LUCIANA OLIVEIRA PEREIRA
Nova onda e aulas presenciais A Ômicron e a volta das crianças às aulas presenciais em Mato Grosso
Após o arrefecimento da pandemia, quando o número de contaminações pela Covid-19 havia diminuído drasticamente no mundo e também no Brasil, assistimos a uma explosão de casos em janeiro, formando um verdadeiro paredão no número de novos casos diários, com a chagada da variante ômicron.
A variante já vinha gerando mudanças na condução da pandemia por toda Europa, inclusive, dando ao Brasil a oportunidade de preparar-se melhor para o que veria, uma vez que estamos num mundo em conexão, contudo, não houve maior atenção do poder público e nem um alerta à população. As festas de réveillon, viagens e aglomerações aconteceram sem maiores cuidados.
Mas as consequências estão ai, segundo dados do painel de monitoramento da Universidade Jonhs Hopkins (JH), que avalia a covid pelo mundo, no Brasil saímos de 10.285 casos de contaminação em 30 de novembro de 2021, antes do “apagão de dados” do Ministério da Saúde, para 48.562 em 15 de janeiro e, 171.251 em 01 de fevereiro, um número até então jamais alcançado na pandemia.
E os números não param de subir, o positivo nisso tudo é que até agora a imunização vêm freando o número de óbitos, mesmo ainda não atingindo uma taxa ideal, o que mostra sem equívocos a eficácia das vacinas, apesar do número de pessoas que ainda insiste em questionar a proteção que elas oferecem.
Aqui em Mato Grosso a situação não é diferente. Saímos de 220 casos de contaminação em 30 de novembro, para 1.453 em 15 de janeiro deste ano, e 5.327 novos casos em 01 de fevereiro, ou seja, estamos em uma escalada crescente.
Segundo o Boletim Epidemiológico N° 701, da Secretaria de Estado de Saúde neste ultimo dia 07 de fevereiro, 869 pessoas estão internadas, sendo 348 pacientes em enfermaria e 305 em UTI. O informe não traz o número de óbitos, mas pelo monitoramento JH foram 25 mortes.
Os dados da SES também não trazem especificamente o número de crianças internadas, mas podemos tentar contabilizá-las pelo gráfico de sexo e faixa-etária, que separa crianças até 5 anos; de 6 a 10 anos e, de 11 a 20 anos, com uma somatória de 53 internações. Já o número de crianças em UTI é sete, sendo que temos apenas 10 leitos pediátricos no sistema, ou seja, a taxa de ocupação está em 70%. É importante que haja mais transparência nestes dados infantis.
E por que elencamos todos estes dados? Porque o retorno ás aulas totalmente presenciais exigem muito cuidado de pais e da comunidade escolar.
Estando num momento de maior contaminação pandêmica; apenas iniciamos a vacinação de crianças; há muita resistência por parte dos pais para levá-las para a primeira dose e, sabendo que as crianças não estão isentas de desenvolverem sequelas da covid, ao mesmo tempo, serem vetores da doença, há que se repensar essa retomada de aulas em grande escala.
No último dia 27 de janeiro, o Conselho Nacional de Educação (CNE) emitiu Nota de Esclarecimento considerando a necessidade de retorno à presencialidade para as atividades de aprendizado, contudo, ela recomendou que nas localidades com elevadas taxas de contágio, as redes e instituições de ensino decidam pelo adiamento da volta às aulas ou pela continuidade de oferta de aprendizado remoto. Não há uma “obrigatoriedade” de ensino presencial para todos, como alguns têm propagado.
Fica a cargo de cada município a decisão, observadas as taxas de transmissão e números de caso de covid-19.
“Os sistemas de ensino estabelecerão critérios para a tomada de decisão acerca da necessidade de suspensão temporária da presencialidade, mesmo que de forma parcial, bem como de eventual realização de nova gestão do calendário, sobretudo no que concerne à sua forma de organização, realização ou reposição de atividades acadêmicas e escolares”, explica o documento. Inclusive, para crianças infectadas ou do grupo de risco há que se ofertar o ensino remoto.
