LUIZ HENRIQUE LIMA
Rondon: o legado traído Enquanto se erguem estátuas, destroem-se as obras
De que adianta cultuar heróis se traímos o seu legado?
Enquanto se erguem estátuas, destroem-se as obras. Enquanto se colocam coroas de flores nos monumentos, pisoteia-se o que foi plantado. Enquanto se tecem discursos laudatórios, deturpa-se o sentido da mensagem.
Há diversos exemplos, mas hoje falarei do mato-grossense Rondon, o orgulho do Exército brasileiro.
Rondon, que de criança órfã em Mimoso atingiu o marechalato por decisão do Congresso nacional. Rondon, indicado ao Prêmio Nobel da Paz por Albert Einstein.
Rondon, cuja frase emblemática aprendi na cartilha do primário para nunca mais esquecer: “Morrer se preciso for; matar um índio, nunca”.
Que diria Rondon dos atuais dirigentes que estimulam a invasão das terras indígenas por garimpeiros, madeireiros, grileiros e toda espécie de antibrasileiros?
Que diria Rondon, idealizador do serviço de Proteção do Índio, ao ver sucateada a FUNAI, sua sucessora?
Que diria Rondon, que pugnou pela criação do Parque Nacional do Xingu, ao saber das propostas sorrateiras ou escancaradas de redução das áreas protegidas e unidades de conservação? Ou daquelas que pretendem a sua descaracterização com a exploração de atividades econômicas de elevado impacto ambiental?
Que diria Rondon, abolicionista e republicano, das perenes manifestações racistas e retrógradas que se sucedem diuturnamente e não por coincidência se traduzem em maiores taxas de homicídios cujas vítimas são jovens negros?
Que diria Rondon, desbravador, inovador, estudioso das descobertas científicas e entusiasta de sua aplicação para o desenvolvimento nacional, diante do negacionismo de autoridades que boicotam a vacinação, desprezam a cultura e asfixiam a pesquisa nas universidades e instituições públicas?
Que diria Rondon, militar exemplar, ao ver incensados alguns que conspurcaram a dignidade de suas fardas com a prática de torturas e de outros crimes contra os direitos humanos?
Rondon, brasileiro de origem humilde, reconhecido internacionalmente. Rondon, expoente da engenharia, admirado por antropólogos e cientistas sociais. Rondon, bandeirante da paz, que palmilhou nosso chão, desbravou rios e sertões, implantou infraestrutura de comunicações e transportes e cujas expedições propiciaram a evolução dos conhecimentos de cartografia, geografia, biologia, botânica e demais ciências da natureza. Rondon, humanista e humilde, o maior herói dos brasileiros e o mais brasileiro dos heróis.
Que a memória de Rondon seja respeitada! Basta de negar tudo o que Rondon representou! Basta de destruir tudo pelo qual ele lutou! Basta de trair o legado de sua vida!
Luiz Henrique Lima é professor e auditor substituto de conselheiro do TCE-MT.
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