Um planeta para todos Imagine e seja você a mudança que você quer ver no mundo
Pensei num Planeta para todos, desde uma rã minúscula que ainda habita as florestas tropicais, ao habitante de um povoado pequeno e ribeirinho que insiste em levar o seu modo de vida simples, pescando e plantando sua rocinha.
Pensei num planeta com respeito aos povos indígenas e aos índios isolados que repudiam o contato com a civilização ocidental. Civilização que chega com seus motosserras e tratores derrubando árvores centenárias, que chega com suas dragas de garimpo escarafunchando os rios e abrindo crateras no coração da floresta, sob o olhar perplexo dos habitantes originais do lugar que precisam fugir e se esconder na mata para não serem assassinados.
Neste Planeta para todos, as pessoas não seriam manipuladas por informações falsas e pelo uso de algoritmos que adestram e convertem as massas nas redes sociais e em outros meios de comunicação. Não seriam manipulados por informações que espalham a semente do ódio e manipulam os sentimentos das pessoas, a ponto de convencê-las a defender interesses contrários aos direitos humanos, contrárias ao desarmamento, contrários à convivência pacífica entre as religiões e pessoas de diferentes gêneros, cores e etnias, contrárias a paz e o amor verdadeiro tão falado pelas religiões e pouco praticado no dia a dia.
Num planeta para todos, com certeza, os meios de comunicação seriam democratizados, ao invés de monopolizados por grupos que possuem interesses escusos de dominação sociopolítica e a necessidade inconsequente de estimular um consumo voraz, como se este fosse uma nova religião e o shopping center a igreja.
Pensei num Planeta onde todos garotos e garotas, independentemente, de sua condição social, tivessem acesso gratuito à educação de qualidade, a escolas e espaços culturais que as ensinassem a pensar de forma crítica e independente, a ponto de adquirirem autonomia para construir um mundo sustentável, repleto de justiça, inclusão, equidade e cidadania. Um planeta onde todos pudessem se qualificar e adquirir competências para ter qualidade de vida e dignidade, bastando para alcançar este objetivo, que houve empenho pessoal. Um mundo verdadeiro de oportunidades, sem a falsa ideia da meritocracia afirmando que todos têm oportunidades iguais.
Pensei num Planeta que pudesse acolher com mãos generosas as pessoas com deficiência. Um planeta com ruas e espaço que priorizassem a acessibilidade, um planeta com seres humanos sem o olhar de menosprezo e espanto para crianças, adultos e idosos que jamais irão se inserir no mundo veloz e utilitarista da produtividade capitalista. Crianças, adultos e idosos que, mesmo possuindo limitações, sejam reconhecidos pelo que têm de especial. E sejam vistos como merecedores de ternura, atenção e a oportunidade de uma vida feliz e acolhedora.
Pensei num Planeta que respeitasse as águas e nunca lançasse esgotos e lixo nos córregos, rios e mares. Um planeta onde os peixes, as baleias e os animais marinhos não morressem empachados e sufocados pelos resíduos plásticos. Um planeta que não matasse as nascentes e cachoeiras com a invasão urbana e a agropecuária. Um planeta que respeitasse o mar e a água como a origem da vida.
Num Planeta para todos não teríamos 1% dos mais ricos (7 milhões de pessoas) com 82% de toda riqueza global gerada, num universo humano habitado por 7,6 bilhões de pessoas. Haveria mais solidariedade entre as nações, melhor distribuição de renda, menos capital especulativo. Mais investimento em geração de empregos de qualidade, mais investimentos sociais para melhoria global da qualidade de vida, com índices de desenvolvimento humanos reais. Não veríamos parte do continente que chamamos de Mãe África e outros lugares do mundo, sendo consumidas pela fome e a pobreza. Problemas que dizimam homens, mulheres e crianças, enquanto são gastos anualmente mais de dois trilhões de dólares com armamentos e a indústria da guerra.
Neste planeta não veríamos o lucro sendo colocado acima da saúde humana e da preservação ambiental, teríamos mais fontes limpas e renováveis de energia, não envenenaríamos os alimentos com agrotóxicos e transgênicos, estimularíamos a agrobiodiversidade e o consumo de alimentos produzidos pela agricultura orgânica, familiar e pela agrofloresta. Encontraríamos um modo de produção em grande escala justo e sustentável, capaz de substituir o atual modelo que ganha toda espécie de incentivos e isenções, mas deixa uma dívida ambiental e sanitária que é silenciada pela mídia. Uma dívida marcada por vítimas de câncer e outras doenças, contaminação das águas subterrâneas e mananciais, desmatamento e destruição ambiental de biomas, violência e desterritorialização de povos indígenas e tradicionais.
Em um Planeta para todos não condenaríamos as futuras gerações a conviverem com uma casa planetária destruída e contaminada pela ganância e inconsequência de uma minoria cega e surda. Constituída, ainda, por homens do poder, do mercado, dos bancos e produtores de commodities totalmente alheios aos alertas científicos, alheios às profecias dos xamãs, como “Queda do Céu” anunciada pelos Yanomamis. Alheios à agonia e extinção dos animais, ao fim dos modos tradicionais de vida, alheios às mudanças climáticas, ao aquecimento dos oceanos e à estranha mudança que vem ocorrendo no campo magnético da terra.
Em meio a tantos sinais, só uma consciência planetária de solidariedade humana e interrelação com a natureza, só uma revolução nascida no coração das novas gerações humanas transformadas pela educação, só um contraponto e uma mudança de valores no modo de vida individualista, imperialista, consumista e predatório atual, imposto à humanidade, poderiam conter a trajetória em direção a um futuro sombrio e catastrófico. Ainda há tempo de mudar a direção do barco e construir um Planeta baseado numa cultura de paz, solidariedade, igualdade, sustentabilidade, sabedoria e respeito, ainda há tempo de construir um Planeta para todos. Imagine e seja você a mudança que você quer ver no mundo!
Paulo Wagner é escritor, jornalista, ambientalista e mestre em Estudos de Linguagem e Literatura.
Comentários