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Opinião
Terça - 04 de Outubro de 2022 às 06:52
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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Pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Ipec, com o apoio da Uber, sobre a violência contra as mulheres, trouxe dados curiosos. No que diz respeito à violência doméstica é perceptível maior compreensão. Mas, quando se cuida das violências sexuais, principalmente fora de casa, o resultado é para refletir, se indignar, e enfrentar.

Quanto às importunações sexuais, 45% das mulheres relataram que já tiveram o corpo tocado sem o consentimento em local público. Mas, em contrapartida, apenas 5% dos homens admitem a prática criminosa.

No transporte público elas afirmam, 32%, já terem passado por importunação ou assédio sexual. Os homens, por sua vez, não reconhecem ter praticado esse tipo de delito.

Outro dado mostra que 41% das mulheres foram xingadas ou agredidas por verbalizarem “não”, quando uma pessoa se aproximou interessada nelas. E mais, 31% das mulheres afirmaram já terem sofrido tentativa ou abuso sexual.

Os crimes contra a dignidade sexual, pela pesquisa, fazendo a leitura do resultado, nos apresenta a situação de que, para alguns, o corpo da mulher é público. Sim, e se assim o é, pode ser tocado sem que elas façam qualquer reclamação a respeito. Tanto é essa a percepção, que os homens não admitem, ou aceitam em minoria a prática. Ou, o que é pior, acham que podem ou são “autorizados” a tocar no corpo feminino sem consentimento.

O estudo apurou, também, que as mulheres possuem mais condições de aferir que exercem situações de controle e práticas invasivas sobre o companheiro.

O que elas mais declaram fazer é olhar redes sociais dos parceiros, enquanto eles afirmaram que a maior toxicidade está na proibição do uso de roupas e acessórios por elas. E, assim, 34% das mulheres afirmaram que foram obrigadas a bloquear o contato após o fim do relacionamento, contra 25% deles. Elas, inclusive, 18%, mudaram o número de telefone, e eles 8%. Dentro do relacionamento, uma entre 4 mulheres declarou que sofre violência doméstica, sendo que um entre dez homens disse passar pela violência em casa.

As pessoas entrevistadas avaliaram de forma positiva a Lei Maria da Penha, apesar da visão crítica quanto à efetividade na berlinda. É dado que 89% das pessoas concordam que homens que agridem a parceira sabem que é crime e deve ser punido. O número lamentável é que 76% acham que a polícia e a justiça brasileira tratam a violência doméstica como assunto de somenos importância.

Porém, além da compreensão com a norma, 49% dos homens com mais de 60 anos e mais de 41% com ensino fundamental creem que a Lei Maria da Penha ‘interfere na relação íntima do casal’. Dizem, ademais, ser ela rigorosa demais, 38% dos homens com mais de 60 anos. O grave é que 16% dos homens moradores de cidades com municípios de até 50 mil habitantes entendem que a Lei Maria da Penha deveria ser “anulada”, pois bater na parceira pode ser errado, mas não deveria ser considerado crime.

O achar “comum” o desrespeito ao corpo feminino ainda é visível. Quanto à violência doméstica e familiar, existe, de forma lamentável, a concepção de que as brigas em casa se resumem ao lar, não sendo dever do Poder Público enfrentar. A grande importância de estudos como esse é vislumbrar que a violência não pode ser banalizada. É trazer para a realidade muito atual questões dantes raramente trazidas à tona.

A população brasileira, aos poucos, vem percebendo que essas práticas limitam e agridem mulheres, sendo necessário momentos de pensar na problemática para discussão.

Os 16 anos da Lei Maria da Penha, bem “vividos”, trouxe à lume o que acontecia e acontece em “lares”, onde sentimentos de afeto e posse se mesclam para a prática de crimes. Aliás, 93% reputa que é preciso intervir quando presenciam um homem agredindo uma mulher. Elas, 62%, entendem que é preciso recorrer à polícia, e eles citam que se deve interferir sem a ajuda policial diretamente.

O corpo fala, e, as pessoas se enxergam em pesquisas. E se fosse comigo? O fato de os homens entenderem que é preciso repelir a agressão sem acionar o Poder Público oferta elemento preocupante. Na verdade, assustador! Elas correm riscos, dentro e fora de casa...

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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