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Opinião
Sábado - 23 de Abril de 2022 às 07:42
Por: José Pedro Rodrigues Gonçalves

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Hoje quero falar de esperanças. Não aquela que significa ficar à espera de alguma coisa boa que possa acontecer, mas de esperança do verbo esperançar, o que significa dizer que não devemos ficar passivamente em uma espera. Esperançar é ir atrás, lutar com firmeza e dedicação para que os fatos que desejamos realmente aconteçam com a nossa participação.

É disso que se trata este texto onde pretendo colocar um pouco de luz sobre o que nos aguarda se ficarmos em uma passividade acomodada como se, no mundo e na nossa vida, tudo estivesse certo, tranquilo e perfeito. Entretanto, não é preciso fazer nenhum esforço para perceber onde nos metemos. Estamos mergulhados em um mundo de problemas criados e incentivados pelos próprios seres humanos.

Em vez de ameaçar alguém que pensa diferente de nós, percebamos, antes, que esse alguém pode, também, nos ameaçar como resposta à nossa ameaça

Muitos semeiam ódios, iras, violências, como se essas coisas pudessem construir alguma coisa positiva e útil. Do outro lado, uma grande parte da sociedade, talvez a maior parte, prostrada na passividade, apenas observa em silêncio o desenrolar dos fatos, e dos atos vis, produzidos pelos agentes contrários a uma sociedade de paz e de harmonia.

Aqui e ali, surgem manifestações, tanto em atos como em palavras, onde se observa a prevalência de um ódio gratuito e despropositado, que tem como fonte uma construção mental forjada no sectarismo político ideológico, de um extremo ao outro do espectro que demonstram essas manifestações do pensamento político nacional.

Algumas dessas manifestações foram paradigmáticas. Primeiro foi um Reitor de uma Universidade Federal, que em Governo passado, preconizava que a melhor forma de acabar com a direita, na visão dessa autoridade acadêmica (que tristeza de universidade) era um bom fuzil, bem municiado e um bom paredão. Nada mais explícito! Que solução!

Hoje, assistimos estarrecidos e perplexos, uma autoridade governamental responsável pelas verbas destinadas às manifestações culturais, propor solenemente que se utilizasse verbas da Lei Rouanet, pensadas para apoiar manifestações culturais enriquecedoras, para produzir filmes, vídeos, textos e artigos especificamente para divulgar e facilitar a aquisição de armas de fogo pela população. Dizia esse soldado de um novo estado islâmico tupiniquim que era para combater os crimes produzidos pelo Estado.

Deus do Céu? De onde saiu esse ser (ou seria um não-ser?) que consegue parir de um cérebro extremante perturbado uma aleivosia, palavra esta que vem do Gótico at-leweis, e significa “traidor”. Certamente é esta a palavra mais adequada para definir tais pessoas, como as citadas nos dois casos, um da esquerda outro da direita.

Estas manifestações dolorosas foram introduzidas aqui para contrapor ao que realmente devemos adotar em nossas ações cotidianas.

Em vez de ódio, o respeito e o amor segundo Humberto Maturana – aceitação do outro como legítimo outro na convivência. Conviver é ‘viver com’ outro, seja este outro quem quer que seja, independentemente da cor, da profissão, da opção de qualquer natureza.

Em vez de disseminar o ódio, a violência, cultivemos a PAZ em seu melhor sentido, aquele que significa sentimento de tranquilidade, de calma, ausência de rixas ou ameaças.

Em vez de ameaçar alguém que pensa diferente de nós, percebamos, antes, que esse alguém pode, também, nos ameaçar como resposta à nossa ameaça. E o conflito estará instalado e a paz almejada permanecerá na intenção.

Por que chegamos a uma situação como esta? Penso que isto não nasceu do dia para a noite; provavelmente foi uma construção lenta e progressiva, como uma doença crônica que, sem se manifestar, vai tomando posse do organismo de uma pessoa, em silêncio. No caso desta violência crescente, foi o corpo social, o tecido que compõe o sistema social, que foi sendo contaminado, rompendo e corrompendo os setores que, agregados, determinam uma sociedade estabelecida.

O que fazer? Eis um problema de difícil solução, não que elas não existam, mas essa dificuldade decorre de variáveis incontroláveis, já que não se deve intervir nas decisões de uma sociedade em um Estado Democrático de Direito. Entretanto, é necessário que se analise serenamente, sem paixões e tentando escapar das armadilhas ideológicas, o que realmente é importante para uma Nação e para seu povo.

Este desiderato, com alguma certeza, não faz parte do repertório de preocupações daqueles que decidem as coisas neste País chamado Brasil.

O que resta, então? A esperança! Não o substantivo feminino originado do verbo esperar, mas a do verbo esperançar: eu esperanço, nós esperançamos, que é uma manifestação de lutar para que os fatos que todos nós desejamos realmente aconteçam. E isso só depende de nós, em comunhão para que, não os meus desejos, mas as necessidades do nosso povo se tornem atendidas e o direito de todos respeitado.

Este ano teremos eleições gerais. É o momento ideal para realizar o que esperançamos, justiça social, respeito aos direitos de cada um. Eu disse direitos, não incluí aqui os abusos de uma falaciosa liberdade de expressão pretendida por alguns grupos de pressão como verdades absolutas. As verdades nunca são absolutas, mas o respeito são fundamentais e não contingentes, o que é necessário para garantir a harmonia social, sem a qual uma nação jamais se desenvolve. E desenvolver não é sinônimo de crescer, mas uma dimensão muito acima do crescimento puro e simples, já que pressupõe uma elevação nos níveis de civilidade e de progresso real. E isto que interessa a uma sociedade civilizada, não a barbárie institucional que se manifesta em discursos de ódio e na busca de armar o povo para um guerra contra esse mesmo povo.

É momento de pensar para não penar amanhã. Penar é sinônimo de sofrer, portanto pensemos, reflitamos para que consigamos evitar que este País chamado Brasil siga ladeira abaixo em sua trajetória histórica.

Desde menino ouço falar que o Brasil é o Pais do futuro, mas que futuro é este que nunca chega? Há alguma, coisa atravancando o nosso desenvolvimento e essa coisa se chama politicagem, uma atividade que margeia a fronteira da imoralidade, embora utilize com muita insistência uma palavra já desbotada de tanto mau uso que tem – ética.

A ética da política brasileira sofreu um deslizamento semântico e se aproxima daquilo que entrou na moda nos últimos tempos, a pós-verdade, nome eufemístico para o descaramento de alguns que mentem mais do que respiram.

Então esperancemos, pois! Com muita fé, determinação e devotamento, não a algum partido político, muito menos a líderes de araque, que manipulam, compram pagando caro os espaços na mídia para se tornarem celebridades fugazes. O nosso devotamento, a nossa determinação deve ser focada no resgate da decência do homem público, do parlamentar que não seja para lamentar, mas para nos orgulharmos de nosso voto. Será possível isso? Penso que sim, pois só depende de cada um de nós. Que não sejamos levados pelo canto das sereias que obrigou Ulisses a se amarrar no mastro do navio para não ser seduzido por elas.

Até porque não temos navios e nem somos argonautas em busca do Tosão de Ouro. Somos apenas seres humanos na esperança de dias melhores.

José Pedro Rodrigues Gonçalves é doutor em Ciências Humanas



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