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Opinião
Sexta - 04 de Novembro de 2022 às 07:27
Por: José Pedro Rodrigues Gonçalves

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De repente, o sol surge no horizonte para iluminar a neblina que se tornava trevas, mesmo no meio da tarde. Não foi tão de repente assim. Já se manifestava no desejo inconsciente de alguns, mas na consciência clara e induvidosa de muitos.

Havia um cheiro de enxofre no ar, que emergia dos palavrórios babosos de um certo personagem, cujo despudor assombrava os ouvidos desacostumados com tantas baboseiras. Palavras, palavrórios, palavrões, todos eivados de intencionalidades duvidosas, sempre ornadas de uma falsa epifania que confundia os menos desconfiados de tantas manifestações a um deus de fuzil na mão. Um deus que insistia em buscar uma certa liberdade a ferro e fogo, como se liberdade fosse a possibilidade de se fazer o que vier na telha (telha mesmo, pois nesses, o cérebro parece ser feito de argila), inclusive desencavaram da história um certo papa do Século XVII que defendia o uso de armas, além do Papa Pio XI que lutava contra o comunismo.

Pobreza intelectual! Seria como requentar a história sagrada para que Adão fizesse uma selfie com a serpente, tendo Eva ao seu lado.

Este é o Brasil que acorda da madorra presidencial e tenta se alongar para retesar sua musculatura e partir para o trabalho

Está chegando ao fim o tempo em que mentira era a doutrina oficial do governo e que mentir fazia parte da estratégia para governar enganando, ao tempo em que enganava os circunstantes usando pecaminosamente o nome de Deus.


A política foi transformada em seita e uma certa parte da seita tornou-se partido político que, em nome de um certo deus que desconheço, oferecia um lugar no feudo do Planalto Central para que os eleitos pudessem participar do convescote “sacrossanto”.

Este é o Brasil que acorda da madorra presidencial e tenta se alongar para retesar sua musculatura e partir para o trabalho, afinal. Sem motociatas, sem moto aquática, sem pornofonias, sem covardia com mulheres, sem homofobias ou racismos.

O povo que pensa, que sonha e que têm esperanças, após uma pandemia que matou perto de 690.000 brasileiros, aguarda comovido e esperançoso por dias melhores, onde o sol brilhe igualmente para todos, incluindo os meus parentes, meus vizinhos, meus amigos e que ninguém seja visto como inimigo. Um Brasil onde eu possa pensar diferente do meu próximo e que o fato de pensar diferente, acreditar em meus sonhos e usar a cor que eu aprecie e não um uniforme verde amarelo, não me transforme em inimigo de ninguém.

A racionalidade possa recuperar o seu estatuto epistemológico e as palavras possam ser interpretadas na sua melhor concepção; a música possa ser cantada sem receio de agressão de meu vizinho; que a minha poesia possa emocionar pela sua beleza e não pelo sua interpretação político-ideológica. Que a cultura seja livre e não seja obrigada a trafegar por corredores estreitos de uma concepção retrógrada e obscurantista, definida por apedeutas entronizados, não por sua capacidade intelectual, mas por sua subserviência a um mandatário preconceituoso e desprovido de conteúdo intelectual, moral e civilizatório.

Cada cargo e/ou encargo é dotado de uma sacralidade imanente, não por razões legais, mas obrigações morais por ser a representação simbólica do pensamento majoritário de uma sociedade civilizada. E quanto mais civilizada for a sociedade representada pelo cargo, maior deve ser a sua liturgia, palavra que tem origem no grego leitourgos, termo que servia para descrever alguém que fazia serviço público ou liderava uma cerimônia sagrada. Tão sagrado como o espaço físico de qualquer templo, o rito do cargo de uma autoridade também deve ser sagrado e consagrado à sociedade que o colocou nesse lugar, por isso exige-se respeito a quem o colocou nesse lugar sagrado.

As palavras denunciam quem as utilizam e exteriorizam o que traz dentro de si aquele que as profere. Assim, não há necessidade de um aprofundamento analítico na personalidade de quem emite palavrões ou agressões, que são violências não só a quem são dirigidos, mas também a própria língua que é violada em sua gramática e semântica. O que denuncia, não só ausência de princípios éticos, mas, e principalmente, desequilíbrio emocional e falta de compostura.

Bom dia, Brasil! Acorde, levante-se desse leito de Procusto, onde o enquadram como um doente portador de deficiência intelectual e querem amputar seus braços e pernas para conduzi-lo por caminhos escabrosos onde tentam definir os seus itinerários como se uma cegueira houvesse tomado conta de todos nós. As portas foram abertas e o sol ensaia seus primeiros raios iluminando seus caminhos, agora com carinhos de seu povo e desatando os nós que o sufocava.

Como na poesia de Thiago de Mello, “Faz escuro mas eu canto, porque a manhã vai chegar. Vem ver comigo, companheiro, a cor do mundo mudar”, as cores do Brasil que foram sequestrada por uma seita político-partidária retornam agora para todos os brasileiros, que são livres para usar a cor que bem quiser, aquela da qual mais gosta, sem se importar em ser chamado de comunista. Aliás, qualquer discordância, por qualquer motivo, o discordante é chamado de comunista, algo que revisita a ditadura militar, tentada ser revivida pelos saudosistas das torturas, das perseguições e desaparecimentos dos desobedientes de sua doutrina maldita.

A escuridão só percebida por quem tem a mente iluminada pelos desejos de paz, de concórdia e de união nacional, começa a se dissipar tão logo o grito de povo se fez ecoar nas urnas que amedrontavam os dissimulados senhores do mandonismo. Seus feitores, entronizados em lugares imerecidos, sub-repticiamente ensaiam passos em nova direção, levados pela brisa que começa a soprar por estas bandas. São como plumas que não tem direção própria, são guiadas pelas circunstâncias que melhor atendem seus desideratos obscuros.

Agora não é hora de vingança. Vingança é uma atitude dos incapazes de compreender os caminhos da sociedade. É chegado o momento da justiça, que, diferentemente da vingança, é um imperativo da sociedade e não de indivíduos ou de grupos de interesse. Sem justiça, prosperam-se as iniquidades, o tecido social se afrouxa e se desfazem os laços que unem as pessoas, emerge a anomia, espaço de conflagração dolosamente em preparação, consubstanciado na facilitação e distribuição de armas de todos os tipos, de pistolas a fuzis, que só servem para matar. A alegação de suposta defesa pessoal e da família, é a demonstração da assunção camuflada da barbárie, onde os mais fortes, belicamente falando, prevalecem.

O paradoxo dos chamados CACs , grupo que chega a 957,3 mil, enquanto número de policiais militares na ativa é de 406 mil, demonstra a intenção de se estar preparando algo mais próximo de uma guerra civil do que colecionar armas. Aliás, não é permitida a caça no Brasil, logo vem a pergunta: caçar o quê? Certamente não são os animais que não existem em São Paulo, por exemplo. Enquanto isso o até então respeitado e querido Exército Brasileiro, responsável pelo controle e fiscalização de armas e explosivos, assiste em silêncio a explosão de caixas de bancos com explosivos cuja origem todos sabemos, menos o exército.

Até que enfim, o sol está abrindo seus olhos para olhar para esta Pátria amada, e que o bom Deus, o de todos e não esse que vem sendo utilizado como espantalho de horta.

Por isso, Bom dia, Brasil!

José Pedro Rodrigues Gonçalves é doutor em Ciências Humanas



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