Com calma tudo se resolve Tomar decisões a partir de visão turva, resultado em cadeia de reações compulsivas

Escrever este artigo trouxe-me um “replay” das palavras ditas por meu pai durante uma de nossas várias conversas:

“Na vida, precisamos ter calma. O desespero vem da inconsciência. A tranquilidade vem do céu. Se você está tranquilo, tudo fica bem e você pode ver o ponto certo.”

Não por acaso, quando se vê alguém em estado de tensão e aflição, o primeiro conselho costuma ser este: “Calma, respire, acalme-se e confie”.

Uma das ilusões mais comuns a toda gente é imaginar que há quem tenha uma vida perfeita, sem problemas. As dificuldades existem para toda a humanidade, sem exceção.

Nem as Grandes Almas de todos os tempos viveram sem problemas em um momento ou outro. Naturalmente, há uma enorme diferença de como os seres despertos olham para tais situações. A compreensão ampla de si, do mundo interior e da realidade exterior, permite uma abordagem lúcida e aproximação sem medo da coisa desafiadora. Certamente, eles não têm problemas com os problemas!

Abordar este tema reaviva alguns fatos da minha convivência com o sufi Kiran K. na Índia. Participava de um encontro com seus amigos em Pune e alguém lhe perguntou algo, que ele assim respondeu : “Quando a vida nos traz um problema, sempre traz junto a solução – é uma lei da vida.”

Fiquei totalmente surpreendida e maravilhada com tal revelação naquele luminoso dia, que mudou para sempre a maneira de eu enfrentar as tribulações, mesmo as mais complexas, que por vezes nos causam inúmeros desconfortos emocionais e dores profundas.

Isso não quer dizer se manter impassível quando algo faz a terra tremer debaixo de nossos pés, afinal somos seres vivos! Somos seres humanos comuns com reações mais ou menos semelhantes de um lado a outro do planeta.

Mudanças, dependendo de sua natureza, costumam mexer com as emoções, principalmente se não estiverem de acordo com os nossos desejos. A mente, com sua natureza insegura, dominadora e com medo do desconhecido, agita-se e tenta controlar o rumo dos acontecimentos (como se pudesse!). Então, o fluxo de pensamentos recorrentes avoluma e oscila de modo incessante entre o passado e o futuro. No passado, buscam-se velhas respostas, frutos de condicionamentos para uma condição nova. Projeta-se no futuro com ansiedade e medo do fato que acontece no agora.

Como foi mencionado anteriormente, a própria vida oferta a solução aos desafios que se apresentam em nossa existência, é um fenômeno da potência da vida. No entanto, há certas condições para se acessar essa dimensão além da mente e de suas turbulentas reações, que causam distúrbios dos mais diversos e adoecimentos em nível físico, mental e espiritual.

Aceitar, desde o primeiro momento, a situação do jeito que está é a chave mestra para tanto, conforme aprendi com meu amigo e Mestre espiritual. Ressalto que aceitação com compreensão não é conformismo, ao contrário, é oposto à passividade, trata-se de um ato de extrema coragem! Ao longo do tempo, ao aplicar esse ensinamento, comprovei essa verdade pela minha experiência, pelo meu próprio encontro com a vida.

Se houver aceitação, ou seja, ser capaz de olhar e reconhecer a realidade tal como é, sem escapismos e resistências, torna-se possível a conexão consigo e com o momento presente, o aqui e agora, de onde surge o criativo.

A mente aquieta-se, relaxa e interrompe-se a tormenta de pensamentos obsessivos que só causam confusão e transtornos. Tomar decisões a partir de uma visão turva, confusa e imediatista, resultado de uma cadeia de reações compulsivas, jamais será assertivo.

Ao parar, permanecer no agora, não reagir, não fazer nada, sentar-se consigo mesmo, sozinho, respirar devagar com consciência, tomar fôlego, acalmar a mente, observar (e não analisar) os vários ângulos da situação sem condenação ou busca de explicações, abre-se espaço para o entendimento de fato da questão conflitante.

Reporto-me a esta orientação de Kiran Kanakia (Kiranji):

“O ponto em que você se sente desconfortável com a vida é quando não a compreende”.

“Compreenda a causa de sua tensão, do problema e não busque a solução. Não busque a resposta de como ficar livre do problema. Sem compreender a causa, você pula para o remédio. Logo, esse remédio não vai solucionar o problema”.

Se houver compreensão, serenidade, paciência e discernimento, em conexão com o estado de paz e silêncio interior, a solução ofertada pelo fluxo da vida aos nossos desafios existenciais, desponta-se naturalmente, sem esforço.

Para encerrar este artigo, registro o que disse o Mestre espiritual indiano Sri Ramana Mararishi:

“Estar calmo é o maior patrimonio do mundo, é o maior poder que você pode ter, se você puder só aprender a ser calmo, resolverá todos os problemas".

E você, já aprendeu a aquietar a mente?

Namastê!

Benedita Enildes Corrêa é administradora, terapeuta corporal e orientadora de meditação e respiração consciente.