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Opinião
Quinta - 24 de Março de 2022 às 06:56
Por: Maria Augusta Ribeiro

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A sociedade moderna está conectada o tempo todo. Dancinhas alegres no Tik Tok, poses felizes no Instagram, e uma legião de posts onde o tema principal é a alegria do outro. Mas será que as pessoas estão mais felizes por causa das redes sociais?

Segundo um estudo feito pela Universidade de Sheffield nos U.S.A. e apresentado na conferência anual da sociedade Royal de economia, crianças e jovens que passam mais de uma hora por dia em qualquer rede social têm 14% de chances de serem infelizes.

A ideia de se comparar o tempo todo é prejudicial para um adulto. Agora, imagine uma criança de 11 anos? Nunca se viu tanta cirurgia plástica, Botox e tratamentos direcionados a adolescentes em razão de se ter peles perfeitas como a de perfis no Instagram.

Cada vez mais meninas aceitam menos o corpo que têm, pois ficam idealizando um corpo via perfil de rede social que pode ser alterado com filtros, correções e photoshop, publicadas o tempo todo.

Além disso o estudo comprovou que, ao se aceitar menos a realidade, crianças e jovens estão sujeitos ao cyberbullyng com mais frequência, unicamente porque não conseguem bloquear os perfis de quem os agride.

A plataforma até tem feito algum trabalho para inibir perfis agressivos, mas quanto aos felizes a ideia é que todo mundo é feliz, menos você.

A comparação com perfis irreais do cotidiano vivido por uma criança ou jovem é capaz de desencadear comportamentos de insatisfação para a vida toda, onde sempre irão se comparar a algo distorcido da realidade em que vivem.

Outro fator prejudicial é que esta comparação será feita em seus relacionamentos, com sua equipe de trabalho, e impactará em líderes futuros supermotivados e bem-sucedidos, mas que jamais serão capazes de reconhecer suas fraquezas, recompensar sua equipe, e nem estabelecer afeto.

A obrigação de ser positivo o tempo todo nas redes sociais talvez não cause impacto nas pessoas com valores morais bem estruturados e amparados pela família bacana que têm. Mas, em crianças e jovens, onde isso não está totalmente desenvolvido, pode proporcionar uma vida pautada nas experiências alheias, sentimentos depressivos e infelicidade o tempo todo.

Isso não significa que as redes sociais são responsáveis por criar pessoas deprimidas. Porque qualquer diagnóstico psíquico é tarefa para um profissional da saúde. Mas a ideia de que a tecnologia é responsável pela criação de seus filhos está começando a ter a resposta que todos não queriam. Sim, ela pode ser prejudicial para seu filho se você não educá-lo a usar a internet de forma consciente.

Dizem que, entre o estímulo e a resposta há um espaço para a nossa escolha. É ela que será capaz de determinar nosso crescimento e nossa liberdade. Afinal, a habilidade que nos torna resilientes é pensar como vamos encarar uma queda ou rejeição, e assim nos preparar para ultrapassar outros desafios impostos pela vida.

Tenho um amigo que a cada conversa sobre estudos de impacto do digital em nossos comportamentos diz: “Amiga, lá vem você assustar a gente de novo”. Mas, a ideia serve de alerta, sim: se pais, educadores e nós como sociedade não começarmos a aceitar a responsabilidade pela nossa atividade online iremos sempre culpar a tecnologia pelos resultados desastrosos dessas nossas escolhas.

A tirania da felicidade digital é o resultado do nosso comportamento nas redes sociais, barrando assim o desenvolvimento da sociedade ao desenvolver crianças e jovens preparados para lidar com a rejeição ou com os problemas do cotidiano, e assim deixamos de preparar pessoas emocionalmente fortes para a sua vida que pode ser humilde, mas que pode ser feliz e fazer todo o sentido.

E aí, Belicosa, tiramos as telas e redes da moçada? Nem pensar! O negócio é criar momentos com a família, debater assuntos provocativos em sala de aula, e o mais importante, conversar sobre o que causa incômodo do mesmo tanto do que causa satisfação.

Aos pais e educadores o alerta é em código vermelho, se me entendem... é melhor começar a estabelecer experiências em conjunto com seus filhos e alunos para proporcionar conexão, inovação e troca de experiências, tanto no real quanto no digital, pois o equilíbrio nunca é demais.

Maria Augusta Ribeiro é especialista em Netnografia e Comportamento Digital.



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