Renúncia coletiva
Participei no último domingo (14) de uma entrevista com o prefeito de Várzea Grande, Tião da Zaeli, no programa Ponto de Vista, ancorado por Onofre Junior na TV Cuiabá, canal 47. Também participaram da entrevista o jornalista Bebeto Amador, do site Turma do Epa, e o presidente da Associação Comercial de Várzea Grande - Acivag, Adalton Tuim.
Compartilho com os que não assistiram à entrevista pontos que julgo importantes, em especial resposta do prefeito a questionamento que lhe fiz sobre a oportunidade de ele e Murilo Domingos renunciarem aos seus mandatos para, quem sabe assim, se restabelecer um mínimo de estabilidade e continuidade política e jurídica na segunda maior cidade de Mato Grosso.
A pergunta-desafio baseou-se em algumas constatações:
1) Tião da Zaeli reconheceu na entrevista que não tem base político-partidária de apoio para garantir sua governabilidade. Murilo também já o demonstrou não possuir. Zaeli contaria apenas com o apoio do empresariado, que, via de regra, não se envolve no dia a dia da administração e das relações de poder – ainda bem!
2) Tião da Zaeli reconheceu também não possuir maioria na Câmara, embora tenha dito que a relação está “normal”. Mas, esse é o problema: o normal da relação entre prefeitura e Câmara de Várzea Grande é algo que daria cadeia até no Paraguai.
3) Tião da Zaeli demonstrou – na entrevista e no dia a dia da sua curta experiência administrativa pública – que não tem grupo operacional para gerir a prefeitura, tendo sido obrigado a, por exemplo, centralizar 100% da ordenação de despesas, retirando essa atribuição de todos os seus secretários. A alegação é que “não vou colocar meu patrimônio em risco pelo que assinam os secretários”. Com esse tipo de desconfiança/insegurança, ninguém governa. Sobre isso, Tião diz apenas que “100% do segundo escalão, que é realmente quem toca a máquina, está comigo”.
4) Tião da Zaeli não tem tempo hábil para desenvolver nenhum projeto de fundo que possa alterar a realidade de Várzea Grande. Primeiro, porque pode sair do cargo a qualquer momento, uma vez que o afastamento do titular Murilo Domingos não é definitivo, e, dependendo do estado de humor do juiz ou desembargador que avaliar seu pedido de reconsideração, volta ao cargo imediatamente. Segundo, porque mesmo num cenário em que Tião da Zaeli termine o atual mandato, teria apenas um ano e quatro meses para desenvolver seu trabalho. Levando em conta que em 2012 o ano administrativo termina em junho, por causa das eleições, seu tempo de administração útil cairia para exíguos 10 meses.
A resposta de Tião foi lacônica: “Isso é um debate a ser feito. Mas, não sou covarde para renunciar”. O que demonstra que não tem essa intenção nem desprendimento para tal.
Insisto, todavia, que pelas razões essenciais acima expostas penso que Tião e Murilo teriam uma grande oportunidade de demonstrar ao povo e à sociedade várzea-grandenses seu altruísmo e compromisso públicos, renunciando de vez aos cargos, e permitindo que o presidente da Câmara assumisse o comando do município.
O troço complica quando percebemos que, nesse caso, quem assumiria seria Maninho de Barros. Daí fica difícil saber se este, mesmo com estabilidade política e jurídica, conseguiria fazer ao menos o que Murilo e Tião, alternadamente, têm feito pela cidade, uma vez que, segundo entendimento geral na raia política local, Maninho tem dificuldades para juntar lé com clé. Talvez o mais adequado seria a renúncia coletiva do prefeito, do vice e de todos os vereadores e suplentes, forçando a justiça eleitoral a convocar nova eleição geral em Várzea Grande para um mandato tampão, ou, na impossibilidade disso, que o governador do Estado nomeasse um interventor no município, como já pediu o deputado federal Wellington Fagundes (PR) – ainda o partido de Zaeli e Domingos.
Ou, para ser menos drástico, que Tião da Zaeli tomasse ao menos a iniciativa de propor um Pacto pela Salvação de Várzea Grande, procurando todos os agentes políticos, jurídicos, empresariais e civis da cidade, pedindo-lhes seu apoio. Em contrapartida, Tião formaria um governo de coalizão, dando garantias que não será candidato à reeleição. E isso se consumaria ficando sem filiação partidária de agora até dezembro de 2012.
Propus solução semelhante a essa ao ex-prefeito de Cuiabá, Wilson Santos, para que não fosse candidato ao governo, se desfiliasse do PDSB e formasse uma nova base de sustentação ao seu governo, incluindo PR, PR e PMDB. Os tucanos não deram bola e a história todos conhecemos, terminou em tragédia. Que Várzea Grande tenha melhor destino!
(*) KLEBER LIMA é jornalista, consultor de marketing e diretor do site HiperNoticias. E-mail: kleber@hipernoticias.com.br. Twitter: @kkleberlima.
Comentários