O Caipira O marido era um caipira irremediável, mas muito rico. Pior que tinha até orgulho
O marido era um caipira irremediável, mas muito rico. Pior que tinha até orgulho de sua caipirice. No começo do casamento ela tentara dar-lhe algum verniz, pelo menos para não cometer grandes gafes na presença dos amigos.
“Sezinando.. Você vai sair de tênis de corrida?”
“Ué, se é bom pra correr, não vai servir para andar?”
À mesa ela vivia insistindo.
“É feio palitar os dentes Sezinando..”
Mas não adiantava. No dia seguinte estava de novo com o palito rolando de um lado para outro da boca. E dava risada.
“Se não é pra palitar, pra que fabricam palito?”
Um dia conheceram um casal que chegara na cidade há pouco tempo. Vinham da Inglaterra onde participavam de uma Ong que defendia o Anu-Preto que acreditavam ameaçado de extinção no Brasil.
A mulher do Sezinando, que era uma “nova-rica” achou a coisa mais chic participar de uma Ong e quis filiar-se a uma delas. Empolgada com a “cultura” dos novos conhecidos convidou-os para um jantar. Só depois pensou no marido. Mas já era tarde.
Em casa, começou a preparação:
“Olha, eu combinei uma saída com os vizinhos na quarta-feira... Toma cuidado ...Eles são muito finos, moraram dois anos na Europa. Vão ficar reparando”
“Então ocê vai eu fico. Não tenho muito saco pra aguentar essa gente fresca.”
“Pelo amor de Deus! Nem pensar, Você também vai.”
“Tá bão..”
No dia combinado encontraram-se no restaurante. A mulher do Sezinando estava muito tensa, preocupada com o comportamento do marido. Ele tranquilo chegou e foi entrando com passo decidido ignorando o maître que os recebia à porta. Foi aí que a mulher deu-lhe um beliscão nas costas e se adiantou enquanto ele retorcia disfarçando.
“Nós temos uma reserva”..
“Pois não, madame, acompanhem-me por favor.”
A conversa não deslanchava e como o garçom demorasse um pouco a atendê-los o Sezinando bateu no prato com o garfo e deu um sonoro psssiu.
A mulher ficou vermelha e remendou
“Não reparem ... meu marido é um incorrigível brincalhão”
Os convidados pediram um vinho caro, certo de que os anfitriões iam pagar a conta. Quando o garçom dirigiu-se ao Sezinando a mulher agitada antecipou-se e sugeriu apenas uma água Perrier...
“Água eu tomo em casa.. Eu quero um Chopss....”
“Toda vez que a gente vem aqui ele brinca assim” e para o garçom “Você está até acostumado não é? “
“ Claro, madame.....”
Quando o jantar ia ser servido a mulher lembrou-se de um antigo costume do marido, adquirido quando ele ainda era caminhoneiro, entrou em pânico. Precisava avisá-lo.
“Desculpem-me acho que esqueci o carro aberto.” E para o marido “Vamos lá comigo?”
E já fora do restaurante:
“Pelo amor de Deus, não limpe o prato e os talheres com o guardanapo”
Mas o tiro de misericórdia na mulher veio mesmo quando foram comer...O casal segurava afetadamente o garfo com a mão esquerda - eles tinham lido o Manual de Etiqueta da Glorinha Calil - quando o Sezinando disparou:
“Óia bem que coincidência.. Os dois são Canhotêro...”
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.
Comentários