GONÇALO ANTUNES DE BARROS
Dia do rádio Não se vê, apenas se escuta. Não se sabe e nem se conhece imagens
O dia 13 de fevereiro de 1946 foi marcado pelas Nações Unidas como o dia da criação do rádio. Também, no ano de 2011 foi proclamado, na Conferência Geral da UNESCO, o Dia Mundial do rádio, eternizando essa importante comunicação em massa.
O rádio, ou melhor, um rádio acompanha diariamente as pessoas, em algum momento do dia. O alcance é sem igual, aliás, igualando a todos num universo mágico em que não há classes sociais diferentes. Entrar em um coletivo ou no próprio veículo. Cozinhar. Esperar por algo ou por alguém e contar com a companhia dele, do rádio, é um prazer.
Com linguagem bastante coloquial e forma de conversar descontraída, esse é um instrumento de grande importância na comunicação. Aliás, é um meio democrático e sem discriminação.
Não se vê, apenas se escuta. Não se sabe e nem se conhece imagens, apenas vozes. A popularidade faz com que os brados adentrem no dia de cada um, até sem licença pedir, como se amigos e amigas fossem.
Informações, notícias de utilidade pública, e até fofocas são narradas. E por quanto tempo a rádio aproximou pessoas, mandando recados em época em que o telefone e a internet não se faziam presentes?
No ano da tão famosa ‘Semana da Arte Moderna’, 1922, o país ganhou a sua primeira transmissão de rádio, Corcovado, Rio de Janeiro. Lá em 1932 foi permitido que as rádios pudessem inserir campanhas publicitárias em sua rede de programação, alavancando a sua importância. Transmissões e artistas se fizeram com as novelas e programas de rádio. Sons deram asas à imaginação.
Na atualidade tem se adaptado muito bem à tecnologia, com banda larga, transmissões de áudios, entrevistas por telefone e ligações por WhatsApp. Esporte, música, cultura, política, saúde, polícia, assuntos do momento, temas informativos e de utilidade, nada é deixado de lado. Ainda bem! As Frenéticas eternizaram: “Nós somos as cantoras do rádio/ Levamos a vida a cantar/ De noite embalamos teus sonhos/ De manhã vamos de acordar.”
Na minha família, a paixão acalorada pelo rádio. Meu pai, deputado Gilson de Barros, com o seu programa político e jornalístico BEDELHO. Tio Evaldo de Barros, entoando o amor pelo futebol etc.
O meu doce e adorável Rosana, percorreu considerável trecho da sua história com o programa “Conversa com a Defensora Pública”, via Rádio Alvorada de Rosário Oeste.
Também passei pelo rádio, e seria razoável afirmar estar por lá até hoje. Quando bastante jovem, como repórter do radialismo, pude acompanhar fatos históricos de Mato Grosso.
Como destaque, a memória da rebelião do Presídio do Carumbé, no ano de 1989. Mães e esposas aos prantos, pessoas se oferecendo para serem trocadas por outros reféns, IML e rabecão retirando corpos. Dia e noite sem sair do local para não perder detalhes de possíveis notícias. Certa vez, e isso não serei leviano em narrar pormenorizadamente, este novel radialista “manda a real” numa entrevista sobre a constituinte. Demissão. O afeto e o respeito perduram.
Valorizar a audição e estimular a imaginação, fácil acesso de interlocução com os ouvintes e liberdade são características marcantes desse meio de comunicação. Atualmente, os programas até informam sobre o trânsito, oferecendo caminhos opcionais para que a sociedade possa se deslocar com maior facilidade dentro das grandes cidades. É fantástico.
O termo “Sociedade de Massa” tornou certa a homogeneização da língua, de interações e costumes, deixando neutras diferenças no corpo social, desburocratizando-as. O filósofo José Ortega y Gasset se utilizou do verbete “homem-massa” para tratar daqueles que se conformam sem qualquer questionamento.
Ainda, Foucaut tratou em ‘Vigiar e Punir’ da forma de se controlar pessoas em massa. Adorno e Horkheimer, da Escola de Frankfurt, cunharam o termo “cultura de massa”, afirmando que não há produção, mas, sim, reprodução com a finalidade de atingir o maior número de pessoas.
Já os sociólogos, se debruçaram sobre o tema para tratar, primordialmente, do que isso traz para a sociedade. Hábitos são popularizados. Bons ou ruins, a escolha deve ser individual.
A bem da verdade, precisou de companhia? O bom e velho quadradinho, agora com opcionais não vistos outrora, nunca te deixará só.
Marilyn Monroe eternizou: “Não é verdade que eu não tinha nada, eu tinha o rádio ligado.”
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto é professor de Filosofia e magistrado.
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