E por que isso está em pauta? Porque se observarmos os dados de um ano atrás (2021), quando as restrições e, não só as escolares estavam sendo utilizadas, tínhamos em Mato Grosso, no dia 07 de fevereiro, 416 casos, contra os 3.341 atuais.
Eram 529 pessoas em enfermaria (taxa de 22,39% de ocupação), mas haviam 2.363 leitos; 434 pessoas em UTI (taxa de ocupação de 58.73%), sendo 756 leitos UTI e, nove crianças em UTI, mas haviam 15 leitos pediátricos disponíveis, segundo dados do Boletim Epidemiológico N° 336. Agora são apenas 10 leitos.
Internações | 07/02/2021 | 07/02/2022 |
Enfermaria | 529 | 348 |
UTI | 434 | 305 |
UTI Pediátrica | 09 | 07 |
24 óbitos | 25 óbitos |
Apesar do número de internações atual ser menor do que há um ano, o número das contaminações segue alto e em crescimento e, os leitos disponíveis para ambas as situações, foi diminuído. Não sabemos como essa combinação vai acabar! Outro dado importante de um ano atrás, é que somavam 7.625 pessoas em isolamento, um contraste enorme com as mais de 28 mil em monitoramento agora. São praticamente quatro vezes mais casos!
Ademais, de acordo com dados das Secretarias de Estado de Saúde do país, disponibilizadas ontem (07), sobre o ranking de vacinação infantil, Mato Grosso aparece entre os três últimos estados na corrida vacinal, com apenas 2% das crianças com a primeira dose, o que é um absurdo!
De acordo com especialistas o momento não é para o retorno. Em recente entrevista o Dr. Miguel Nicolelis, médico e neurocientista, professor da Universidade de Duke, nos EUA, declarou: “Não há risco aceitável com crianças. Ninguém sabe como sequelas crônicas deixadas pela Ômicron podem afetar crianças infectadas. É um absurdo sem precedentes reabrir escolas. Com transmissão muito menor na primeira onda, elas foram fechadas. Qual a lógica de permitir sua reabertura agora?”.
Segundo um estudo do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, 43% das crianças internadas com covid-19 continuam sofrendo efeitos prolongados da covid, por pelo menos três meses, após a alta hospitalar.
Ninguém questiona a importância da educação e da socialização escolar, mas diante de tal situação, há que se ter bom senso. Cabe os gestores públicos darem a opção às famílias, que assim quiserem e puderem, de manter seus filhos em casa através do sistema híbrido. Isso contribuiria sobremaneira para a diminuição da circulação de crianças e o aumento do número de casos, pelo menos até que a onda de casos esteja em patamares menores. O nível de internações dos mais idosos está alto, assim como um salto nunca visto, entre as crianças.
Os municípios de Alta Floresta e Rondolândia optaram por suspender o retorno. Na última sexta-feira (04) o município de Tangará da Serra, também fez essa opção já que o número de profissionais nas escolas esta reduzido, pois um grande contingente está infectado e afastado. Em Cuiabá também há relatos de professores afastados nas escolas privadas.
Além disso, cabe aos pais levarem seus filhos para vacinar. Infectados pela desinformação, apesar das diversas demonstrações da eficácia e segurança das vacinas, muitos ainda resistem em proteger seus filhos. As vacinas não chipam ninguém, não transformam as pessoas em animais ou mudam seu DNA, isso são fake news - um desserviço à sociedade que já matou muitas pessoas nesta pandemia. A ômicron tem afetado profundamente os “não vacinados” e não podemos deixar as crianças engrossando essa fila.
Assim como todas as outras vacinas, as de agora são aprovadas e estão sendo utilizadas pelo mundo com sucesso e mais, estão disponíveis aqui para a Saúde da população. Quanto mais pessoas imunizadas, menos espaço à circulação do vírus.
Estamos cansados da pandemia, mas é preciso encará-la com maturidade e assumir a responsabilidade individual pelo seu término. As pessoas querem que ela acabe, mas o que estão fazendo para que isso ocorra? A covid-19 é uma doença coletiva, depende da atuação de cada pessoa, somente quando todos tiverem comportamentos de auto cuidado, incluindo a vacinação e senso coletivo, sairemos desse estado de coisas.
Luciana Oliveira Pereira é jornalista em Cuiabá.
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