O macaco e o burro Uma metáfora para entender a danosa briga entre a Presidência e o Supremo
Juízes, pela natureza da profissão, carregam o ônus/bônus de serem admirados ou odiados, conforme suas decisões agradem a uma ou a outra parte, por isso é normal que muitos acusem de tendencioso o nosso Supremo.
Acho que o STF está na média das instituições brasileiras, entretanto o Presidente, com certeza, muito abaixo dela. Este, a julgar pelas notícias que abundam na mídia, revela-se um Lula de direita. O petista foi condenado por embolsar “dinheiro de pinga” pra reformar o Sitinho de Atibaia, e o Bolsonaro provavelmente vai, ao fim do governo, pagar junto com seus filhos, pelas merrecas que supostamente tomava mensalmente dos funcionários dos gabinetes parlamentares.
Presidência da República e STF disputam há alguns meses uma briga tão nociva para o País, que socorro-me de uma piada para explicá-la. Ela (a piada) é tosca, grosseira e vulgar, por isto vai demandar-me muita firula literária para torná-la um pouco mais suave, propósito que provavelmente não alcançarei.
Presidência da República e STF disputam há alguns meses uma briga tão nociva para o País, que socorro-me de uma piada para explicá-la
Eis que, em uma cálida manhã ensolarada, como sói acontecer nos meses de setembro, (veja, caro leitor, que já procuro aliviar a aspereza da piada com algumas pinceladas de romantismo extemporâneo), pastava debaixo do bosque um austero burro de carga, indolentemente entregue à sua simplória filosofia.
Sobre as árvores, um travesso macaco, pulava de galho em galho, procurando alguma coisa para exercitar as safadezas, aquelas mesmas que os humanos, costumamos atribuir a esses nossos imprudentes primos.
De repente, anteviu a possibilidade de divertir-se à custa do burro, que alheio aos intentos do primata, espantava languidamente as moscas importunas com balanços pendulares do rabo, expondo as partes pudendas a cada movimento.
O atrevido macaco, imaginou uma aventura sexual com o asno, que segundo pensava, se pego de surpresa, não teria como se defender do ataque. E zás! quando a vítima percebeu, já estava coitada pelo ardiloso símio.
Em ato reflexo, próprio de quem não está acostumado com essas práticas menos ortodoxas, o mulo trancou a extremidade com tal vigor, que o atacante, diante da provável mutilação, quis desistir imediatamente da empreitada. Entretanto, não conseguiu libertar-se, preso que estava pelo seu apêndice, agora quase degolado.
Aí, instalou-se um dilema na cabeça de cada animal: a vítima pensava que, aliviando a pressão, o agressor aproveitaria o vacilo para aprofundar a ofensa, e o nosso maldoso parente, arrependido da façanha, torcia para ser libertado daquela agonia.
Esta historinha serve de metáfora para entender a danosa briga que está sendo travada ente o Supremo e o Presidente da República. Após ofensas variadas, cada um acha que se ceder o outro amplia a agressão. Na verdade ambos querem sair desta sofrida situação, mas não sabem como entrar em acordo.
Neste episódio, não distingo o Macaco do Asno, ou se eles revezam a posição (agressor/vítima) em situações diferentes, mas sei que apareceu uma astuciosíssima Raposa – não presente na piada original - que convenceu um a aliviar a constrição e outro a não perder tão rica oportunidade para sair dessa briga perniciosa.
Devemos a melhoria da situação de greve dos caminhoneiros que tendia a paralisar de novo o Brasil como em 2018, ao Michael Temer, finória Raposa que conseguiu uma trégua, ainda que temporária, entre o Presidente e o STF.
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor
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