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Opinião
Quarta - 29 de Dezembro de 2021 às 07:00
Por: Francisney Liberato

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Durante o Período Colonial, provavelmente ao final do século XVII e início do século XVIII, em Minas Gerais, surgiu uma expressão bastante conhecida em nossos dias, denominada “santo do pau oco”.

A questão tributária sempre esteve em pauta em nosso país. Nesse período, já existia uma alta cobrança de impostos, o intitulado “quinto”, que correspondia a 20% de todos os metais preciosos garimpados no Brasil, cuja cobrança era feita pela Coroa portuguesa. A alta carga tributária cobrada pelos portugueses forçava os indivíduos da época a praticar a sonegação fiscal, o conhecido “jeitinho brasileiro”.

Para driblar o fisco, os brasileiros esculpiam santos de madeira ocos por dentro e os preenchiam com ouro em pó, com o intuito de não pagar impostos sobre aquela mercadoria.

A expressão “santo do pau oco” foi cunhada para designar pessoas falsas, isto é, aquelas que na nossa frente apresentam-se de uma forma e por trás têm atitudes totalmente incompatíveis e dissimuladas.

Na área comportamental, aprendemos que o caráter do ser humano é moldado até aos 7 anos de vida, ou seja, é o espaço de tempo determinante para revelar se um indivíduo será bom ou ruim. Por outro lado, temos a denominação de reputação, que traz em seu significado características de um indivíduo conhecido apenas superficialmente, de difícil percepção do seu íntimo ou verdadeiro caráter.

Na Bíblia é contada a história da disputa pela primogenitura, que era o direito do primeiro filho receber uma bênção. Pela ordem natural, quem deveria obter essa bênção da primogenitura era Esaú.

O segundo filho, Jacó, o caçula, o mais esperto, e com ajuda da mãe, queria trapacear o irmão Esaú.

O pai já estava na velhice e quase partindo para a morte, quando chamou o filho mais velho e disse para ele preparar uma refeição, que após consumi-la, daria a sua única bênção a ele. A mãe escutou a conversa entre o pai e o filho mais velho, e, por apreciar mais o segundo filho, arquitetou um disfarce para o filho mais novo ganhar vantagem.

Jacó se apresentou na presença do pai, com a alimentação, como se fosse o seu irmão mais velho. Jacó recebeu uma bênção que não era dele. O pai foi enganado. Esaú levou o prejuízo por não ter recebido a bênção. A mãe foi complô do filho querido.

Com base no relato acima, Jacó seria um “santo do pau oco”, pois se apresentou de uma forma a qual não era verdadeira, foi um falso e mentiroso, e pior, recebeu uma bênção que não lhe pertencia.

Será que temos muitos “santos do pau oco” vivendo nesta terra? Antes de pensarmos em afirmar e condenar alguém, por favor, faça uma autoavaliação na sua vida e veja se até hoje você já cometeu algum deslize, como um vendedor de uma imagem que efetivamente não era a sua. Que possamos nos atentar para que, daqui em diante, não cometamos os mesmos erros do passado. Que possamos ter sincronia entre o nosso caráter e a reputação.

Que eu e você possamos ter uma vida em paz, tendo a consciência tranquila dos nossos atos e atitudes, pois não precisamos ser “duas caras” para as pessoas que estão ao nosso redor.

Francisney Liberato é auditor do Tribunal de Contas.



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