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Opinião
Domingo - 21 de Novembro de 2021 às 06:42
Por: Renato de Paiva Pereira

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Fora do círculo mais ligado ao Bolsonaro, a percepção de desgaste acelerado do Presidente aumenta a cada dia.

Na mídia, por exemplo, no começo do governo, havia um respeitoso constrangimento em usar palavras fortes para noticiar as inverdades (eufemismo que os políticos adoram) repetidas quase todo dia pelo Bolsonaro.

Mas, à medida que aumentava a antipatia entre as partes (mídia e governo) a imprensa foi perdendo o pudor e passando a descartar os sinônimos mais brandos, substituindo-os por palavras diretas para referir-se ao Presidente.

Com o tempo, o próprio mandatário foi abandonando a necessária liturgia presidencial e desprestigiando rotineiramente o cargo que ocupa, usando palavreado chulo e expressões grotescas, que ficariam bem em um boteco no cais do porto, mas não na boca da maior autoridade do País.


O que me encasqueta é que o Presidente parece não dar a mínima bola para os xingamentos e que não se importa de dizer coisas que são imediatamente desmentidas

Liturgia presidencial remete a cerimônia, formalidade, solenidade, ritos e protocolos que os chefes de nações devem usar, da mesma forma que vestem terno e gravata. O termo referia-se primeiramente a atos religiosos – liturgia católica, por exemplo – mas foi popularizado pelo ex-presidente Sarney, que respeitava como poucos os ritos do cargo que ocupava.

Se antes os jornais, sites, rádios e televisões comedidamente antecediam uma afirmação do Presidente com a ressalva “sem apresentar provas, Bolsonaro afirma que....”, alguns meses depois, com a perda recíproca do respeito, já mudavam para “faltando com a verdade o Presidente diz.....”. Não demorou muito para chegar a: “não é verdade isso assim assado, como garante o Presidente”.

Hoje, a mídia em geral estampa sem o menor embaraço frases tais como: “Bolsonaro disse isto, mas é mentira”.

E assim dia após dia, desrespeitando a liturgia do cargo, o Presidente estimulou ou, no mínimo, ignorou o desrespeito generalizado, até chegar ao ponto inimaginável de ser afrontado por seu guru Olavo de Carvalho, quando através das mídias sociais recusou uma honraria que lhe era destinada, usando palavras impublicáveis.

Mas o Presidente não tinha atingido ainda o auge da degradação. Esta semana, como relatou o Site O Antagonista, o infidelíssimo Waldemar Costa Neto ex-deputado e dono do PL - que já esteve preso recentemente - em troca de mensagens no WhatsApp, usando de sua notória elegância e cortesia desacatou o Presidente com palavras chulas e vulgares, na forma mais crua e grotesca possível.

Claro que o Bolsonaro, que não perde para o mensaleiro Waldemar em elegância e finesse, devolveu o xingamento para o autor.

Após este “pequeno desentendimento” - assim nomeado pelas partes - parece que voltaram às tratativas para que o Bolsonaro se filie ao PL, mesmo porque, segundo alguns dizem, por sobrevivência política um não pode prescindir do outro.

O que me encasqueta é que o Presidente parece não dar a mínima bola para os xingamentos e que não se importa de dizer coisas que são imediatamente desmentidas. O caso mais recente foi sua fala em Dubai afirmando que a Amazônia é uma floresta úmida que não pega fogo e que está preservada tal qual estava por ocasião do descobrimento do Brasil, em 1500.

Enquanto isso, por culpa do Bolsonaro e do STF, destruidores da Lava-Jato, o Lula está sendo recebido na Europa com salamaleques, como se fosse um notório estadista.

RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor.



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