A rua grande Por sua avenida larga não encontramos mais charreteiros e leiteiros
Ela continua grande, porém com o nome de Rua XV de novembro, localizada no segundo distrito de Cuiabá. Era o antigo Porto Geral, depois distrito de São Gonçalo de Pedro II, hoje Bairro do Porto. Essa rua que também foi chamada de rua do Porto, tem como nome original Rua do Conde D´EU. Só mais tarde recebeu o nome de XV de novembro e, também o apelido de Rua Larga.
Os antigos moradores do Porto a chamavam de Rua Grande. O espaço compreendia da Travessa Senador Metello ou Beco do São Gonçalo, de um lado, e do outro, o Beco da Polícia, até a beira do rio, testemunhou Dunga Rodrigues.
Por sua avenida larga não encontramos mais os charreteiros, leiteiros, vendedores de água, verdureiros, vendedores de bucho, leite, lenha e mocotó. Essa turma aí está abrigada, em sua maioria, na feira do Porto, conhecido como campo do Bode.
Era do final da Rua XV de novembro, às margens do rio Cuiabá que, os carroceiros estacionavam os seus veículos movidos a cavalo para carregar as mercadoras dos navios que por ali ancoravam e distribuíam para o comércio local.
Dunga Rodrigues dizia que era por ali que que passavam os turcos mascastes com seus baús mágicos, onde havia de tudo: “ fitas, rendas, tecidos”. Era um baú feito de folhas de flandres que movimentavam os olhares femininos. Tinha até alfinetes de cabeça de pombinhas.
Nessa época conforme Dunga Rodrigues, o bondinho já funcionava e fazia o trajeto “ a curva na mangueira do Zé Antônio e contornava os cajazeiros do Arsenal de Guerra”, rumo a cidade. O terminal do Bonde localizava-se na travessa D. Bosco, esquina com a Rua 13 de Junho. O ônibus só veio mais tarde.
Era na Rua Grande que fervilhava a cultura cuiabana. Saraus, cinemas, circos, peças teatrais e, também as casas dos senhores comerciantes e políticos. Na casa do Cel. Virgílio Alves Corrêa rolava os saraus com o objetivo de angariar fundos para a construção da igreja São Gonçalo. As criançadas ficavam eufóricas com as comédias sem graça exibidas no cinema local.
Por ali também, a população se deliciava com os biscoitos e francisquitos de dona Bila e dona Minga. Por ali também, as mulheres já exibiam os seus dotes artísticos, cantavam, tocavam piano e compunham música, além das representações teatrais. Ali também se encontravam um jovem que desenhou o altar da Imaculada Conceição da Igreja S. Gonçalo, mais tarde se tornou engenheiro – Nicola Corrêa Bussiki.
Essa Rua Grande se perdeu ao longo do tempo. O urbanismo consumiu a sua beleza escondidas por trás dos moradores e dos casarios alegres e imponentes. Só encontramos um amontoado de comércio e um amontoado de carros sem paciência que, não permite o apreciar de um local onde fervilhou vida, literatura, música, teatro, culinária, moda e gente que o tempo consumiu.
Neila Barreto é jornalista, mestre em História e membro da AML.
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