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Opinião
Domingo - 03 de Abril de 2022 às 10:49
Por: Renato de Paiva Pereira

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Se a Igreja Presbiteriana e a Universidade Mackenzie tivessem se preocupado em levantar o tipo de relacionamento do Presidente Bolsonaro com os seus ministros e com a Instituições, por certo teriam desaconselhado o Pastor Milton Ribeiro a assumir o comando do Ministério da Educação.

Os exemplos de ministros deixados na “chuva” são abundantes: o Mandetta quando quis seguir a ciência, a contragosto do patrão, foi desprestigiado publicamente e por fim demitido. O Moro, antes considerado o ministro imexível, ousou investigar as famosas rachadinhas da família Bolsonaro e seguiu o mesmo caminho. Também o Bebiano, companheiro inseparável do candidato durante a campanha de 2018 e depois Secretário Geral da Presidência, foi massacrado porque caiu na desgraça de um dos filhos do Presidente.

Os ministros ultra ideológicos Ricardo Vélez, Walter Salles, Ernesto Araújo, Eduardo Pazuello e Abraham Weintraub também se deram mal. A diferença é que estes, diferente do Mandetta, do Moro e do Bebiano, se estreparam por concordarem demasiadamente com as absurdas ideias do chefe e insistirem em implantá-las.

O Presidente, reiteradamente, manifesta sua preferência por estes evangélicos curandeiros, entre eles os pentecostais e neopentecostais

É o estilo do Presidente, se é que o desprezo pelos outros pode ter este nome. Melhor seria dizer, o caráter do Presidente. Nas instituições ele repetiu o mesmo que fez com os auxiliares. Veja o caso do IBGE que foi desancado porque os números do desemprego que divulgou não eram os esperados. E o INPE, cujo presidente, internacionalmente reconhecido, foi desautorizado pelo Bolsonaro porque os dados ambientais não foram “batizados” antes da divulgação. Também a guerra que ele declarou contra o TSE, a urna eletrônica e o STF.

O Pastor Milton Ribeiro possivelmente foi mais uma vítima. É pouco provável que ele tenha saído de São Paulo para pedir propina no Pará e no Maranhão. O mais crível é que, por ingenuidade, aceitou a intermediação de pastores picaretas indicados por Bolsonaro, sem saber das barras de ouro que permeavam os acertos com os prefeitos.

Quando a coisa deu errado, e principalmente porque é ano eleitoral, foi muito mais fácil defenestrar o Ministro do que defendê-lo das acusações.

Mas fica uma lição. Não dá certo esta mistura de política com religião, como há muito tem acontecido no Brasil, principalmente com grupos que vendem no carnê ou no boleto cura, fama e sucesso.

O Presidente, reiteradamente, manifesta sua preferência por estes evangélicos curandeiros, entre eles os pentecostais e neopentecostais Edir Macedo, Silas Malafaia, Waldemiro Santiago, R.R. Soares, riquíssimos fornecedores de políticos para os parlamentos no Brasil.

É tamanha a obsessão do Presidente pelos votos desse seguimento, que nomeou um ministro do STF terrivelmente evangélico, justamente por ser “terrivelmente evangélico”. Esta condição, no entanto, mais o desmerece que o credencia para a função, afinal a justiça se diz laica e os seus operadores, tanto quanto possível, devem ser desprovidos de vieses, quaisquer que sejam eles.

O pastor Milton Ribeiro, a Igreja Presbiteriana e a Universidade Mackenzie saem arranhados deste episódio. Claro que a Igreja – uma das mais tradicionais e respeitadas do Brasil, e a Universidade – igualmente prestigiada - nada tem a ver com o suposto deslize do Pastor, mas a opinião pública de alguma forma estabelece relação entre eles.

RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor.



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