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Opinião
Sábado - 03 de Setembro de 2011 às 17:04
Por: Bruno Peron

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Poucos se atreviam a prever, no fim do século XX, que a decadência dos Estados Unidos da América estaria tão iminente. Sua pujança cultural, econômica e política influiu as decisões de líderes latino-americanos durante décadas como se seu modelo de desenvolvimento fosse o ápice da cadeia evolutiva da humanidade, o fim último a alcançar.

O exercício premonitório da ruína desta potência torna-se comum. Óbvio, alguns diriam.

Desde as concepções consagradoras do capitalismo por Francis Fukuyama ao berço das ideologias neoliberais balançado no Consenso de Washington por John Williamson, o transcurso comprova que a submissão incondicional da América Latina e outras regiões "dependentes" havia sido uma tremenda perda de tempo e desperdício de potencialidades.

Se houver tino dos verdadeiros cidadãos latino-americanos, deixaremos de ser laboratório ambiental, étnico e turístico dos países "centrais" a fim de constituirmos fontes renomadas de produção artística, científica e tecnológica, captadores e mantenedores de "cérebros", e naturalmente lugares de desenvolvimento cultural e econômico, equidade e justiça social.

Atores malquistos serão varridos do cenário latino-americano e cercados por uma maioria que não lhes admitirá mais os desatinos e as malversações. As práticas corruptas e ineptas, portanto, serão condenadas pela vida em comunidade e não no salve-se-quem-puder que vigora na América Latina. Cosmovisões ancestrais indígenas que se criam obsoletas e fora de lugar serão recordadas não mais como "atraso" senão "exemplo" a relembrar.

A crise que afeta - cada caso com suas especificidades - quatro Ministérios (Agricultura, Defesa, Transporte, e Turismo) no Brasil soma-se ao movimento estudantil que se manifesta no Chile a favor da mudança de paradigmas educacionais, e a insatisfação dos cidadãos mexicanos com a porosidade do narcotráfico e o alastramento da violência.

A "Primavera Árabe" teve, com isso, a iniciativa por ter apertado o gatilho de demandas democráticas que transcendem a insatisfação com os governos autoritários da África Setentrional e o Oriente Médio. O fenômeno incendiou a palha naquela longitude e as cinzas alcançaram os pleitos latino-americanos.

Poucas vezes "Nossa América" despertou tanta atenção aos olhos do mundo. Se usar o termo "América", a presunção EUAna puxará para o lado do país de Barack Obama. Que nos olhem, mas não com a mesma função que tínhamos no período colonial. Desta forma, dois grandes desafios subjazem nos propósitos de América Latina:

1) A distribuição da enorme riqueza extraída do solo e do suor e a geração de oportunidades qualificadas e bem remuneradas de trabalho, antes de que as empresas transnacionais e o capital especulativo levem ao estrangeiro toda a nossa renda;

2) A escolha de cidadãos e dirigentes idôneos para construir um projeto de longo prazo para o Brasil em vez de oferecer propostas imediatistas que nos enganem com empregos que paguem mal e repassem dinheiro público a investimentos sem retorno social.

As políticas públicas têm pulverizado a esperança de que sejamos cidadãos e trabalhadores dignos. Uma delas é a que promove o aumento descontrolado do número de carros nas cidades latino-americanas e negligencia o transporte público coletivo.

Há governos que se alinham descaradamente aos setores privados e se esquecem das pessoas. A desfaçatez interna de alguns países, onde o Brasil se insere, não obstaculiza o êxito das chancelarias, que propõem acordos internacionais de autonomia regional e formas de complementar as economias e reduzir as assimetrias entre países vizinhos.

Por maiores que sejam os desafios internos, cuja culpa maior é nossa, nossos ministros e secretários de Estado têm conquistado posições cada vez mais favorecidas para os países latino-americanos para que seus estadistas opinem, debatam e deliberem no mundo.

Desta maneira, a América Latina mitiga sua função de provedora de matéria-prima e mão-de-obra baratas a países de crescimento galopante a fim de que a consciência crítica de seus cidadãos questione por que um decadente país de ignorantes ainda dita as regras de ordenamento mundial nas finanças e nas guerras, como o massacre "democratizador" na Líbia perpetrado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Cabe-nos ser mais sensíveis ao lugar que a América Latina almeja ocupar no mundo sem o anacronismo de pensar em possibilidades isolacionistas de tradições e provincianismos.

O desenvolvimento não é um presente de benfazejos, mas uma conquista.

Retome sua participação nesta tarefa sem medo de ser ditoso.




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