“Dust in the wind” Por que os regimes de força continuam sedutores?
“Poeira ao vento/tudo que somos é poeira a vento/Poeira ao vento/Tudo que somos é poeira ao vento”. Este são versos da canção do mesmo nome de Kerry Livgren.
Enfim, somos nada: poeira ao vento. Este é título do livro do mais recente do escritor cubano Leonardo Padurra, publicado no Brasil pela Editora Boi Tempo, cuja leitura eu demorei para concluir, como um dos efeitos colaterais da COVID.
O referido escritor é um dos maiores escritores da língua espanhola da atualidade. Ele é denso, profundo e um conhecedor da alma humana, do cotidiano e da realidade opressiva dos regimes de força, sobre os quais afirma: “Além disso, num lugar em que se praticava uma ideologia com princípios indiscutíveis, supra-humanos, cânones estabelecidos pela história, a opção de pensar muito não é saudável” (pag. 342).
Num ambiente como este, onde impera o medo e este devora a alma das pessoas, como afirma o autor. O que resta para as pessoas: curvar ou fugir. É neste estuário que desenrola o livro e os desdobramentos da vida das pessoas que se resume em: obediência, fugas, perseguições, ausências, dores e exílios.
Por que os regimes de força continuam sedutores? Eu acho que as pessoas não se formam e nem se informam devidamente sobre a história. A informação liberta o homem e a informação insuficiente ou a falta dela as escraviza, além de autoafirmações, carências psicológicas que afetam as pessoas e a sociedade.
E, neste mundo alienado, onde não se quer saber de muita coisa, prefere-se o superficial, atendo-se as manchetes e a se dar opinião sobre o que não se entende. Sendo este o ambiente fértil para que o radicalismo e fanatismo tome conta de tudo com suas soluções prontas e fáceis para assuntos complexos. Este é o atalho mais curto para o obscurantismo e o abismo.
O livro é um romance que se desdobra num ambiente opressivo, onde a liberdade é inexistente e as pessoas têm que se adaptar ao poder opressivo do Estado: aliando, opondo a ele de forma silenciosa ou se exilarem, o que é muito difícil e complicado. A marca deste mundo é demonstrada com habilidade e propriedade do autor que mora em Havana e conhece com profundidade o País, onde a liberdade é um bem escasso.
Neste momento da história, onde ressurgem antigas e perniciosas ideologias, a leitura será pertinente e esclarecedora, pois pode constituir um escudo contra as promessas ideológicos que prometem céu por decreto e como troco implantam cruéis e cruentas ditaduras.
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