O que os números dizem A preocupação com os indicadores macroeconômicos é grande para 2022
Estamos encerrando o primeiro mês de 2022. Já se passaram quase 10% do ano e o que temos até agora de resultado para o agro? Um dos temas mais marcantes deste janeiro foi a estiagem no Sul do país e o excesso de chuvas na região das Minas Gerais. A agropecuária vai se mostrando como o setor mais vulnerável ao risco climático. Aliás, risco e volatilidade devem ser o tom de 2022.
Falando de 2022, com os aprendizados do ano passado, o agronegócio e o clima caminharam tão juntos que foram um dos fatores explicativos para a inflação de 17,74% (IGP-DI) em 2021. É claro que houve fatores externos, como a alta do dólar e a valorização do petróleo, mas a seca gerou impactos expressivos na produção de alimentos. Ainda, ela também resultou na alta dos preços da energia elétrica, que consequentemente afetou não só as famílias, mas consequentemente todo setor produtivo.
Alimentos, clima e inflação estão cada mais interligados. E esta pode ser uma relação viciosa e nem sempre positiva
Alimentos, clima e inflação estão cada mais interligados. E esta pode ser uma relação viciosa e nem sempre positiva. Em 2021, com a alta dos preços dos alimentos, o poder de compra da população diminuiu. Esse já é um fenômeno histórico que o Brasil tem muito medo. Não podemos voltar ao que foi a década de 80, a chamada década perdida. Na época, o fenômeno econômico da hiperinflação fazia o país se afundar.
Porém, a preocupação com os indicadores macroeconômicos é grande para 2022. As projeções dos institutos prospectam altos índices de inflação e isso deve afetar o setor agropecuário em todas as etapas produtivas. Primeiramente, como já visto em 2021, nos custos de produção. A desvalorização do real atrelada à inflação, como também os derivados de petróleo, podem encarecer o processo produtivo.
Pelo lado da demanda, por mais que os preços aumentem a receita bruta dos produtores, nem sempre isso resulta em lucro efetivo. E, além disso, os preços em alta impactam todas as classes sociais, mas com mais preocupação os mais pobres, que acabam tendo que reduzir inclusive os gastos com alimentação.
Se as projeções se consolidarem, podemos ter um ano onde a demanda por carnes mais baratas aumente em detrimento das mais caras, algo que já vinha ocorrendo. Além disso, mesmo aquela classe média que buscava produtos de maior valor agregado, também tendem a rever suas despesas mensais e sua cesta de consumo.
Olhar para a macroeconomia pode ser crucial para o planejamento financeiro, já que dólar alto pode vir acompanhado de riscos e custos elevados. Afinal, não se pode confundir faturamento com renda.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria e Comunicação
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