Crianças vítimas dos genitores Em 27 anos de atuação, observei que quem mais sofre com litígios são crianças
Em 27 anos de atuação no direito das famílias pude observar que os que mais sofrem com os litígios são as crianças, o que decorre do emotivo, irresponsável, imaturo e egocêntrico comportamento de alguns pais, principalmente, quando a própria criança é o foco das disputas judiciais e emocionais.
Pude observar nos relatos clínicos dos Psicólogos (aqueles em que as crianças são submetidas durante o divórcio/disputas judiciais) os mais variados sintomas, tais como: ansiedade, problemas de aprendizagem, queixas somáticas, fobias, tiques, dificuldades nos relacionamentos interpessoais e na expressão verbal.
Muitos genitores movidos pelo sentimento de vingança agem como se estivessem em um campo de batalha, neste aspecto anseiam por uma “vitória” a qualquer custo.
Quando nos deparamos com Pais Narcisistas Perversos, percebemos com clareza o modus operandi desses seres. Eles se utilizam de diversos tipos de estratégias para provarem sua superioridade e poder, tais como: ameaças e mecanismos de força para coagir o (a) outro (a) genitor (a), e desta forma, oprimem e agridem os que estão ao seu redor, sem medir os efeitos de sua verbalização, ditos e atos, principalmente, sobre os filhos.
Em 27 anos de atuação, observei que quem mais sofre com litígios são crianças
Pais Narcisistas Perversos são capazes de tudo para agredir o outro cônjuge. Quando confrontados ou mesmo contrariados se mostram agressivos, controladores, apresentam traços paranóicos, são instáveis emocionalmente. Esses pais agem de forma que os filhos e o outro genitor gravitem ao seu redor, impondo de forma ditatorial o que deve ser feito com os filhos.
Estes genitores driblam a justiça e não cumprem decisões judiciais. Para isso inventam diversos tipos de subterfúgios e mentiras para justificar condutas ambíguas e incoerentes.
Segundo a Dra. Lenita Pacheco Lemos Duarte: “Cabe lembrar que ao abusador do poder parental, o genitor alienador busca persuadir de todas as formas os seus filhos a acreditarem em suas crenças e opiniões, conseguindo impressioná-los e levá-los a se sentirem amedrontados na presença do outro genitor”.
Ora! Por que estes genitores buscam de qualquer forma afastar a criança do outro genitor? O que o abusador ganha com condutas do tipo: esconder a criança e impedir o contato? O que se pretende?
Na realidade, ao afastar os filhos do outro genitor por semanas os filhos sentem-se traídos e rejeitados. É importante dizer que o tempo para a criança é diferente do tempo do adulto, isso significa que quinze dias trará a criança a sensação de abandono, o sentimento de não pertencimento e de não ocupar o lugar desejado na vida do outro genitor.
Com o afastamento, o genitor Narcísico manipula a criança e a faz declarar o que ele quiser.
É muito importante que pais não transformem seus filhos em objeto de disputa, o que muitas vezes não depende de um dos cônjuges pois os genitores Narcisistas Perversos agem por conta da Psicopatia, uma vez que desprovidos de empatia, a intenção é destruir qualquer um que o enfrente ou que ofereça obstáculo aos seus planos, que caso for o de ficar com a criança sem a presença do outro genitor na vida do filho, irá praticar qualquer tipo de ato para isso, mesmo que signifique prejudicar ou enlouquecer os filhos.
O Poder Judiciário precisa investir ainda mais na formação de sua equipe multidisciplinar, com o objetivo de coibir este tipo de conduta. Uma das ferramentas é o “teste de Rorschach", que deverá ser utilizado quando há evidência do comportamento perverso dos genitores, sendo esse teste o único a diagnosticar o TPN (Transtorno de Personalidade Narcisista), e uma vez detectado deve então o Magistrado preservar a criança do contato com o genitor Narcisista Perverso.
Por fim, é imprescindível que nós, operadores do direito, estejamos alertas em relação aos Narcisistas e a forma como manipulam o conflito e as pessoas durante um processo. É preciso lutar e garantir que os direitos fundamentais das crianças e adolescentes sejam na prática considerados prioridade.
Ana Lúcia Ricarte é advogada especializada em Família e Sucessões.
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