ONOFRE RIBEIRO
A guerra lá e nós cá O conflito no Leste Europeu requer medidas para preservar o agro mato-grossense
Outras guerras não influenciaram tanto além dos territórios guerreantes. Porém, desde a globalização na década de 1990, uma guerra traz efeitos diferentes. Os locais, obviamente. Mas no mundo inteiro mexe com a cotação do dólar, do preço do petróleo, do preço dos alimentos, alimenta inflação e causa escassez de produtos, de commodities agrícolas ou minerais e interfere na logística do comércio internacional.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia é desse tipo mais novo. Já afetou a cotação mundial dos preços do petróleo. Afetou e afetará a oferta de adubos e fertilizantes de origem russa, ucraniana e da área da influência da guerra. Sem contar a oferta de milho, trigo e grãos no comércio mundial. Por consequência do preço mais caro do petróleo, haverá aumento nos preços internos de todos os países. No caso do Brasil, afetará diretamente os preços dos combustíveis e vai gerar inflação. Atrás, vem os juros mais altos e o empobrecimento da população.
O cidadão comum desconhece as cascatas das influências da guerra sobre a sua vida pessoal e familiar. A escassez de produtos básicos há muito não se vê no Brasil. Na maioria dos países também não. Fora as exceções conhecidas, como Venezuela, Cuba, Coréia do Norte, etc.
Neste artigo gostaria de abordar um lado específico dos efeitos da guerra da Rússia contra a Ucrânia: o setor agropecuário de Mato Grosso. Embora o setor seja muito conectado com os mercados nacionais e internacionais e domine bem essa questão das flutuações do dólar, não tem a leitura do conjunto com a precisão estratégica necessária.
Embora Mato Grosso seja um estado basicamente ligado ao agronegócio, à pecuária e a setores da indústria, do comércio e dos serviços, é, também, um estado pobre de analistas econômicos para esses setores. Logo, dada a importância da economia estadual até mesmo para o país, e a todos os riscos envolvidos, é preciso uma ação poderosa de informação em tempo permanente.
Sugiro a formação de um gabinete de crise do qual participem instituições da economia, como Aprosoja, federações do Comércio, da Indústria, da Agricultura, de Dirigentes Lojistas, mais entidades da agropecuária, como associações do algodão, da pecuária, de sementes e outras afins. Se der, até mesmo da Universidade Federal e dos setores políticos. Parece-me que até agora se pronunciaram a Federação das Indústrias e a Aprosoja. Aliás, independente desse gabinete de crise, a Aprosoja é a entidade que representa a produção do milho e da soja e outros grãos. Logo, é a vitrine.
Mas não se pode esperar do lado político qualquer proatividade porque em ano de eleição só se enxerga o voto míope. Além da pobreza da inteligência política. Os setores da economia precisam se movimentar urgente, porque lá na ponta não chega uma informação de qualidade e unificada sobre os efeitos econômicos da guerra.
Pode ser que a guerra de armas dure pouco. Mas os efeitos financeiros, econômicos, comerciais e estratégicos durem longo tempo. Nesse tempo as informações serão extremamente importantes, produzidas por quem conhece a economia mato-grossense e tem credibilidade pra falar.
ONOFRE RIBEIRO é jornalista em Mato Grosso.
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