fornecedores metiam a mão em nosso bolso, superfaturavam produtos e serviços, lucrando bilhões de reais desonestamente.

Confrontados com as provas que foram produzidas, os fornecedores, diante das evidências, confessaram o crime e devolveram parte do dinheiro desviado. Alguns, por conta dos malfeitos, passaram férias forçadas atrás das grades, e outros foram obrigados a portar um adereço desconfortável, preso no tornozelo.

O primeiro administrador citado, foi condenado pelas mixarias que recebeu e não pelos bilhões que foram desviados. O atual, pode pagar, quando deixar o emprego, por crimes menores, e nunca ser julgado pelas mortes que não quis evitar

Soubemos depois – lembram-se? - que o administrador recebeu dos empreiteiros, como agradecimento pela facilitação de seus negócios, uma reforma completa em um apartamento que comprara, além de um upgrade no sítio de recreio, onde passava os finais de semana, tomando um bom uísque e comendo picanha nobre.

Algum tempo depois de deixar o emprego, o trabalhador em questão, se é que podemos chamá-lo assim, foi punido por ter aceitado os agrados dos empreiteiros na reforma do apartamento e na melhora do sítio.

Pelas merrecas recebidas: cozinha planejada, móveis da moda, churrasqueiras e pedalinhos no laguinho artificial, o ex-gerente passou 580 dias preso, mas nunca foi julgado pelos bilhões de reais que deixou os empreiteiros roubarem da fazenda.

Entretanto, onze, dos 215 milhões de donos da fazenda, a quem cumpre decidir o destino dos demais, de repente se convenceram de que houve erro na condenação, e para nosso espanto, anularam as penas do ex-empregado.

Não só perdoaram, com ainda reabilitaram o currículo que estava manchado. Agora, todo faceiro, ele anda falando por aí, que os onze magistrados, com suas atitudes, confirmam sua inocência: “nunca na história deste país, houve alguém mais honesto que eu”, repete sempre.

Mas o pior é que muitos dos nossos sócios (meus e do leitor), estão dispostos a readmitir o antigo gerente, convencidos de que os que vieram depois dele, são, potencialmente mais lesivos.

O que está no cargo, por exemplo, colocou a fazenda em polvorosa, e muitos donos temem que ele se recuse a sair, quando vencer o tempo combinado. Mas, a maior queixa contra o administrador, é que apareceu uma doença nova que está matando os proprietários, e ele se recusou a adquirir as vacinas que evitariam milhares de mortes.

O gerentão, a despeito das reclamações gerais, condenou os humanos a buscarem, por conta e risco, pagando com vidas, a improvável imunidade de rebanho

O primeiro administrador citado, foi condenado pelas mixarias que recebeu e não pelos bilhões que foram desviados. O atual, pode pagar, quando deixar o emprego, por crimes menores, e nunca ser julgado pelas mortes que não quis evitar. Ou, como diz a Bíblia (Mateus 23:24), coam um mosquito e engolem o camelo.

RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor.



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