Histerectomia não é mais única solução para miomas
De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), hoje a histerectomia é a segunda cirurgia de médio e grande porte mais realizada em mulheres no mundo todo.
Dados do DataSUS mostram que a média nos últimos 10 anos (de 2011 a 2020) foi de 40 milhões de histerectomias totais em todo o Brasil apenas pelo Sistema Único de Saúde. O Ministério da Saúde estima que 300 mil delas são devido a miomas uterinos.
Os miomas uterinos ou fibromas uterinos acometem cerca de 50% da população feminina em algum momento de sua vida fértil. Estima-se que acomete em torno de 2 milhões de mulheres no Brasil por ano.
O mioma é um crescimento anormal de uma área da musculatura uterina formando geralmente uma tumoração com formato arredondado, composta exatamente pelo mesmo tecido do útero.
Eles são mais comuns na raça negra, tem como fator de risco a obesidade, hipertensão , gravidez, bebidas alcoólicas , menarca (primeira menstruação) precoce e histórico familiar.
Dentre seus sintomas mais comuns estão dor pélvica, dor na relação sexual, pressão em baixo ventre, aumento do volume abdominal, sangramentos anormais e irregulares e menstruação excessiva, sintomas urinários e intestinais.
Os miomas são classificados conforme sua localização em relação ao útero em miomas submucosos (que crescem para dentro da cavidade interna do útero); miomas subserosos (que crescem para fora do útero); e miomas intramurais (que podem crescer dentro da parede uterina).
Mas, existem certas localizações desses miomas que são de difícil abordagem. Alguns exigem muita destreza de quem o faz ou a paciente tem que se submeter a vários procedimentos para sua total retirada. No entanto, há muito tempo a remoção do útero não é a única possibilidade para quem sofre com o problema.
Os miomas uterinos são frequentemente encontrados acidentalmente durante um exame de ultrassonografia transvaginal de rotina. Além disso, podem ser reconhecidos durante o exame físico ginecológico pela palpação uterina.
Para tratá-los temos como opção medicamentos e cirurgias.
As medicações não tratam definitivamente o mioma, pois eles não desaparecem somente com medicações, mas são capazes de controlar bem os sintomas. São eles:
- Progestágenos de uso contínuo como dienogeste e o desogestrel;
- DIU hormonal
- Implante hormonal como o implanon;
- Anticoncepcional
- Antifibrinolíticos;
- Antinflamatórios;
- Orientação nutricional e reposição de ferro e vitaminas.
Também podemos tratá-los com cirurgias que preservem o útero, retirando somente o mioma (miomectomia) ou retirando junto com eles o próprio útero (histerectomia). Podemos usar medicação ( análogos do GnRH) para redução do volume do mioma, facilitando assim a cirurgia de retirada dos mesmos, preservando o útero e o futuro reprodutivo da paciente.
Ainda falando de tratamento, existe um procedimento cirúrgico, minimamente invasivo, que é a embolização dos miomas. Este procedimento é feito normalmente com anestesia local e sedação. Geralmente é realizado por radiologista intervencionista.
Em casos de miomas intramurais e submucosos sintomáticos, a ablação por radiofrequência tem se tornado uma alternativa importante a ser considerada. É uma opção altamente efetiva, já aprovada em inúmeros países europeus, Estados Unidos e no Brasil. Recentemente a ablação endometrial e ressecção de miomas submucosos é realizada com um instrumento especial inserido dentro do útero utilizando aquecimento, energia em micro-ondas.
A mulher ocupa cada dia papel de destaque na população produtiva no mundo inteiro. Isto faz que pensemos em técnicas menos invasivas para que possam retornar a sua atividade diária o mais precoce possível, isto sem falar na estética a cada dia mais valorizada. A preservação do útero é de suma importância para manter a função reprodutiva principalmente nas pacientes jovens portadoras de miomas.
Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, professora do HUJM, especialista em endometriose e infertilidade, integra a equipe multidisciplinar da Eladium e é filiada à Febrasgo.
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