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Opinião
Terça - 11 de Outubro de 2022 às 11:21
Por: Gabriel Novis Neves

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Além de preparar muito bem o meu almoço, cuida com paixão das minhas plantas, inclusive conversando com elas.

Arruma a casa, armários e uma vez por semana faz a faxina.

Diariamente faz a limpeza me mostrando no branco pano úmido a quantidade de poeira que acumula na parte externa das janelas, chamada de peitoril.

O meu edifício está cercado por várias construções civis de altos apartamentos, e antes das suas poeiras chegarem às nuvens, fazem um pouso no meu 20º andar.


Administra o apartamento, controlando com exclusividade o interfone que comunica com a portaria

Administra o apartamento, controlando com exclusividade o interfone que comunica com a portaria.

Hoje cedo veio o cobrador do Abrigo dos Cegos, do qual sou colaborador há mais de vinte anos sem marcar pelo telefone fixo, que é o dela, e eu não o atendo, e deu com os “burros n´água”, pois eu tinha saído.

Ela decidiu marcar para outra data.

Lava e passa as minhas roupas que são camisetas bem leves e folgadas e shorts azuis e pretos.

Conhece todos os funcionários e moradores do prédio, tem excelente relacionamento com eles, sempre com um sorriso nos lábios.

Certa ocasião, descendo o elevador, a senhora a reconheceu como minha funcionária.

Perguntou-lhe o nome e quando respondeu que era Márcia, a interlocutora lhe disse que esse nome não era de cozinheira!

Ela é o meu “braço amigo”, recomendado pelo Dr. Haruki para me ajudar na minha difícil locomoção pela artrose dos joelhos, sem dor e não indicação de colocação de próteses, complicando mais a minha disautonomia.

Cumpre religiosamente os horários dos meus medicamentos, não se esquece pela manhã da laranja lima cortada ao meio, sem caroços e gelada.

Após o almoço me conduz com o “braço amigo” até o meu quarto de dormir com ar refrigerado ligado, janela fechada com veneziana e vidro.

Espera eu escovar meus dentes antes de me deitar na cama, e pingar uma gota de um colírio lubrificante nos meus olhos só então voltando à copa para almoçar.

Quando termino a minha sonequinha pós-prandial, me serve uma xícara de chá de camomila.

Já está na hora de ser substituída pela enfermeira que me acompanha à noite.

A Márcia, que é a cozinheira em mimha casa, possui 50 anos e extenso currículo.

Já foi cozinheira na base de vigilantes de uma empresa privada, trabalhou como cuidadora de pessoas idosas, chapeleira de funerária, zeladora de edifícios, agência de viagens, faxineira horista.

Com este currículo, há mais de um ano cuida de mim, que espero ser para sempre.

Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT



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