Repórter News - reporternews.com.br
Opinião
Sábado - 24 de Setembro de 2022 às 07:57
Por: Rosildo Barcellos

    Imprimir


Nestes tempos que atuo como operador de saúde e cursando especialização em gerontologia, percebo no exercício diário de minha atuação que no dia a dia que algumas atitudes levam os idosos para uma invisibilidade despercebida, praticada automaticamente por profissionais de várias áreas e pelos próprios familiares, evidentemente sem nehuma maldade intencional.

Mas para exemplificar dou como exemplo o seguinte: como inclusive até mesmo eu oriento, o idoso deve ir às consultas sempre acompanhado, e quando ele entra no consultório, o médico também sem perceber dirige todas as perguntas ao acompanhante e não ao idoso, como se o mesmo não fosse capaz de responder sobre si.

Esse ato concretiza o que tento falar, a retirada de autonomia, de direitos e a tão despercebida invisibilidade. E o familiar reproduz isso, responde pelo paciente, não dando a chance do próprio responder ou perguntar algo, afinal a consulta é para ele, ele que teria de colocar as questões que o aflige, salvo nos casos em que o idoso realmente não consegue fazer por conta de alguma patologia.

Outro local onde essa prática se repete frequentemente é nas enfermarias, cuja equipe multiprofissional, em visita beira leito, começa a falar do estado do paciente com ele ali no leito e não dirige a palavra para ele, falam dele e não com ele, como se ele fosse invisível.


Sei que de repente neste artigo posso ser criticado, não há problema, quero mesmo que se abra um debate no leitor se realmente seria este o melhor caminho.

Certamente nenhum destes atores fazem isso por mal, e sim por excesso de zelo e saem reproduzindo práticas que, sem perceberem, estão violentamente retirando a autonomia da pessoa idosa, com isso esquecendo o processo histórico, o longo e árduo caminho, a vida social, pessoal e profissional que esse idoso percorreu até agora, esquecendo que essa pessoa que hoje encontra-se envelhecida foi o ator principal de toda sua base, emocional, material, foi seu referencial de exemplo para sua existência.

Retirando cada vez mais as responsabilidades, com proibições, e imposições, não deixando o idoso participar das atividades rotineiras da casa, exemplos: ninguém pergunta ao idoso o que ele quer comer, o proíbe de realizar tarefas que passou anos desenvolvendo com destreza, proíbe de sair sozinho, não respeita o programa que ele gosta de assistir, a estação de rádio que gosta de ouvir, muda suas coisas sem ao menos pedir permissão, não dão atenção às suas histórias, essas são práticas que são reproduzidas inconscientemente.

Quando não chegam ao extremo de retirá-lo de seu habitat natural, de sua casa, de seu sítio e o levam para apartamentos, pensando na sua segurança, só que esquecendo-se de perguntar se era isso que ele queria.

O familiar faz o que é mais cômodo para ele, e não para o idoso, com esses pequenos gestos o idoso torna-se invisível dentro do próprio lar, isolando-se, ficando cada dia mais distante de todos e tudo, caindo em depressão e na fragilidade.

É importantíssimo prestar atenção nesses atos que praticamos sem refletir, e nas consequências que têm na vida do idoso e devemos sim cada dia mais incentivar a participação do idoso na rotina da casa, na direção de sua vida, evidenciar que ele é o protagonista de sua vida, ele tem algumas limitações, menos agilidade, mas com paciência, amor e incentivo, consegue desenvolver muitas tarefas.

Viabilizar sempre um bom suporte familiar, revezando entre todos, para que não sobrecarregue ninguém e todos os filhos participam de alguma forma.

Uma doença que tem nos preocupado é o o Alzheimer. Nesta quarta-feira, dia 21 inclusive, foi celebrado o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, criado pela Associação Internacional do Alzheimer.

No Brasil, a data marca o Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer, instituído para esclarecer os brasileiros sobre a importância da participação de familiares e amigos nos cuidados aos diagnosticados com a doença que faz referência a Alois Alzheimer (Marktbreit, 14 de junho de 1864 — Breslau, 19 de dezembro de 1915)que foi um psiquiatra e neuropatologista alemão conhecido sobretudo por ter sido o primeiro autor a reconhecer como entidade patognomônica distinta a doença neurodegenerativa que hoje tem o seu nome.

Quero registrar ainda que o Alzheimer não pode ser confundido com a demência senil: o cérebro envelhece, como todo o corpo envelhece. Alzheimer é a doença. Não é o envelhecimento natural do nosso cérebro.

Todavia a medicina ganhou importantes aliados para a detecção do Alzheimer, como um teste de imagem não invasivo, chamado PET Amiloide Florbetabeno (PET-CT com Florbetabeno-18F).

O exame é capaz de fazer a medição do volume de placas beta amiloides que, quando acumuladas, interferem no funcionamento das células cerebrais e são consideradas como digitais do Alzheimer pelos médicos.

O Alzheimer é uma doença sem cura A prevenção consiste em manter uma atividade física e mental ativa, ler muito, escrever, fazer palavras-cruzadas, quebra-cabeças.

Certamente quem ocupa o cérebro adia a doença. E por derradeiro, e sabedor das críticas que posso receber, eu afirmo: Idoso é um ser frágil, claro, seremos... mas não é um bibelô para ser esquecido na estante da vida. Infelizmente este fato me preocupa, mas um outro me preocupa muito mais.

Como seráo os nossos futuros idosos?

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alerta para níveis de aprendizagem alarmantemente baixos: estima-se que apenas um terço das crianças de 10 anos em todo o mundo seja capaz de ler e entender uma história simples.

Durante a Cúpula da Educação Transformadora, evento paralelo aos debates de alto nível da Assembleia Geral, o UNICEF apresenta a Learning Crisis Classroom na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, para chamar a atenção para a necessidade urgente de transformar os sistemas educacionais em todo o mundo.

Estamos nos encaminhando para obter baixos e alarmantes níveis de aprendizagem globais. Estima-se que apenas um terço dos meninos e meninas de 10 anos de idade em todo o mundo consegue ler e entender uma história simples. Antes da pandemia de COVID-19, metade dos meninos e meninas de 10 anos podiam ler e entender.

Certo é que a trajetória de nossos sistemas educacionais é, por definição, a trajetória de nosso futuro. Precisamos ler e entender. Precisamos reverter as tendências atuais ou enfrentar as consequências de não educar uma geração inteira. Hoje está reduzido o número de pessoas que lêem jornais impressos, que fazem palavras cruzadas, que conseguem boas notas em concursos e provas que tenham intelecção de texto e matemática, que são matérias básicas.

Baixos níveis de aprendizado hoje significam menos oportunidades amanhã e muito mais pessoas com Alzheimer.

Rosildo Barcellos é articulista.



Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/4805/visualizar/