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Os Donos do Poder
Olhado por um telescópio, a impressão que se tem é que o Estado brasileiro foi todo loteado. Isso não é de agora. Nem começou com o governo passado. Tampouco se encerrará na gestão atual. Até porque a tal faxina, que se acreditou ter iniciado no Ministério dos Transportes, sequer alcançou as portas das pastas da Agricultura e do Turismo. Tudo por conta da chamada governabilidade, a qual se vê sustentada pelo número de apoios conquistado no Congresso Nacional. Apoios que são amarrados pelo “dando que se recebe”. Situação que denúncia o clientelismo, bem como também traz um quadro comprometedor. Pois “o sair da linha” nada tem a ver com a ética ou com o decoro parlamentar. Ainda que “pego com a mão na botija”.
Certeza, aliás, recentemente transmitida pelos integrantes da Câmara Federal. Lição tragicômica. Pois propina recebida antes da posse não torna um parlamentar corrupto. Vídeo algum – nessa situação - tem valor. Ainda que suas imagens sejam impecáveis. Nítidas como aquelas em que levaram o governador do Distrito Federal para a prisão, ou as que deixaram à mostra o ex-chefe do DECAM/ECT recebendo vantagem indevida, e, a partir de então, veio às claras todo esquema do mensalão.
A menos que a palavra nitidez nada tem a ver com o termo fulgor, nem mesmo com a clareza. Pois as imagens flagradas podem estar embaçadas, chamuscadas, contaminadas por uma imprensa sensacionalista, no dizer dos responsáveis por blindar quem foi pego pelas câmeras. Tese bastante presente nos gabinetes palacianos desde 2005. Chegou a ser utilizada recentemente, nos episódios de cobrança de propina no Dnit e no Valec, e acionada no caso de um ex-ministro que mantém um quarto de hotel em Brasília para despachar “com graúdos da República”.
Trata-se, portanto, de uma tática de desqualificação do denunciador ou de quem faz repercutir os atos de corrupção. Desqualificar passa, então, a ser entendido como a ação do esconder, e esta - sob o batuque do “nada saber” – ganha uma nova roupagem, diferente do da candura. Distinta, no entanto, do argumento levantado pelos deputados federais, quando optaram pela absolvição de Jaqueline Roriz (PMN/DF). Também, pudera, o vídeo apresentado está datado de 2006. Bem antes da eleição de 2010 e da posse, em 2011.
Isso demonstra que os parlamentares preferem não julgar seus pares. Talvez por temerem, um dia, estar na berlinda. Pesa, assim, o corporativismo. O mesmo que se vê na dificuldade para se completar a lista de assinaturas necessárias para instalarem uma CPI. Comissão que também o governo costuma trabalhar por sua não criação.
Quadro comprometedor. Pois fortalece o patrimonialismo, sobre o qual se sustenta todo o processo de loteamento do Estado brasileiro. Loteamento transmitido pelo presidencialismo de coalizão. Daí o não prosseguir da faxina. Anunciada, mas logo esquecida, uma vez que aqui nada tem a ver com “a Roma antiga”, e, mesmo se assim fosse, será bem melhor esconder a sujeira para debaixo do tapete, sob o escudo da impunidade. Uma impunidade que faz do país um Estado desigual, pois no seu interior sempre existirá uma casta de “donos do poder”, os quais estão acima do bem e do mal.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
Certeza, aliás, recentemente transmitida pelos integrantes da Câmara Federal. Lição tragicômica. Pois propina recebida antes da posse não torna um parlamentar corrupto. Vídeo algum – nessa situação - tem valor. Ainda que suas imagens sejam impecáveis. Nítidas como aquelas em que levaram o governador do Distrito Federal para a prisão, ou as que deixaram à mostra o ex-chefe do DECAM/ECT recebendo vantagem indevida, e, a partir de então, veio às claras todo esquema do mensalão.
A menos que a palavra nitidez nada tem a ver com o termo fulgor, nem mesmo com a clareza. Pois as imagens flagradas podem estar embaçadas, chamuscadas, contaminadas por uma imprensa sensacionalista, no dizer dos responsáveis por blindar quem foi pego pelas câmeras. Tese bastante presente nos gabinetes palacianos desde 2005. Chegou a ser utilizada recentemente, nos episódios de cobrança de propina no Dnit e no Valec, e acionada no caso de um ex-ministro que mantém um quarto de hotel em Brasília para despachar “com graúdos da República”.
Trata-se, portanto, de uma tática de desqualificação do denunciador ou de quem faz repercutir os atos de corrupção. Desqualificar passa, então, a ser entendido como a ação do esconder, e esta - sob o batuque do “nada saber” – ganha uma nova roupagem, diferente do da candura. Distinta, no entanto, do argumento levantado pelos deputados federais, quando optaram pela absolvição de Jaqueline Roriz (PMN/DF). Também, pudera, o vídeo apresentado está datado de 2006. Bem antes da eleição de 2010 e da posse, em 2011.
Isso demonstra que os parlamentares preferem não julgar seus pares. Talvez por temerem, um dia, estar na berlinda. Pesa, assim, o corporativismo. O mesmo que se vê na dificuldade para se completar a lista de assinaturas necessárias para instalarem uma CPI. Comissão que também o governo costuma trabalhar por sua não criação.
Quadro comprometedor. Pois fortalece o patrimonialismo, sobre o qual se sustenta todo o processo de loteamento do Estado brasileiro. Loteamento transmitido pelo presidencialismo de coalizão. Daí o não prosseguir da faxina. Anunciada, mas logo esquecida, uma vez que aqui nada tem a ver com “a Roma antiga”, e, mesmo se assim fosse, será bem melhor esconder a sujeira para debaixo do tapete, sob o escudo da impunidade. Uma impunidade que faz do país um Estado desigual, pois no seu interior sempre existirá uma casta de “donos do poder”, os quais estão acima do bem e do mal.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
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