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Opinião
Sábado - 04 de Setembro de 2021 às 07:22
Por: Emanuel Filartiga

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Em visita ambiental, para verificar danos, desmatamentos, ilícitos ambientais, encontramos uma árvore imensa, uma figueira, me disseram. Está aqui há muitos anos, antes mesmo dos produtores rurais, sobreviveu aqui no meio de uma pequena floresta, uma “árvore primária”.

Quem me falou são amigos que me levaram até o local, conhecem as redondezas e aproveitaram para colher sementes. Sim! Os meninos são coletores de semente! Isso me impressionou muitíssimo. Senti-me bobo, achei meu trabalho um tanto tolo, mórbido, ao vê- los procurando sementes e eu procurando danos, mas pensei que de alguma forma estávamos ligados e isso me confortou.

Sempre lembro que somos mais sementes que frutos. As sementes de hoje não têm preço

As sementes são, de verdade, muito queridas a mim desde que, quando pequeno, em Campo Grande, sonhava em ser uma árvore.

Meu pai dizia que se eu engolisse uma semente brotaria uma planta dentro de mim, ele dizia que não cresceria tanto, porque eu era pequeno e as plantas precisam de espaço para crescer…. Tenho minhas dúvidas até hoje se isso é verdade.

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Os meus amigos colhedores de semente falavam das árvores e das sementes como se falam de amigos próximos. Contaram-me da saboneteira, você esfrega na mão e parece espuma de sabão. Sabem da hora certa das sementes, diziam estarem prontas, diziam estarem verdes, que não estava na hora ainda, teriam que voltar dali algumas semanas.

De ver, eles me diziam das árvores que estavam ali antes e as que vieram depois, as florestas secundárias, sabiam disso pela altura e nome dos vegetais… eu disse: viam-nas como amigas!

Um deles expressou que a natureza está tão preocupada com a vida que uma árvore, que poderia se reproduzir dando apenas uma semente, oferece milhares à terra. Com a ajuda do vento e dos bichos, completou o outro.

Sempre lembro que somos mais sementes que frutos. As sementes de hoje não têm preço. “Saiu o Semeador a semear. Semeou o dia todo e a noite o apanhou ainda com as mãos cheias de sementes”.

Ah! Encontrei os danos ambientais, apanhei latitude e longitude, agora os técnicos ambientais acharão o local.

Emanuel Filartiga é promotor de Justiça em Mato Grosso.



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