O medo de Bolsonaro Bolsonaro nos quer tristes, apáticos, sem vontade de viver. Todos os dias ele deixa isso claro
Bolsonaro nos quer tristes, apáticos, sem vontade de viver. Todos os dias ele deixa isso claro, ao negar direitos básicos à população, especialmente a mais vulnerável, e ao fazer declarações que incitam o ódio, a violência, a misoginia, o racismo, a LGBTfobia. Sem um presente minimamente digno, é difícil criar perspectivas.
A capacidade de sonhar com um futuro melhor não se ampara em energias positivas. É preciso ter um corpo que sustente toda essa crença.
Mas Bolsonaro nos quer fracos, doentes, mal alimentados. Em 12 meses, a cesta básica subiu em todas as capitais brasileiras, com aumentos próximos dos 30%, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O corpo já não aguenta fazer malabarismos para equilibrar as altas nos preços dos alimentos. É menos ainda capaz de produzir energia para o embate. Assim ele nos quer.
Os que conseguem se alimentar de pão, arroz, feijão e “otras cositas mas”, apesar dos sinais vitais do corpo, estão doentes da cabeça. Ansiedade nas alturas, crises de pânico, crises existenciais, desesperança. Mais da metade dos brasileiros entrevistados por uma pesquisa encomendada pelo Fórum Econômico Mundial declararam que sua saúde emocional e mental piorou desde o início da pandemia.
Não é coincidência que o Brasil tenha sido classificado como o país com a pior gestão da crise sanitária causada pela Covid-19, conforme apontou um estudo do Instituto Lowy, da Austrália.
Bolsonaro nos quer tristes, apáticos, sem vontade de viver. Todos os dias ele deixa isso claro
Bolsonaro também nos quer desesperados, perdidos, sem rumo. Lança uma mentira aqui e outra ali, faz chacota com o assunto mais sério do momento, desmoraliza a imprensa, passa vergonha no exterior.
Uma coleção inteira de cortinas de fumaça para todos os gostos. Assim ele pretende nos entreter, com um show barato e de péssimo gosto que não tem a menor graça.
Bolsonaro nos quer sem brilho nos olhos, sem aquela sensação de “poxa, está difícil, mas a gente tem coisas para celebrar”, acompanhada de um copo de cerveja gelada na companhia de amigos.
A cerveja não tem mais o mesmo gosto, nem o mesmo preço. Mas como para tudo nessa vida há uma desculpa, quem se nega a ver o óbvio pode dizer que está fazendo um detox. Ou que desenvolveu uma intolerância. É preciso ver o lado positivo das coisas, não é mesmo?
Bolsonaro nos quer ignorantes, desmobilizados, fora das escolas, das universidades, dos parlamentos, das instâncias de poder. Para nós, ele quer reservar as margens.
Não, não é por acaso. É um projeto político, não é (só) despreparo. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse outro dia que há um excesso de universidades no Brasil. É curioso que a própria Agência Brasil tenha publicado matéria sobre um estudo, no final de 2019, que apontou apenas 32,7% dos jovens de 18 a 24 anos estudando no ensino superior. A matéria classificou como muito restrito o acesso ao ensino superior.
Mortos. É assim que Bolsonaro nos quer. A pandemia abriu os caminhos e ele deitou e rolou. Celebrou também. Sujou nossa bandeira das maneiras mais nojentas e patéticas. São 599 mil pessoas mortas pela Covid-19 e nenhum respeito por parte do presidente, que desfila por aí sem máscara de proteção e, literalmente, enfia cloroquina goela abaixo das pessoas.
Escândalos envolvendo compra de vacinas, alteração de atestados de óbitos, utilização de pessoas como cobaias de medicamentos ineficazes. Tudo faz parte de um projeto político.
Bolsonaro quer tudo isso por uma razão. Ele se sente ameaçado e sabe que não há outra forma de se manter no poder. O medo o cerca todos os dias e ele reage atacando, porque é o único recurso que possui, e quer que nós também tenhamos medo. Está encurralado e, como péssimo ator, não consegue demonstrar a mínima segurança.
Sobreviver tem sido nosso desafio, mas um ainda maior nos espera no ano que vem. E ele sabe disso, ele teme isso.
Não há mais espaço para escolhas incertas ou mornas. Como diz a canção: “Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé”. Nossa hora vai chegar.
Nara Assis é jornalista e servidora pública.
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