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Opinião
Segunda - 01 de Novembro de 2021 às 06:16
Por: José Pedro Rodrigues Gonçalves

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Cá estou debruçado sobre livros, tentando esmiuçar o sentido daquilo que conhecemos (muito superficialmente) como saúde. Muitas definições existem e a palavra definição não costuma fazer parte de meu repertório lexical por uma razão muito simples: definir significa primariamente estabelecer limites; delimitar. Ora, se estamos tentando compreender com mais profundidade o sentido daquilo que é saúde, como, de início já estabeleça um limite?

Então vamos dar mais um passo. Saúde é resultado de uma convivência harmônica, equilibrada, respeitosa com o meio ambiente, ou seja, com tudo aquilo que nos cerca, desde que não sejam apenas e exclusivamente edifícios, asfalto, concreto armado. O ser humano necessita, e necessita muito, conviver no e com o mundo natural, principalmente com aquilo que o ser humano desumanizado está destruindo a passos largos, as florestas. Tudo para garantir, segundo os predadores, alimentos para as pessoas das cidades. Eis uma belíssima falácia.

Se olharmos com um mínimo de atenção nas páginas dos documentos científicos, e a Embrapa está aí mesmo para comprovar o que vou dizer – existem conhecimentos mais do que suficientes que demonstram, que ensinam como produzir com um máximo de produtividade (eis uma palavra bem ao gosto dos produtores), mas...

Sabe-se, e muito bem, que a destruição ambiental é causa evidente de endemias, epidemias e, até mesmo, pandemias

Poucos sabem manusear esses espaços de saberes extremante úteis e que, muitas vezes, permanecem em bibliotecas à disposição de quem quiser usar. Não sabem, virgula, penso que muitos não desejam utilizar tais conhecimentos porque estão concentrados em suas práticas tradicionais e não desejam mudá-las. Certamente porque desconhecem que poderiam ter muito mais resultados (leia-se lucro) se praticassem uma agricultura orientada pela ciência, que felizmente, no Brasil está bastante desenvolvida e ao alcance de quem desejar. Reitero, a Embrapa está aí bem pertinho de todos nós.


Quando não se pratica uma agricultura sustentável, o que se tem? Grandes desmatamentos, queimadas, baixa produtividade e, algo ainda pior: centenas de milhares de toneladas de terras que são carreadas pelas enxurradas e levadas em direção ao Pantanal. Devido a pouca declividade dessa planície inundável, as águas contendo essas terras em suspensão, sofrem uma decantação e se depositam no fundo dos rios, causando o que ouvi de um pantaneiro- “pacu tá comendo carandá no cacho”.

Como assim? Peixe não voa. Pois é! De tanto assoreamento, de tanto depósito de terra no leito dos rios, ocorre uma elevação, o que o torna raso e nas enchentes, as águas sobem bem mais do que o normal, possibilitando que os peixes possam comer os frutos do carandá lá mesmo, nos cachos.

Com a destruição da floresta amazônica, especialmente a de Mato Grosso, ocorreu uma mudança no regime das chuvas e menos água chegam ao Pantanal, causando secas e, por isso, as queimadas passaram a frequentar anualmente o que antes era um mundo molhado. Agora é um mundo olhado com pesar pelo mundo inteiro por causa das mortes, aos milhões, da fauna e da flora pantaneira.

Eis o resultado da agricultura insustentável no norte de Mato Grosso. Contrapondo a esses predadores, já existe um grupo considerável de produtores que se organizaram em uma “Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura” que vem lutando fortemente por um agronegócio sustentável. O que eles têm em mente? Serem reconhecidos por uma produção sustentável e que seja aceita pelo mercado mundial. Do contrário, estarão fadados a falência futura porque, cada dia mais, o mundo rejeita tudo o que foi produzido em atividades poluidoras e que degradam o meio ambiente.

O exemplo das madeiras exportadas clandestinamente com notas fiscais falsificadas e avalizadas pelo Ibama, devolvidas e denunciadas pelos Estados Unidos, é prova mais do que concreta da impossibilidade de se prosseguir no caminho da predação ambiental em todos os sentidos.

A Comunidade Europeia já deixou com muita clareza e ênfase que não aceita e nem aceitará mais produtos agroflorestais sem comprovação de origem sustentável, mesmo assim, o governo (será mesmo governo?) brasileiro insiste em uma política ambiental destrutiva, catastrófica e na contramão das práticas aceitas universalmente. Prova disso, é o descaso com a COP 26 - A Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, quando os governos do mundo se reúnem na Escócia para discutir e tomar uma posição firme em defesa da vida no Planeta.

O Brasil, que já foi um dos principais protagonistas nos debates em defesa das questões ambientais, tornou-se, atualmente, um pária diante do mundo, tanto que o Presidente, desmoralizado perante os governos estrangeiros, escapuliu-se, com uma desculpa esfarrapada – receber um título de cidadão de uma aldeia italiana cuja importância é ser plantadora de batatas. Foi, literalmente, plantar batatas.

A Comissão Brasileira foi liderada pelo Ministro do Meio Ambiente, ou seria meio ministro desambientado, porque até agora ninguém viu coisa alguma produzida por ele, nenhuma ação minimamente importante em defesa daquilo para o qual foi nomeado.

O Planeta caminha para a catástrofe e, por aqui, grassa o desflorestamento, garimpos em terras indígenas, queimadas, desertificação, crise hídrica, tarifa energética pendurada nas alturas dos descalabros oficiais. Enquanto o povo passa fome, o jornal O Estadão noticiou que o “Ministro do Meio Ambiente exige cardápio com sanduíche de filé mignon, iogurte e bandejas de frios em voos oficiais”.

Eita Brasil! Que moral tem um indivíduo como esse para falar alguma coisa em defesa da vida no Planeta? Defender o quê? Só se for os garimpeiros em terras dos povos originário, que recebem uma sub-reptícia cobertura oficial, os desmatadores apoiados pelo suserano e seus sequazes vestidos de verde espúrio, como se fossem proprietários da bandeira nacional. Conspurcam-na!

Transformada em mortalhas de mais de seiscentos mil brasileiros mortos pela COVID 19, sob o olhar de paisagem do governo e apoiado pelo Presidente da maior Instituição do segmento médico no Brasil, o CFM, que insiste em apoiar o uso de medicamentos sem nenhum efeito sobre a Covid, mas excelente para desencadear arritmias em pessoas com problemas cardiológicos.

Pior ainda, em reunião do Conitec-MS, órgão que autoriza o uso de novos medicamentos para uso no SUS, o representante do Conselho Federal de Medicina votou a favor do uso de cloroquina para tratar COVID 19, contrariando todos as organizações científicas do mundo inteiro, incluindo a OMS, que desaconselham o seu uso. Ou seja, o CFM está contra a ciência e a favor da morte das pessoas, algo que me envergonha sobremaneira.

Sabe-se, e muito bem, que a destruição ambiental é causa evidente de endemias, epidemias e, até mesmo, pandemias. Algo que nenhum cientista sério não nega, porque saúde é consequência do nosso modo de vida, do lugar onde vivemos e dos espaços onde habitamos. Logo há uma correlação intima e permanente entre saúde e meio ambiente.

Daí que, a defesa do meio ambiente, a conservação da natureza e a defesa do equilíbrio ambiental é a melhor maneira de garantir a saúde das pessoas, da vida do e no Planeta.

JOSÉ PEDRO RODRIGUES GONÇALVES é doutor em Ciências Humanas.



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